Gestora de crédito Iridium quer apostar em renda variável

Sócio e responsável pela área de RI, conta que gestores estão preparando o terreno para o mercado de ações

Com sete fundos que somam mais de R$ 8,5 bilhões sob gestão, a gestora Iridium, especialista em crédito privado, contou ao BP Money que está também voltando o olhar para o mercado de renda variável. Segundo o sócio e responsável pela área de Relação com Investidores, Rafael Morais, a estratégia para esse setor ainda é pequena, mas a casa já prepara o terreno.

“Do nosso ponto de vista, é um momento excelente para entrar no mercado de renda variável, então a gente já está preparando a gestora para ter o produto disponível para quando o investidor entender que é o momento de entrar, a gente já ter todos os processos já funcionando”, disse.

A casa possui os seguintes fundos: Iridium Apollo (FI RF, crédito privado), Iridium Pioneer (FI incentivado, infraestrutura), Iridium Titan (FICFI RF, crédito privado), Iridium Apollo Advisory XP Seg (FI RF, previdência), Iridium Recebíveis (IRDM11, imobiliário), Iridium Fundo de Investimento (IRIM11, imobiliário), Iridium Rhino (FICFIA, renda variável).

Apesar de estar entrando no universo de ações, o crédito privado segue sendo o carro-chefe da casa e acumula as maiores alocações de patrimônio. Ao BP Money, Morais contou sobre os desafios que o mundo do crédito enfrenta com casos como o de Americanas (AMER3) e também sobre o atual cenário político.

Confira a entrevista completa da gestora Iridium

Como foi a história das gestora?

Rafael Morais – A Iridium foi fundada em 2017, com cinco sócios-fundadores, que trabalhavam em conjunto em um banco de investimentos em São Paulo, o Banco Fator. Fizemos carreira nele, Eu trabalhei 10 anos e a média de tempo, em conjunto, é em torno de 8-10 anos.

Em algum momento da carreira, a gente entendeu que seria interessante um projeto solo, formamos um grupo coeso, que estava trabalhando junto há bastante tempo e entregando bons resultados, e decidimos sair da estrutura do banco e montar a Iridum com um business independente.

Esse núcleo que saiu do banco estava responsável pelas estratégias de fundos imobiliários e de crédito privado do Banco Fator. Esse movimento iniciou com cinco pessoas e com o passar do tempo, nós fomos agregando mais pessoas no time. Hoje nós somos 15 pessoas e temos sob gestão algo em torno de R$ 8,5 bilhões.

Eu queria que você comentasse brevemente um pouquinho da tese de investimento de cada um dos sete fundos.

Rafael Morais – Quando a gente fundou a Iridium, a gente procurou trazer esses fundos com menor valor agregado (vamos chamar assim). São teses mais simples, então não tem tantas operações de crédito estruturado, coisas mais complexas dentro da carteira desses fundos.

O primeiro foi o Iridium Apollo, um fundo que o mercado classifica high grade, ou seja, ele aloca nesses papéis que têm maior qualidade de crédito. Normalmente são operações que recebem rating, no mínimo grau de investimento, fica alí pelo triplo B ou acima de A. E de alta liquidez, então é um fundo que paga seus resgates em D+1. Normalmente são fundos que carregam um percentual de caixa elevado, dado essa característica de ser um fundo de liquidez. Inicialmente começamos com ele, de perfil conservador, high fundo e alta liquidez.

Junto com ele nós lançamos um fundo de infraestrutura, o Iridium Pioneer. Ele se apropria de um incentivo que é dado para fundos que alocam em debêntures de infraestrutura. Esse incentivo é basicamente oferecer isenção de IR (imposto de renda) para investidores pessoas físicas. Desde que ele respeite certos mínimos de alocação nessas debêntures, o investidor recebe esse benefício e é bem interessante, dado que normalmente fundos de renda fixa vão ter aquela lei de [imposto] de 22,5% e vai caindo ao longo do tempo e também paga come cotas.

Na sequência, a gente lançou o FII (Fundo Imobiliário de Investimentos), o XXX, que é um fundo focado em recebíveis, o que o mercado apelida de fundo de papel. Ele veio de uma experiência que a gente já tinha de gestão de FII no Banco Fator. Nós fomos responsáveis pela gestão do VRTA11, e quando passamos para a Iridium, criamos um mandato meio que nos moldes dele, mas com algumas alocações adicionais, que é a possibilidade de alocar em outros fundos imobiliários e por aí vai.

