
O café é uma commodity aproveitada mundialmente e com seu preço subindo, consumidores e governos vem questionando a causa da alta e até quando ela deve durar. O BP Money procurou especialistas para entender o contexto e como o produto deve se comportar no Brasil.
Por ser um recurso natural, a volatilidade do valor do café está relacionada a sua safra. A previsão de colheita em 2025 no Brasil prevê uma produção de 51,8 milhões de sacas de acordo com a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), uma queda de 4,4% em relação a 2024.
A piora se dá por condições hídricas e altas temperaturas. A incerteza climática é observada em outros países, o que fez o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) calcular o estoque de café em 2025 o menor das últimas 25 temporadas.
Limitação de oferta
Para Bruno Gurgel, economista da Agro Money, a principal motivação para elevação dos preços vem da limitação de oferta. Ele destaca que o Brasil tem tido repetidas dificuldade de produção devido a geadas e estiagem que afetam o estoque disponível.
“O mercado tem projetado melhora apenas a partir da safra 2026, que até o momento imagina-se que deva voltar a ser uma safra de produção forte, aumentando a oferta do produto e pressionando os preços pra baixo”, comenta, reforçando que são apenas projeções e há muita incerteza ainda.
A exportação brasileira garante que o País seja responsável pelo abastecimento de 40% do consumo mundial. Um possível aumento na taxa de exportação pode fazer com que o volume corrente no território nacional diminua mais drasticamente, como destaca a economista Tcharla Bragantin.
“Essa escassez, aliada ao aumento da demanda global, pressionou os preços para cima, com parte da produção sendo direcionada para o mercado internacional. Além disso, a valorização do dólar e o aumento nos custos de produção, também têm contribuído para o encarecimento do produto”, afirma.
Consumo resiliente
De acordo com o consultor financeiro Vicente Zotti, as consecutivas altas tem efeitos diferentes para os ciclos do café. Para o produtor ele lucra com o valor da comoditie em ascensão, mas a torrefação sente a alta e tem dificuldade de conter os valores, que são passados para varejistas.
As exportadoras têm compromisso com chamadas de margem, que precisam ser alcançadas com referência ao café destinado ao exterior. “Se você pensar no ritmo de alta para o consumidor, ainda não cresceu tudo que precisava subir.”
Zotti também observa não uma variação de consumo, apesar da variação de preço, mas um consumo resiliente. “Comparado ao aumento de preços que vimos em 2020 e anteriores, estamos ainda com níveis bem constantes”.
A solução imediata na visão dos especialistas é destruição de demanda. Gurgel conclui que estamos falando de um produto que praticamente não tem um substituto direto, o que dificulta muito movimentos de queda no consumo.