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Laranja Mecânica: versão Trump

Se em 2016 Trump já havia feito o mundo financeiro tremer com sua abordagem "America First", agora, em 2025, ele retorna como o maestro de uma ópera

Foto: Colagem BP Money
Foto: Colagem BP Money

Com YMCA ecoando ao fundo e uma mugshot mais séria que o CEO da Agrogalaxy em reunião de conselho, Donald Trump retorna à presidência dos Estados Unidos como o Alex DeLarge do cenário geopolítico mundial. Impulsivo, implacável, controverso e, claro, com um talento inato para agitar mercados. 

Se em 2016 Trump já havia feito o mundo financeiro tremer com sua abordagem “America First”, agora, em 2025, ele retorna como o maestro de uma ópera ainda mais caótica. Seu impacto pode ressoar com força no Brasil, que observa as movimentações à distância com um binóculo chinês, totalmente em silêncio, torcendo para não ser notado. 

Preparemo-nos para redefinir fluxos comerciais, taxas de câmbio e até o preço do cafezinho diário. 

O leite-mais e a economia mundial 

No filme de Stanley Kubrick, Alex e sua gangue começam suas noites regadas a “moloko-plus”, uma receita de leite advinda dos melhores chefs da cracolândia, preparada para turbinar suas aventuras. No cenário econômico atual, o “leite” de Trump é sua política protecionista e os subsídios aos agricultores americanos, que inundam o mercado global com produtos mais baratos. Para o Brasil – maior exportador de soja do mundo – isso é como ser expulso do seu próprio bar. 

Se a política de Trump levar a uma nova onda de barreiras comerciais, as exportações brasileiras podem sofrer um golpe seco. Pior: a disputa pode reduzir os preços das commodities agrícolas, pressionando ainda mais os lucros do agronegócio, que é o motor econômico do país. 

Ultraviolência Cambial 

Em Laranja Mecânica, Alex encontra resistência ao seu comportamento errático, mas segue causando destruição por onde passa. Nos mercados financeiros, Trump é um agente tão imprevisível quanto Alex, e suas ações podem desencadear uma verdadeira violência cambial. 

A promessa de estímulos fiscais agressivos e cortes de impostos nos Estados Unidos pode levar o dólar a se fortalecer ainda mais no cenário global. Para o Brasil, isso significa um real mais fraco, com efeitos em cascata: aumento da inflação, encarecimento de importados e uma dívida pública ainda mais sufocada, já que parte dela é atrelada à moeda americana. 

Todo mundo sabe que o Banco Central faz aniversário em 31 de dezembro, ou seja, uma entidade capricorniana super disciplinada e realista que, segundo astrólogos do meu bairro, buscará novos CNAEs para focar em leilões de dólares e casas de apostas a partir de fevereiro. 

A Terapia Ludovico do Comércio Global 

No filme, Alex passa por um tratamento extremo e experimental para conter seus impulsos violentos, o que nos lembra muito as dezenas de investigações e condenações de Trump no período entre eleições. Agora é a vez do Brasil passar pela terapia Ludovico, tentando se adaptar às mudanças globais impostas pela nova (velha) ordem americana. 

Se Trump decidir revisitar sua guerra comercial com a China, o Brasil pode, em um primeiro momento, comemorar o aumento da demanda chinesa por soja e carne. Mas é bom lembrar: quando dois gigantes brigam, os pequenos sempre sofrem. Qualquer desaceleração no crescimento global ou uma nova crise pode transformar esse ganho inicial em mais um pesadelo econômico. 

O Fim da Sinfonia 

No final de Laranja Mecânica, Alex encontra um jeito de ajustar o sistema e volta ao seu estado natural, desafiando o status quo. Trump, ao que parece, segue a mesma lógica: imprevisível, disruptivo e sempre disposto a quebrar paradigmas para alcançar seus objetivos. 

Para o Brasil, a mensagem é clara: prepare-se para uma montanha-russa econômica. Reforçar reservas cambiais, diversificar mercados de exportação (principalmente petróleo) e buscar maior integração com outros blocos comerciais podem ser as únicas maneiras de sobreviver ao caos orquestrado pela “Laranja Mecânica” global. 

E se tudo der errado, lembre-se: tem leite na geladeira. 

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