Aí veio o Iridium Titan, um fundo também de crédito com perfil de dívidas corporativas. Mas ele tem um pouco mais de risco do que o Apollo. A ideia dele é buscar um pouco mais de retorno, a gente não chega a classificar como um fundo high yield, mas ele tem mais ou menos 20% na carteira dele que ele pode investir em operações um pouco mais arriscadas, como crédito estruturado, eventualmente alocar em FDICs. Em contrapartida, é um fundo que não é tão líquido igual o Apollo, ele paga os resgates em D+30.

Depois lançamos uma versão de previdência do Iridium Apollo. Basicamente é uma carteira que segue a mesma política de investimento do Apollo, mas mais adequado para as regras de fundos de previdência. A tese é a mesma, alocar em ativos de qualidades mais altas, priorizando bastante liquidez dentro da carteira. Normalmente também carrega uma boa parcela em caixa.

A gente tem uma pequena estratégia de renda variável, que a gente está incubando na Iridium. É um time que trabalhou com a gente no Fator, não veio desde o começo, mas depois a gente atraiu para cá. No momento de mercado, não atrai muito o investidor para renda variável. A gente sabe que historicamente o investidor meio que aloca olhando no retrovisor, olhando o retorno passado. Mas do nosso ponto de vista, é um momento excelente para entrar no mercado de renda variável, então a gente já está preparando a gestora para ter o produto disponível para quando o investidor entender que é o momento de entrar, a gente já está rodando com os processos já funcionando.

Lançamos um segundo fundo imobiliário que é o IRIM11. A ideia é parecida com a tese do Titan em comparação com o Apollo, é um mandato um pouco mais livre, poder fazer um pouco mais de coisas que a política de investimentos do IRDM11 não permite, mas também buscando um pouco mais de retorno. Então ele é um fundo que pode fazer investimentos em ações, que o IRDM11 não pode. Pode alocar em debêntures do setor imobiliários. É um fundo que ficou menor que o IRDM11, porque nasceu em um momento que o investidor não estava tão atraído por investimentos em FIIs, então não teve tantas ofertas quanto o outro. 

Você começou que, do seu ponto de vista, é um momento excelente para entrar no mercado de renda variável. Por que?

Rafael Morais – O investidor fica assustado quando ele olha os números do Ibovespa e tem um político também que atrapalha bastante o cenário. Mas se você tem uma visão de médio e longo prazo, você vê muitas oportunidades de empresas que estão negociando a preços interessantes. De fato, a gente vê sim uma oportunidade no mercado de renda variável.

O ponto é que a gente não tem a contrapartida do lado do investidor. Se a gente tivesse investidores com mais apetite, com entrada de recursos para os fundos de renda variável, certamente, a gente conseguiria capturar ainda mais essas oportunidades.

Mas basicamente a gente vê bastante qualidade nas empresas e negócios que a gente considera que são business resilientes, empresas que já se provaram ao longo de diversos momentos, em diversas crises e que seriam oportunidades boas de investimento.

A gente tem acompanhado diversas críticas do governo ao nível da taxa Selic entre outros movimentos. Como vocês estão visualizando este cenário político-financeiro do Brasil para o mercado de crédito?

Rafael Morais – O mercado ficou bastante atento nesses primeiros 100 dias de governo do que seria apresentado principalmente o que tange ao fiscal. A gente observou a queda de braço do lado do executivo pressionando o Banco Central, no sentido que a taxa de juros estava elevada e que era necessário pelo menos que vai haver um processo de redução.

Do outro lado, o BC sinalizando que precisaria ver uma melhora de aspectos do fiscal e também observando o cenário global. A gente viu alguns temas fora do País, em especial os casos do SVB e o Credit Suisse, duas grandes instituições tendo que ser salvas pelos governos e, o BC sinalizou que está atento a isso e à trajetória de inflação daqui também.

Agora, o mercado está digerindo o arcabouço. A gente sentiu que não foi ótimo, mas também não foi péssimo. Se o Ibovespa serve como termômetro, ele sinalizou que agradou em termos.

Daqui para frente temos que ver o quanto do que está no papel é factível de ser realizado. Obviamente tudo isso vai afetar a estrutura de precificação das operações de crédito e a vida dos nossos fundos, tanto de crédito quanto de renda variável. Estamos atentos a isso, mas a gente viu que, nesse ambiente, o spread de crédito ficou maior, mesmo para as operações de maior qualidade. Então, olhando do ponto de vista dessas operações, existem, sim, oportunidades de você colocar coisas na carteira do fundo que tem alta qualidade que tem altas maiores, porque o ambiente está pedindo taxas maiores.

