A disputa por protagonismo global deixou de se travar apenas com tarifas, cadeias produtivas e PIB. No cenário pós-pandêmico, em que crises geopolíticas se somam à corrida tecnológica, o elemento que realmente distingue os países competitivos dos que ficam para trás é a infraestrutura digital. O relatório IMD World Competitiveness Booklet 2025 escancara essa nova lógica: nações que priorizaram conectividade, computação em nuvem, cibersegurança e inteligência artificial avançam, enquanto aquelas presas a modelos analógicos perdem fôlego.
Mais do que acesso à tecnologia, trata-se de maturidade institucional para promovê-la com estratégia. O que o relatório evidencia é que a competitividade, hoje, não depende apenas de inovação, mas da capacidade de integrá-la a um ecossistema de políticas públicas, marcos regulatórios e cultura empreendedora. Países que criaram hubs de inovação com trânsito fluido entre universidades, capital de risco e setor privado colheram frutos desproporcionais — um exemplo de que desenvolvimento é cada vez mais rede, e menos linha reta.
Chama a atenção o destaque dado às nações de médio e pequeno porte que apostaram em especialização e agilidade regulatória. Ao abrirem espaço para testes de tecnologias emergentes, com estruturas flexíveis e ambientes seguros para experimentação, elas não apenas atraíram inovação, mas redefiniram o conceito de influência tecnológica. Não se trata mais de quem produz mais, mas de quem regula melhor — e de quem cria o contexto mais fértil para o inédito.
Há também uma mudança profunda no que entendemos por risco. Na lógica analógica, o risco estava no investimento. No cenário digital, o maior risco é a estagnação. Países que resistem à integração tecnológica por medo de instabilidade ou perda de controle regulatório perdem mais do que segurança: perdem tempo, talentos e relevância geopolítica. O relatório mostra que ousar, com inteligência, tornou-se condição de sobrevivência.
Esse novo paradigma impõe desafios especialmente duros para economias emergentes, que ainda lidam com desigualdade estrutural e baixa digitalização. Mas também abre uma janela rara: a de construir nichos competitivos altamente lucrativos sem depender de escala. A vantagem digital, ao contrário da industrial, é mais acessível — desde que se invista com critério, visão de longo prazo e articulação público-privada.
No fim, a mensagem do relatório é clara: a competitividade não é mais uma corrida de produção, mas uma disputa por inteligência institucional. Quem lê isso como alerta ganha tempo. Quem ignora, corre o risco de virar espectador num mundo que se move em tempo real.
*Fernando Nery é CEO e fundador da Portão 3 (P3), plataforma de gestão de pagamentos usada por mais de 4.000 empresas na América Latina.