Em um ambiente corporativo cheio de modismos e, muitas vezes, movido mais por iniciativas marqueteiras do que por ações práticas relevantes, a mudança de ‘Open Banking’ para ‘Open Finance’, oficializada no início de abril pelo Banco Central, pode parecer apenas mais um desses lances midiáticos sem maiores implicações. Apesar disso, os observadores que acompanham mais atentamente este processo conseguem vislumbrar que, neste caso, o que está acontecendo é muito mais do que uma simples troca de sinônimos e sim uma evolução de conceitos que carrega em si um potencial de crescimento significativo.
Na prática, como explica o próprio BC em comunicado emitido ao mercado, ao escolher o Finance em substituição ao Banking, o sistema financeiro brasileiro está avançando de uma iniciativa puramente voltada para dados e serviços oferecidos nos sistemas bancários tradicionais para desenvolver uma estratégia mais ampla, que visa abranger dados sobre outros serviços financeiros como de credenciamento, câmbio, investimentos, seguros e previdência, entre outros.
A mudança vai na direção apresentada pelo estudo “Open Banking Market by Financial Services and Distribution Channel: análise de oportunidades globais e previsão do setor, 2019–2026”, divulgado recentemente pela Allied Market Research. Segundo a instituição, o setor global de open banking gerou US$ 7,29 bilhões em 2018 e deve atingir US$ 43,15 bilhões até 2026, o que representará um crescimento médio anual de 24,4% no período.
Para isso, os especialistas responsáveis pelo trabalho afirmam que é necessário justamente regulamentações governamentais de suporte, maior envolvimento geral do cliente com a ajuda de APIs e o aumento na adoção de novos aplicativos e serviços.
Neste sentido, a Resolução Conjunta nº 1, de 2020 do BC e do Conselho Monetário Nacional (CMN) teve o mérito, por exemplo, de atualizar o tratamento regulatório para essa nova nomenclatura fazendo com que a mesma possa refletir as interlocuções aprofundadas com o Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) e com a Superintendência de Seguros Privados (Susep). Esta iniciativa visa uma futura interoperabilidade entre participantes do Open Finance e do Open Insurance.
Porém, o segmento de pagamentos deverá estar na vanguarda desta evolução. O estudo da Allied Market Research, por exemplo, reforça essa tendência afirmando que esta funcionalidade apresentará o maior ritmo anual de crescimento, com 27,3% ano a ano até 2026.
A prática parece também confirmar esta expectativa já que há quem considere o modelo de Iniciador de Transação de Pagamento (ITP) como um primeiro degrau para chegar ao topo do Open Finance.
O ITP permite à empresa criar uma jornada de pagamento mais simples para seu cliente, pois dá ao pagador a possibilidade de selecionar uma instituição já habilitada e ser direcionado para a mesma, finalizando a transação no ambiente do banco onde possui conta.
Resumindo, os iniciadores de pagamento permitirão, por exemplo, o início das transferências e pagamentos para os clientes sem a necessidade de abrir o app do banco para fazer um Pix. Essa inovação cria a oportunidade de uma convergência direta entre os produtos bancários, de seguros e de investimentos, por exemplo, e o Pix, o que agrega a esta estrutura um potencial significativo de popularização das estratégias de Open Finance.
Não por acaso, a primeira licença para a operação de um ITP surgiu logo na sequência da resolução do BC que oficializou o Open Finance e foi dada para um dos maiores bancos do país.
Claro que este foi só o começo e que seus concorrentes, tanto os tradicionais quanto as fintechs, insurtechs e todas as demais techs virão na sequência com propostas que, no fundo tornarão os serviços financeiros mais práticos, democráticos, acessíveis e econômicos para todos.
Renato Aragon é Associate Director da Xsfera