Tudo caminhando para uma melhora no ambiente do País, os fundos tendem a colher bons retornos. Mas no mundo do crédito você sempre tem que ter cuidado. A gente tem monitorado o macro, a gente vê oportunidades nesse mercado de crédito, mesmo nesse ambiente desafiador.

A gente está vendo, neste ano, muitas empresas alavancadas com problemas de dívida e prejudicando diversos fundos. Vocês foram prejudicados de alguma forma?

Rafael Morais – O grande case que aconteceu no mercado foi o caso de Americanas (AMER3) e na sequência, o de Light (LIGT3), que são grandes emissoras de debêntures. E na sequência a gente também viu vários pedidos de tutela cautelar, que é uma pré-recuperação judicial, ainda não chega a ser uma RJ, mas a empresa vai sinalizando que têm alguma dificuldade financeira.

Empresas vindo à mesa para negociar dívidas, é frequente no mundo de crédito. Isso sempre aconteceu e sempre vai acontecer. A vida do gestor de crédito é intermediar essas situações, visando um maior benefício para o investidor. O que tem acontecido, atualmente, é que isso tem ganhado muita visibilidade por conta desses dois cases grandes. Então começou-se a colocar em cheque o mercado de crédito como um todo. 

Obviamente a gente foi afetado sim, por esses cases recentes que têm aparecido, mas sempre que possível a gente busca utilizar as estruturas de garantias que existem dentro da instituição. Mas, de fato, é que teve e sempre vai ter. As empresas têm sinalizado que o nível elevado da taxa de juros do País tem deixado caro o custo da dívida para eles e que isso pode ser um problema.

Mas quando você compara com anos anteriores e até recentes, o nível de alavancagem das empresas está até baixo do que já foi, se você comparar, por exemplo, com 2016, em que as empresas estavam bem mais alavancadas do que estão agora. Então a gente pode ainda ver mais pedidos de rating para baixo, mais pedidos de tutela ou de recuperação judicial aparecendo, mas já vimos momentos piores na história e os fundos passaram por isso.

Fundos de crédito sempre vão ser um componente importante das carteiras dos clientes. Então não dá para imaginar que a gente vai ter agora um quebra quebra generalizado de empresas e que isso vai acabar com a indústria de crédito.

Nesse fundo de renda variável, justamente, ano passado vocês ficaram nove meses abaixo do Ibovespa. O que vocês atribuem a esse resultado?

Rafael Morais – Esse fundo não tem o que a gente chama de tracking error. Tem alguns fundos que eles tentam ter uma carteira muito parecida com o Ibovespa, às vezes, adicionando alguns cases que o gestor tem mais convicção, ou colocando um pouco mais de peso em algumas ações.

A gente tenta ter uma carteira que não tem tracking error com o Ibovespa, na verdade a gente busca só as teses que a gente tem mais convicção. E no ano passado, algumas empresas que têm bastante peso no Ibovespa, tiveram um desempenho maior. Isso acabou fazendo com que a gente ficasse um pouco para trás do que índice.

Não tínhamos uma exposição relevante em Petrobrás (PETR3; PETR4) e Vale (VALE3) que, somadas, contribuíram com +9,5 p.p. para o Ibovespa, que subiu 5,42% no ano. Temos mais correlação com o small que acaba representando melhor a economia doméstica e teve uma performance bastante negativa com -13,63%. Erramos em algumas teses como Natura (NTCO3) que teve performance financeira muito aquém do que prevíamos em nossa análise.

Mas nós olhamos para esse fundo como um retorno absoluto. Sabemos que é inevitável olhar os fundos de ação comparando com o índice, que é a referência de mercado para fundos de renda variável. Então eventualmente vão ter anos que, de fato, você vai sofrer um pouco mais em relação ao índice, por ter essa filosofia de não criar carteiras muito parecidas com ele. Mas a gente acredita que em outros anos a gente possa ter um grande destaque de retorno, justamente por ter apostado em algumas coisas fora do ambiente do Ibov.

Para finalizar, você pode destacar algum case sobre o fundo de renda variável?

Rafael Morais – Atualmente estamos posicionados no setor de construção e incorporação imobiliária para a baixa renda como Plano & Plano (PLPL3) que negocia a múltiplos atrativos e deve se beneficiar dos programas Federais e Municipais como o Pode Entrar. Ainda estamos posicionados em Itaú (ITUB4) que negocia a 6x lucro e não tem problemas relevantes na carteira de crédito. Dado o patamar atual de Selic, custa ao investidor 1,2% a.m. para se investir em ativos de risco, exigindo valuations e negócios muito atrativos.