Nos últimos anos, o mercado brasileiro amadureceu em torno de dois modelos de inovação: o venture capital, que injeta capital em negócios existentes com potencial de escala, e o venture building, que cria empresas do zero, compartilhando riscos e gestão com fundadores. Agora, um terceiro modelo desponta como resposta às demandas de corporações e investidores que buscam pragmatismo, velocidade e resultados mensuráveis: o venture service.
Esse modelo combina a lógica de criação de startups com a previsibilidade de contratos de serviços. Diferente de fundos, aceleradoras ou builders, funciona como um sócio prestador de serviço: entra no processo de ideação, constrói o negócio, estrutura a operação e, em muitos casos, segue operando até que a startup esteja pronta para escalar sozinha. Na prática, significa que empresas e investidores podem lançar novos negócios em ciclos curtos, com prazos de entrega definidos e métricas claras de performance. O objetivo não é apenas apoiar a fundação de startups, mas garantir que elas nasçam com governança, tecnologia e estratégia de saída desenhadas desde o início.
O Brasil vive hoje um cenário em que a janela de IPOs permanece praticamente fechada, enquanto os M&As abaixo de R$ 200 milhões representam 98% das operações, segundo a KPMG. Esse contexto exige novos modelos capazes de capturar valor sem depender de rodadas infinitas ou de unicórnios improváveis. O venture service aparece justamente como essa resposta. Mais do que acelerar a criação de startups, ele permite que empresas e investidores comprem produtividade, velocidade e governança desde o primeiro dia. Em alguns casos, o resultado pode ser um early exit; em outros, pode ser a construção de negócios mais rentáveis em dividendos ou preparados para sinergias corporativas. O ponto central é que o modelo reduz o tempo até a captura de valor — seja via aquisições estratégicas, seja via geração recorrente de caixa —, oferecendo aos investidores e parceiros maior previsibilidade de retorno e mais alternativas de liquidez no médio prazo.
A principal força do modelo está em unir a disciplina operacional de uma startup com a previsibilidade contratual de um serviço. Cada contrato estabelece entregas claras, como desenvolvimento de produto, arquitetura tecnológica, validação de mercado, estruturação financeira e operação inicial. Essa abordagem reduz riscos de execução e evita a armadilha de projetos que ficam presos em relatórios ou em ideias sem tração. O venture service garante que cada nova empresa já nasça com arquitetura tecnológica escalável, preparada para suportar crescimento acelerado, e com governança financeira e operacional que reduz falhas comuns em negócios jovens. Mais do que isso, cada startup criada por meio desse modelo já traz embutida uma estratégia de M&A, sendo desenhada para ser atrativa a potenciais compradores desde o primeiro dia.
Esse movimento conecta-se a uma transformação mais ampla do ecossistema. O próximo ciclo de inovação no Brasil tende a ser menos marcado por unicórnios e mais por startups enxutas, funcionais e rentáveis. O venture service traduz essa virada ao criar empresas de alto impacto, mas sustentadas por uma lógica de execução realista e totalmente alinhada às dinâmicas do mercado de fusões e aquisições. É por isso que fintechs, healthtechs e empresas de serviços já começam a adotar esse modelo, enxergando nele uma forma de acelerar novos negócios sem sobrecarregar suas estruturas internas. Em vez de criar laboratórios de inovação que consomem recursos sem resultado, apostam em parceiros capazes de tirar do papel ideias com prazo, produto e operação definidos.
O Brasil não precisa de mais ideias promissoras. Precisa de startups que funcionem, escalem e que gerem valor no tempo. O venture service surge como um caminho para transformar inovação em ativos reais, com ROI mensurável e ciclos mais curtos.
*Renan Georges é Fundador e CEO da Zavii Venture Builder