
Apesar de anúncios de investimentos bilionários e promessas de reforço operacional, a Enel SP opera hoje com menos funcionários do que no início da concessão. Dados do balanço do terceiro trimestre de 2025 mostram que a empresa conta com 20.185 colaboradores, entre próprios e terceirizados.
Isso representa uma redução de 3.650 pessoas em relação a 2019. Na prática, o corte equivale a 15,31% do quadro total.
Mais consumidores, menos funcionários
Enquanto o número de trabalhadores caiu, a base de clientes seguiu em alta. Entre 2019 e 2025, a Enel adicionou 782 mil novas unidades consumidoras faturadas em São Paulo.
Assim, a conta preocupa: mais clientes passaram a ser atendidos por menos funcionários. Além disso, o crescimento da demanda ocorreu em um período marcado por eventos climáticos mais extremos.
O tema ganhou ainda mais relevância após o apagão desta semana na capital paulista. Durante a crise, a Enel afirmou ter mobilizado 1.600 equipes para o restabelecimento da energia.
No entanto, o prefeito Ricardo Nunes questionou publicamente esses números. Segundo ele, o rastreamento de veículos da prefeitura não confirmou a presença desse volume de equipes nas ruas.
Promessas de contratações ainda não se materializaram
Em setembro de 2024, a concessionária anunciou um plano ambicioso. Na ocasião, prometeu contratar cerca de 5 mil novos colaboradores e incorporar 1.650 veículos à frota até 2026.
O anúncio integrou um pacote de R$ 20 bilhões em investimentos, apresentado diretamente ao presidente Lula. À época, a empresa também afirmou que os apagões deixariam de ocorrer.
“A gente está disposto a renovar o acordo se eles assumirem o compromisso de fazer investimento, e eles assumiram o compromisso de ao invés de investirem R$ 11 bilhões, eles vão investir R$ 20 bilhões nos próximos três anos, prometendo que não haverá mais apagão em nenhum lugar em que eles forem responsáveis”, disse Lula.
Enquanto isso, os apagões continuam frequentes. Além disso, o tempo de resposta tem aumentado em episódios recentes.
Crises se repetem com intervalos menores
O padrão se repete. Em novembro de 2023, outubro de 2024 e agora em dezembro de 2025, eventos climáticos deixaram centenas de milhares de pessoas sem energia por dias.
Desta vez, porém, o restabelecimento ocorreu de forma ainda mais lenta do que em crises anteriores. Isso reforça a percepção de fragilidade operacional.
Histórico de multas e pressão regulatória
A Enel assumiu a concessão paulista em 2019, após comprar a AES Eletropaulo por R$ 5,55 bilhões. Desde então, acumulou sanções e pressões institucionais.
A empresa já recebeu:
- R$ 168,5 milhões em multas da Aneel
- R$ 12,9 milhões em penalidades do Procon-SP
Além disso, enfrentou uma CPI na Câmara Municipal e teve sua capacidade operacional questionada de forma recorrente.
Diante dos números, a questão permanece aberta: é possível oferecer um serviço de qualidade com 15% menos trabalhadores do que no início da concessão?
Essa dúvida ganha ainda mais peso em um cenário de eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes e de crescimento contínuo da base de consumidores.
Com informações da Reuters