Em um mercado financeiro não tão distante, onde ações e cifras dançam uma valsa silenciosa, o Ibovespa — nosso Corleone com asma — enfrenta um ano digno de roteiro cinematográfico.
Apesar da incrível sinopse e da belíssima atuação como ator coadjuvante, espera-se, neste ano, o Oscar de melhor roteiro adaptado, manufaturado em “cobre”, por dois grandes motivos:
- O ouro já acumula 30% de valorização em 2024, e Minas Gerais está ocupada com criadores de conteúdo no TikTok.
- O termo “cobre” (presente do subjuntivo) remete à conjugação verbal praticada pelos acionistas que, desde o início do ano, assistiram com óculos 3D a uma queda acumulada de aproximadamente 10% do índice.
Vale lembrar que, em janeiro, vislumbrávamos um nascer do sol dourado, permeando nuvens rosadas que fundiam-se num céu azul bebê, até que, do nada, chegou a tempestade.
O primeiro vilão foi da própria família Corleone. A famosa máfia americana (S.A.).
Sabe-se que a bilionária fraude no varejo já havia causado um belo estrago no cenário econômico, mas o pior não era a fraude, o pior era a resposta à fraude.
Até onde a história alcança, e de forma bem enxuta, já passamos um ano do evento e quase nada aconteceu com os envolvidos (exceto multas que rivalizam com minhas despesas no Detran).
Crime: Insegurança jurídica.
O segundo vilão, mais uma vez, nasceu da própria família. O pacote fiscal.
A versão final apresentada ao Congresso é mais frouxa que cueca de idoso.
O texto sofreu cortes significativos. O cumprimento depende do alinhamento do Sol com a Lua e, ainda assim, promete 70 bilhões nos próximos dois anos.
Importante ressaltar o trabalho exemplar do nosso honroso Congresso, portador da espada da verdade, que brada aos sete cantos a necessidade de uma redução nas despesas do Executivo… exceto quando alcança o bolso gordo das emendas do relator (eu chamaria de orçamento secreto, mas sou covarde).
Crime: Insegurança institucional.
O terceiro vilão veio de fora: o dólar americano.
Do outro lado do hemisfério, os Estados Unidos decidiram cortar pela terceira vez seguida a taxa de juros.
Na teoria, o capital estrangeiro deveria apostar um golinho a mais em mercados emergentes (como o Brasil), mas não, rasgaram os livros de economia.
O que estamos assistindo é uma fuga desenfreada de dólares para o exterior.
O brasileiro não come dólar, mas come pão. Pão é trigo e trigo é dólar. Não Renato, no céu não tem pão.
Crime: Inflação.
Porém, ainda temos alguns heróis nessa narrativa cansada.
A maioria deles me parece com o Leonardo em “Memórias de um Sargento de Milícias”. Aquele típico anti-herói que contribui para a solução, mas que também adora criar problemas.
Herói barroco: Banco Central.
Subir os juros é remédio para a inflação.
Subir os juros força o governo a gastar menos.
Subir os juros aumenta a dívida do governo, que você quer que gaste menos. What?!
O perfil dos títulos públicos do Tesouro está migrando em velocidade de cruzeiro para pós-fixados (já que o mercado está cego de um olho). A cada 1% a mais na taxa Selic, assistimos o governo ampliar sua dívida em 32 bilhões de reais. Incoerente?
Herói confuso: Emprego.
Menor taxa de desemprego da história!
Povo trabalhando, gerando renda, movimentando o PIB (excelente resultado, diga-se de passagem).
Povo gastando mais, apostando mais (tigrinho alterofilista).
Mas “pera aí”… Se a oferta não crescer no mesmo ritmo, esses empregos não vão aumentar a inflação?! Então é ruim pro BC ter tanto emprego? To confuso.
Em resumo, Don Corleone está inchado de chocotone e retendo líquido desde que fez a bariátrica.
Lembre-se de olhar para o espelho hoje e deixar uma reflexão.
Encerremos o assunto.