Ao completar 100 dias de governo, Donald Trump trouxe ao centro das atenções o efeito imediato de uma política econômica pautada por promessas de campanha.
Para William Castro Alves, economista e estrategista-chefe da Avenue, “Trump vem cumprindo as suas promessas de campanha”, e os efeitos disso já são visíveis, tanto nas movimentações de mercado quanto nas reações dos agentes econômicos.
Logo nos primeiros meses de mandato, Trump intensificou o controle de fronteiras. “Ele falou em alto bom som que iria controlar mais as fronteiras dos Estados Unidos”, afirma Castro Alves, ressaltando que o governo deu mais poder aos agentes fronteriços e reforçou medidas que restringem a imigração.
Indústria e tarifas de Trump
Um dos pontos centrais do plano econômico de Trump foi o retorno das indústrias ao território americano.
Castro Alves observa que “ele falou também na ideia de trazer indústrias de volta para os Estados Unidos e uma política tarifária bastante forte nesse sentido”. De acordo com ele, essa política foi colocada em prática com intensidade superior àquela vista no primeiro mandato.
“A implementação das tarifas foi num outro patamar, foi em outro nível, foi mais elevado dessa vez e isso assustou um pouco os mercados.”
Esse movimento gerou uma série de reações nos mercados. “Volatilidade na bolsa, volatilidade nos juros, queda do dólar”, lista Castro Alves, associando essas flutuações à percepção de risco e incerteza diante da nova direção econômica.
Aumenta a incerteza e reação dos mercados
Para o economista da Avenue, a postura de Trump elevou o nível de incerteza a patamares históricos. “A incerteza dos agentes foi a níveis mais elevados que a gente viu na história”, aponta.
Mesmo assim, ele destaca que o mercado, em um primeiro momento, apostava em pontos positivos do plano de governo. “A ideia de reduzir os impostos, a ideia de ganhos de eficiência e melhora de produtividade com menos gastos do governo… ora, isso continua na mesa.”
Apesar das turbulências, a visão de longo prazo, segundo Castro Alves, ainda reserva oportunidades. “O mercado tenha esquecido um pouco e tenha focado somente nas tarifas”, comenta, ressaltando que há uma miopia quando se observa apenas o impacto imediato das medidas.
Elon Musk e o foco na eficiência pública
Um dos elementos menos comentados, mas que pode gerar efeitos estruturais, é o papel do chamado Departamento de Eficiência dos Estados Unidos, liderado por Elon Musk.
“Capitaneado por Elon Musk, segue buscando a eficiência da máquina pública e isso é algo positivo”, destaca o estrategista-chefe da Avenue. Para ele, essas iniciativas visam uma transformação na gestão pública, com foco em resultados, inovação e contenção de gastos.
Outro ponto relevante é o discurso constante do secretário do Tesouro americano sobre a necessidade de redução do déficit fiscal.
“Várias vezes vem falando sobre reduzir o déficit americano”, reforça Castro Alves. Ele avalia essa meta como um elemento-chave para a sustentabilidade da economia dos EUA nos próximos anos.
O “remédio amargo” e a aposta no futuro dos EUA
Castro Alves utiliza uma metáfora forte para descrever o cenário atual: “Num primeiro momento, o remédio amargo tende a gerar uma redução de crescimento nos Estados Unidos”.
Esse diagnóstico se encaixa no que muitos analistas chamam de “stagflation“, um período de estagnação econômica combinado com inflação.
Apesar disso, ele mantém uma visão ponderada para o médio e longo prazo. “Se de fato conseguir reduzir a máquina pública, reduzir o déficit, reduzir impostos, você teria ganhos de produtividade importantes para o longo prazo.”
Para Castro Alves, o governo Trump implementa um modelo de choque, cujo sucesso dependerá da sua continuidade e dos ajustes finos ao longo do tempo.
Mais de mil dias pela frente: o que ainda pode mudar?
A fala final do economista serve como um lembrete sobre a escala temporal de um mandato presidencial e os efeitos acumulados de suas decisões.
“Trump teve apenas 100 dias. Ele ainda vai ter mais de mil dias até o final do seu mandato e ainda tem muita coisa para acontecer.” Para ele, focar apenas no curto prazo pode levar a conclusões precipitadas.
“É importante a gente não ficar só concentrado no curto prazo e olhar o que a gente chama de big picture”, orienta. Ou seja, o cenário completo — que envolve produtividade, eficiência, impostos e déficit — ainda está em formação.