Cenário vigoroso

O mercado de M&A no Brasil, as oportunidades e incertezas na conjuntura atual

A movimentação de grandes empresas neste primeiro semestre de 2025 reforça esse dinamismo

Foto: freepik
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Apesar das turbulências econômicas internas e externas, o Brasil mantém uma tradição ativa no campo das fusões e aquisições (M&A). Os dados de 2024 revelam um cenário vigoroso: mais de 2.500 transações movimentaram cerca de R$280 bilhões. Ainda que esse volume esteja aquém do recorde histórico registrado em 2021, ele sinaliza uma capacidade de adaptação do setor diante de um ambiente mais restritivo, marcado por juros elevados, inflação persistente e instabilidade geopolítica.

A movimentação de grandes empresas neste primeiro semestre de 2025 reforça esse dinamismo. Mesmo com a Selic em 15% e a inflação acumulada em 5,42%, fusões como a da Cobasi e Petz, além de negociações entre startups como Gupy e Gringo, indicam que as companhias continuam vendo no M&A uma alavanca estratégica para crescer, reduzir custos e ganhar robustez operacional. 

Ou seja, oportunidades existem e o mercado não está de antolhos, mas essas decisões ocorrem em um momento em que o capital está mais caro, o que torna cada transação ainda mais criteriosa. 

No entanto, o recuo de 6% nas operações do primeiro trimestre revela que o ímpeto por negócios não está imune à conjuntura global. Conflitos no exterior, políticas protecionistas dos Estados Unidos e a desvalorização de ativos locais tornaram os investidores mais cautelosos. Em vez da euforia dos anos anteriores, o mercado adota agora uma postura mais seletiva. O capital estrangeiro, que representa mais de 40% das transações este ano, volta a ter protagonismo, atraído por setores resilientes como tecnologia, saúde e infraestrutura.

Essa mudança de perfil do investidor e das operações é reflexo de um amadurecimento do mercado. Se antes havia maior disposição para trocas acionárias, hoje, 80% das operações são fechadas com pagamento em dinheiro, em razão da desvalorização das ações. O movimento indica que empresas e investidores priorizam liquidez, previsibilidade e controle diante de um cenário volátil. Setores com menor exposição ao ciclo econômico, como tecnologia e energia, despontam como os preferidos.

Ainda assim, há espaço para um otimismo moderado no  segundo semestre para os M&A. Caso haja uma desaceleração da inflação e uma maior previsibilidade sobre a política monetária, é possível que operações que estavam congeladas voltem a andar. Mais do que volume, o mercado busca qualidade nos negócios — e isso exige planejamento de longo prazo, gestão de riscos e modelagens mais sofisticadas. A estabilidade econômica, ainda que parcial, é vista como um catalisador importante para o avanço de negociações em curso.

Olhando para 2026, no entanto, a perspectiva ainda é turva. Com as eleições presidenciais no horizonte, há o risco de um novo congelamento estratégico por parte dos investidores, sobretudo estrangeiros. Sabidamente, a condução da política econômica e o comportamento fiscal do governo serão determinantes para o ritmo das transações. Em meio à imprevisibilidade, o mercado brasileiro de M&A mostra que existem oportunidades que não estão passando despercebidas, mas dependerá da consistência institucional para continuar atraindo capital.