Relatório da PF

Bolsonaro: valor das joias teria sido para patrimônio e viagem aos EUA

O ministro Alexandre de Moraes removeu o sigilo sobre o inquérito e enviou os autos para a PGR

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O relatório da PF (Polícia Federal) sobre o inquérito das joias presenteadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro chegou à conclusão de que uma “associação criminosa” tentou desviar (vender) bens que somavam cerca de R$ 6,8 milhões.

Nesta segunda-feira (8), o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), removeu o sigilo sobre o inquérito e enviou os autos para a PGR (Procuradoria-Geral da República).

“Identificou-se, ainda, que os valores obtidos dessas vendas eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do ex-presidente da República, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores”, apontou o documento, conforme informações do “Valor”.

Uma outra suspeita da PF é que o montante obtido com a venda das joias tenha sido direcionado para financiar a estadia do ex-presidente nos EUA, entre os dias 30 de dezembro de 2022 e 30 de março de 2023. 

Inicialmente, o documento da corporação diziam que os valores envolvidos na transação estavam em cerca de R$ 25 milhões, mas corrigiram para R$ 6,8 milhões. 

Ainda de acordo com o relatório da PF, o grupo usou a estrutura do GDH (Gabinete Adjunto de Documentação Histórica) para “legalizar” a incorporação dos bens de grande valor, presenteados por autoridades estrangeiras, ao acervo privado de Jair Bolsonaro.

Após a publicação de reportagens sobre o recebimento de kits de joias por integrantes do governo brasileiro em nome do ex-presidente, a suposta associação criminosa “estruturou uma operação clandestina para recuperar os bens, que estavam em estabelecimentos comerciais nos Estados Unidos, planejando, coordenando e executando os atos necessários para escamotear a localização e movimentação dos bens desviados do acervo público brasileiro e tornar seguro, mediante ocultação da localização e propriedade, os proventos obtidos com a venda de parte dos bens desviados”.

O relatório também apontou que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, vendeu um relógio Ebel Sport Mikat, uma caneta, um kit que continha um relógio Perregaux Earth to Sky Edition e um conjunto de abotoaduras que lhe foram presenteados por autoridades estrangeiras em viagem oficial ao Oriente Médio em outubro de 2019.

Em depoimento à PF, Mauro Cid confirmou que vendeu os presentes e declarou que havia consultado a Comissão de Ética da Presidência da República, que o autorizou a ficar com os bens.

A defesa de Bolsonaro ainda não se manifestou sobre o caso após a remoção do sigilo.

Estadia de Bolsonaro nos EUA teria sido bancada pelas vendas

De acordo com o relatório da PF, as contas bancárias de Bolsonaro seguiram quase inalteradas entre dezembro de 2022 e abril de 2023, “revelando que, possivelmente, não realizou movimentações financeiras (crédito/débito) no período em que esteve residindo nos Estados Unidos”.

“Tal fato indica a possibilidade de que os proventos obtidos por meio da venda ilícita das joias desviadas do acervo público brasileiro, que, após os atos de lavagem especificados, retornaram, em espécie, para o patrimônio do ex-presidente, possam ter sido utilizados para custear as despesas em dólar de Jair Bolsonaro e sua família, enquanto permaneceram em solo norte-americano”, afirmou a corporação.

“A utilização de dinheiro em espécie para pagamento de despesas cotidianas é uma das formas mais usuais para reintegrar o ‘dinheiro sujo’ à economia formal, com aparência lícita”, continuou a PF em documento.

Como mostram dados de uma planilha obtida pela instituição, a conta de Bolsonaro no banco BB Américas tinha cerca de US$ 151,337,45 e a conta no Banco do Brasil tinha cerca de R$ 208,386,12, em abril de 2023.

Os saldos condizem com os valores revelados pela quebra de sigilo bancário do ex-mandatário, disse a Polícia Federal.

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