Especial dia das mães

Como ser mãe e líder: a história por trás da The Hill Capital

Descubra como Cassiana Garcia concilia maternidade, liderança no mercado financeiro e ativismo em prol da causa animal

Foto de Cassiana Garcia, sócia-fundadora da The Hill Capital
Foto: Cassiana Garcia, sócia-fundadora da The Hill Capital

Cassiana Garcia é sócia-fundadora da The Hill Capital, um dos escritórios de assessoria de investimentos do Banco BTG Pactual, e também fundadora do Instituto Ampara Animal, uma das maiores ONGs de proteção animal do país.

Em entrevista para o especial BP Money dia das mães, Cassiana compartilhou uma trajetória marcada por escolhas complexas e desafios emocionais.

“Quando meu filho nasceu, eu trabalhava em banco, num ambiente corporativo, e achei que teria que escolher entre ele e a minha carreira“, afirmou. “O ambiente era hostil, e a mulher mãe era vista como um problema.”

Cassiana relata que essa sensação de incompatibilidade entre o mundo corporativo e a maternidade foi o que impulsionou a criação da The Hill Capital. “Quis construir um espaço onde houvesse colaboração, apoio e propósito.”

A maternidade como força para empreender

Cassiana teve seu filho Cristiano aos 34 anos, depois de ouvir de médicos que não poderia ter filhos. “O Cris foi o maior presente que eu tive. E ele me deu força para empreender.”

Ela conta que foi através da maternidade que encontrou coragem para sair de um ambiente onde não era valorizada. “Não fazia sentido deixar meu filho em casa para ir trabalhar num lugar que não me fazia bem.”

Dessa forma, foi a partir dessa inquietação que nasceu a The Hill Capital. “Idealizamos um lugar onde fosse possível trabalhar no mercado financeiro sem o peso de um ambiente hostil, e sim colaborativo”, explica.

A criação da empresa marcou o início de uma trajetória em que empreender passou a ser uma forma de conciliar a vida profissional com a pessoal: “Meu filho me trouxe essa força.”

De acordo com Cassiana, a estrutura da The Hill permite uma rotina mais equilibrada. “Hoje consigo organizar minha agenda de forma a priorizar meu filho quando ele precisa de mim. Isso só é possível porque sou dona do meu tempo e do meu negócio.”

Dividindo os pratinhos: a logística de ser mãe e empresária

Apesar de ter construído o ambiente que idealizou no trabalho, ainda sim Cassiana nos conta que sua rotina é intensa, mas bem organizada. “Acordo às 6h, preparo o café para mim e para o Cris, deixo ele na escola às 7h40 e 10 para as 8h já estou no escritório.”

Ela destaca que a organização do tempo foi essencial para equilibrar maternidade e carreira. “Se sinto que ele precisa mais de mim, consigo reorganizar a agenda.”

No trabalho, uso minha energia masculina: foco, decisão, pragmatismo. Portanto, em casa, com o meu filho, uso minha energia feminina: acolhimento, conversa, colo. Quando aprendi a dividir essas energias, tudo fluiu melhor.”

Entretanto, ainda com toda a organização, e tempo estabelecido para o filho e a rotina no escritório, Cassiana reconhece que a maternidade vem acompanhada de uma sensação constante de culpa. “Tenho sempre a sensação de que estou devendo algo ao meu filho.”

Ela lembra que cresceu vendo a mãe em casa com os três filhos. “Ao mesmo tempo, quando era pequena, pensava que seria legal se ela trabalhasse.”

“Hoje, entendo que a mulher se cobra demais. Quer ser boa mãe, boa empresária, boa filha. Mas precisamos ser honestas com nós mesmas. Por isso, precisamos fazer o melhor que pudermos, com leveza.”

Em suma, quando questionada sobre o conselho que daria a mulheres que querem ser mães e temem pausar a carreira, ela é direta: “Não postergue seu sonho por um cargo. Família vem primeiro. A carreira pode ser retomada. A maternidade não espera.”

O Instituto Ampara: propósito social

Além de fundadora da The Hill, Cassiana também fundou o Instituto Ampara Animal, maior organização de proteção animal do Brasil. “A gente (ela e duas amigas) ajudava uma ONG em Paraisópolis. Um dia, a responsável de lá falou: ‘vocês têm energia para o mundo, vão fazer a própria ONG’. Portanto, fomos.”

Ela conta que não esperava que a ONG se tornaria uma das maiores do Brasil. “Sempre fui voluntária. Até hoje.” Isso porque, para ela, a atuação no terceiro setor complementa sua vida profissional. “Mercado financeiro e proteção animal são extremos que se somam.”

Hoje, ela faz a transição para o conselho da ONG. “Com menos tempo, percebi que posso ajudar de forma mais estratégica.”

Maternidade e liderança: a aplicação prática no dia a dia corporativo

A maternidade trouxe aprendizados que Cassiana também aplica na gestão de pessoas. “Quando você olha para os colaboradores com um olhar maternal, a comunicação melhora e a equipe se sente mais à vontade”, afirma.

Ela destaca a importância de dosar as energias masculina e feminina de forma consciente. “Uso minha energia racional no trabalho, mas em casa, com meu filho, a energia precisa ser outra: acolhimento.”

Ela afirma que, mesmo em tempos difíceis, encontrou formas de manter o equilíbrio entre seus papéis. “Sou mãe solo, separada, e em alguns momentos precisei ser mãe e pai. É cansativo, mas necessário. Difícil é educar.”

Rede de apoio e sociedade: o papel coletivo no cuidado com as mães

Cassiana destaca que a rede de apoio é essencial, sobretudo em uma cidade como São Paulo. “A distância física entre familiares dificulta. Por isso, construí minha rede com escola, profissionais de confiança e amigos.”

Ela também chama atenção para a necessidade de empatia com outras mães. “A sociedade cobra muito da mulher. Muitas estão exaustas e não conseguem pedir ajuda.”

Ao participar como coautora do livro Matrescência – Dores e Delícias de Maternar, Cassiana relata como refletiu sobre essas questões. “Enquanto escrevia, pensei nas mulheres que saem de madrugada para trabalhar, cuidam dos filhos sozinhas, enfrentam tudo.”