Não é de hoje que a gestão financeira ocupa espaço fundamental na trajetória de qualquer empresa que queira crescer de forma sustentável, principalmente em um país com desafios tão particulares como o Brasil. Ainda assim, percebo em conversas diárias com empreendedores de pequenas e médias empresas que esse processo é visto, na maioria das vezes, apenas como obrigação operacional, não como motor de crescimento.
O “Panorama da Gestão de Despesas Corporativas no Brasil”, realizado pela Conta Simples em parceria com a Visa, mostra que 100% das empresas não sabem definir corretamente o conceito de “gestão de despesas”. Muitas acham que se trata apenas de cortar custos ou preencher várias planilhas, quando, na verdade, envolve organização, controle e decisões inteligentes — orientadas por dados.
Essa dificuldade em lidar com um conceito tão básico tem uma raiz cultural profunda. Falar sobre dinheiro ainda é um desafio para muitos — assunto que gera desconforto e que, por via de regra, evitamos. Esse comportamento cria um tabu que transborda para dentro das empresas, onde assume uma nova forma: a ineficiência. Afinal, todo mundo quer falar de sucesso e alta performance. Mas quem tem a coragem de assumir a falta dela?
É esse receio que leva a uma mentalidade, muito mais voltada para o famoso “não deixar a peteca cair” do que para a abertura de oportunidades inovadoras, limitando as empresas ao modo de sobrevivência.
Muitos gestores se apegam a processos manuais e planilhas desatualizadas, acreditando que “sempre foi feito assim” e que uma mudança seria arriscada ou complexa demais. O levantamento também mostra que quase 40% das PMEs ainda dependem desses métodos para controlar seus gastos. O resultado é uma rotina operacional desgastante, que aprisiona profissionais qualificados em tarefas repetitivas e rouba o foco do que realmente importa: a estratégia.
Ao mesmo tempo, enquanto áreas como vendas e marketing já foram revolucionadas por plataformas de automação e análise, o setor financeiro de muitas empresas ficou para trás, dependendo de soluções genéricas que não atendem às suas necessidades. Isso não gera apenas perda de tempo e erros, mas um prejuízo silencioso que mina a lucratividade dia após dia.
Além dos cortes de custos
Uma gestão de despesas eficiente não envolve só cortar custos, mas sim criar processos que tragam clareza, agilidade e autonomia para os times. É sobre transformar dados brutos em decisões assertivas, alocando recursos nos lugares certos e eliminando tarefas ineficientes da rotina.
Mais do que digitalizar operações por digitalizar, a verdadeira transformação acontece quando a tecnologia se torna a ferramenta para quebrar esse tabu, ajudando a gerar controle, organização e inteligência. É a diferença entre ter um mapa e ter um GPS.
Com a solução certa e que olha para as demandas específicas da empresa, é possível saber exatamente onde cada centavo está sendo investido e qual retorno ele trará. O próprio Panorama indica que a adoção de determinadas plataformas de gestão de despesas de alta performance pode reduzir em até nove horas por semana o tempo gasto com essa função.
É justamente esse tempo, antes consumido por burocracia, que volta para o negócio em forma de inovação e estratégia. A saudabilidade financeira é a base da competitividade e, no cenário atual, a vantagem não pertence mais a quem tem apenas a melhor ideia, mas a quem executa com mais inteligência — e isso começa, invariavelmente, no controle das despesas.
*Rodrigo Tognini é cofundador e CEO da Conta Simples, principal plataforma de gestão de despesas no Brasil. Formado em Administração de Empresas pelo Insper, com especialização em Negócios e Empreendedorismo pela Columbia University, fundou a Conta Simples em 2019 com o propósito de transformar a gestão financeira de pequenas e médias empresas. Tognini sempre esteve envolvido na construção de ecossistemas empreendedores, como a Liga de Empreendedores do Insper. Antes de ingressar no mundo das fintechs, também se dedicou ao esporte, defendendo a seleção brasileira de base no basquete. Sob sua liderança, a Conta Simples foi acelerada pelo Y Combinator e captou mais de R$ 300 milhões, consolidando-se como referência em gestão de despesas para PMEs. Em 2024, passou a integrar a lista da Under 30, da Forbes, que reconhece jovens talentos de até 30 anos que se destacam em diversas áreas, como negócios, tecnologia, esportes, entretenimento e impacto social.