Revolução silenciosa

Por que os RWAs são a revolução menos barulhenta das criptos

Os RWAs estão trazendo mudanças profundas na forma como o valor é representado, transferido e acessado globalmente

Foto: Reprodução
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Enquanto o mercado de criptoativos segue fascinado por ciclos de alta, ETFs de Bitcoin e narrativas em torno de novas blockchains, uma revolução silenciosa avança sem alarde: a tokenização de ativos do mundo real — os chamados Real-World Assets, ou RWAs.

Longe do hype típico das criptomoedas, os RWAs estão trazendo mudanças profundas na forma como o valor é representado, transferido e acessado globalmente. Não se trata de mais um “caso de uso promissor” ainda em estágio experimental, mas de uma transformação concreta, com exemplos reais, capital envolvido e, cada vez mais, respaldo regulatório.

A proposta é simples, porém inovadora: permitir que ativos físicos — imóveis, dívida, commodities, participações societárias — sejam representados em blockchain como tokens digitais. A partir disso, esses ativos tornam-se mais líquidos, programáveis e globalmente acessíveis. Um imóvel em Buenos Aires pode ser fracionado digitalmente e negociado por investidores em diferentes partes do mundo, sem a fricção típica de cartórios, fronteiras ou burocracias bancárias.

Essa integração entre o mundo real e o digital não acontece por acaso. O amadurecimento das blockchains públicas, o avanço da regulação e a demanda crescente por ativos reais tokenizados convergem para criar um novo capítulo nas finanças globais. Plataformas estão sendo estruturadas não apenas para emitir tokens, mas para conectar esses tokens a direitos reais, com segurança jurídica e processos auditáveis.

Um exemplo é a parceria que a Bitget firmou na Argentina com a Pala Blockchain, especializada em tokenização de ativos. Com a parceria, será possível tokenizar o ativo pela plataforma da Pala e realizar o pagamento com cripto via Bitget. A iniciativa visa permitir a compra de imóveis com criptomoedas, utilizando tokens que representam o ativo no ambiente digital. A operação é respaldada pela Comissão Nacional de Valores (CNV), o que garante segurança regulatória à estrutura. O projeto se destaca não apenas pela aplicação prática da tecnologia, mas por mostrar como inovação, compliance e inclusão financeira podem caminhar juntos.

Esse tipo de solução representa exatamente o tipo de avanço que os RWAs tornam possível: transformar mercados historicamente ilíquidos, como o imobiliário, em ambientes mais acessíveis, transparentes e eficientes — com liquidação quase instantânea e a eliminação de intermediários redundantes.

O que torna os RWAs especialmente interessantes é que eles não substituem o sistema financeiro tradicional — eles o expandem. Em vez de competir com bancos, corretoras e registros públicos, os tokens de ativos reais têm o potencial de se integrar a essas estruturas, oferecendo ganhos de eficiência, novos produtos e alternativas de liquidez.

É claro que ainda há desafios. A equivalência jurídica entre o token e o ativo físico precisa ser clara e respeitada em diferentes jurisdições. Questões como governança on-chain, custódia e interoperabilidade também seguem em desenvolvimento. Mas o avanço é constante — e cada vez mais validado por casos reais.

*Guilherme Prado é country manager da Bitget no Brasil