Em um cenário marcado por uma guerra, eleições e um certo receio ainda com as próximas notícias sobre a pandemia, fazer previsões sobre o comportamento do crédito no Brasil ainda é um desafio. Por um lado, a Febraban já revisou o indicador de volume estimado para este ano algumas vezes para cima. Enquanto isso, o Banco Central tem se posicionado no sentido de indicar uma queda. Seja como for, o que existe de concreto, com a recém anunciada nova alta da Selic e o aumento da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) dos bancos e instituições financeiras, já permite dizer que se consolida um novo tempo para as fintechs.
O problema, com o aumento dos juros, é que as fintechs são empresas que trabalham com capital de terceiros e acabam sofrendo mais com esta condição, pois o custo de captação aumenta muito. As grandes instituições financeiras contam com os recursos de correntistas parados na conta ou aplicados na poupança, ou seja, a um custo mais baixo e não vinculado ao CDI. Então, para as fintechs, fica realmente mais difícil captar a baixo custo.
Além disso, por serem novas no mercado, as fintechs precisam ter um diferencial na disputa pelo consumidor. Ocorre que, quando elas entraram no jogo, os juros estavam baixos e acreditava-se no melhor dos cenários. Como podemos ver, isto já não é mais uma verdade pois houve um choque de juros que saiu de 2% para 12,75% ao ano e deve se manter em alta com perspectivas de que chegue a 13,25%.
Desta forma, para continuarem competitivas neste novo ambiente, as fintechs têm que ser mais ousadas do que os bancos tradicionais. Isto parece ser um problema, mas a ousadia está no DNA destas instituições que sempre terão condições de encontrar saídas através do uso intensivo de tecnologias emergentes.
Isto será realmente necessário já que cada vez mais as organizações vão depender de uma análise de dados mais refinada e com mais informações além de políticas muito mais flexíveis para enfrentar o cenário de expansão do crédito versus aumento da inadimplência. Usando tecnologias e ferramentas como dados de mercado, modelagem e predição comportamental, é possível tanto reduzir o custo de aquisição ao otimizá-lo, quanto controlar e reduzir a inadimplência. Um exemplo é o open banking, que tem se mostrado muito importante para dar uma concessão de crédito mais apurada, assertiva.
Mais do que nunca, estas ferramentas são imprescindíveis. O core do mercado financeiro é fazer concessão de crédito. Porém, é preciso encontrar o ponto ótimo entre a concessão e o risco. Assim, as áreas devem contar com mais flexibilidade para conceder crédito neste novo cenário. É necessário cuidado na avaliação. O crédito vai ficar cada vez mais caro, mas também há oportunidades.
A partir do momento em que as instituições acessam as informações que estão disponíveis para calcular a melhor taxa para um indivíduo em específico, elas podem ser competitivas para um cliente bom. Então, não é necessário cobrar a mesma taxa padrão de mercado dado que se tem acesso às informações exclusivas daquele indivíduo, como o histórico de endividamento etc.
O cuidado principal é olhar o histórico comportamental da pessoa e se certificar se ela tem capacidade de honrar o seu compromisso. O fato de ter uma avaliação bem estruturada no momento da concessão é essencial para que se garanta a qualidade da carteira de crédito, inibindo a inadimplência. Essa é uma balança difícil de equalizar. Depende do apetite ao risco versus volume de concessão. A primeira pergunta é qual o risco que eu quero tomar?
Existem formas de acelerar esse processo e reduzir custos, como buscar reduzir os atritos no processo de onboarding, através da automatização e escolher bem as fontes de dados utilizadas. Como exemplo de otimização dos custos, se pode citar o uso de dados do open banking ao invés de birôs para a busca do histórico comportamental do indivíduo para a concessão do crédito.
Então, de uma forma geral, os desafios para as fintechs se manterem relevantes basicamente se resumem em usar a tecnologia para conseguir trabalhar a dívida, oferecer novos produtos e reduzir custos de captação de clientes e riscos.
Fernando Guimarães é CEO da Stone Age