Na próxima semana, o governo anunciará a aguardada regulamentação do IPI Verde, novo sistema de tributação dos carros que recompensará, com imposto menor, veículos mais limpos, punindo os mais poluidores.
A novidade é que, junto com o IPI Verde, será criado outro programa, chamado Carro Sustentável, que reduzirá o IPI de automóveis mais baratos desde que atendam a determinados e sejam produzidos no país.
Apoiado nas cláusulas do programa Mover (Mobilidade Verde e Inovação), de incentivos para a indústria automobilística, o Carro Sustentável terá, como critérios: potência, eficiência energética, combustível e reciclabilidade, além da exigência de ser produzido no país.
Isso significa que nenhum modelo 100% elétrico será beneficiado, já que todos são importados.
Segundo fontes a par do assunto, a ideia inicial é beneficiar veículos 1.0 flex – que podem ser abastecidos tanto com gasolina quanto com etanol – e com potência inferior a 90 cavalos. Esses critérios abrangem os automóveis mais simples de marcas como Fiat, Volkswagen, Hyundai e General Motors. Excluem os modelos 1.0 turbo.
Segundo as fontes, o IPI reduzir vai vigorar até o fim de 2026. A definição das novas alíquotas do imposto para o Carro Sustentável está em fase final e, em princípio, será bastante abrangente. O incentivo valerá tanto para pessoa física como jurídica, o que inclui frotistas e locadoras.
Programas de sucesso no passado
O novo programa se assemelha a outros que reduziram os preços dos carros por meio de tributação menor. O mais recente foi em maio de 2023. Com a prerrogativa de deixar os carros mais acessíveis, o governo reduziu IPI e PIS/Cofins dos carros 0km de até R$120 mil.
Os preços baixaram entre 1,50% e 10,96%. A medida, no entanto, era temporária, e tinha uma previsão de durar quatro meses. O estoque se esgotou tão rápido, em menos de um mês, que o programa foi prorrogado para incluir os frotistas.
O programa de 2023 incluiu caminhões e ônibus. Mas o maior sucesso foi no segmento de automóveis. A renúncia fiscal para atender o que foi chamado de programa do “carro popular”, o mesmo nome de outro semelhante, da década de 1990, somou R$1,5 bilhão e foi, em parte, compensada com a reoneração parcial do imposto sobre o diesel.
Elaborado pela equipe do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), o programa Carro Sustentável não vai impor limite de preços como ocorreu em 2023. Mas os requisitos conhecidos até agora indicam que serão mais simples.
Histórico de ‘racha’ entre as montadoras
Experiências do passado mostram que programas dessa natureza é comum que cada montadora brigue para incluir o máximo de modelos possíveis na lista beneficiada. Chegando até a receber “emendas” para incluir mais modelos.
No início de 1993, o então presidente Itamar Franco, em conversa com a direção da Volkswagen, sugeriu à montadora retomar a produção do Fusca. Em troca, a Volks receberia incentivos fiscais.
Não demorou para a Fiat bater à porta do Palácio do Planalto para reivindicar o mesmo benefício para o Uno. Foi, então, decidido que o incentivo valeria para qualquer carro 1.0. A Kombi chegou a ser acomodada para também receber a benesse. Até hoje, 32 anos depois, carros com motor 1.0 têm alíquota de IPI menor.
Responsabilidade fiscal
A concessão de mais benefícios a um setor que se acomodou em subsídios por um governo que está sob pressão para cortar gastos pode provocar uma série de questionamentos.
No entanto, o governo pretende argumentar que espera compensar esses incentivos, justamente, com o IPI Verde, que servirá de base para o Imposto Seletivo, criado na reforma tributária.
Conhecido como “imposto do pecado”, o Seletivo incidirá sobre produtos considerados prejudiciais à Saúde e ao Meio Ambiente, abrangendo os automóveis.
A ideia do governo é cobrar mais imposto de automóveis mais luxuosos e que não permitem ser abastecidos com etanol – como é o caso dos importados – para beneficiar os que entrarão na lista do Carro Sustentável.
IPI Verde e Imposto Seletivo seguirão a transição gradual, prevista para todo o novo sistema tributário. Em 2026 começarão a ser testados, sem recolhimento efetivo, a CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que substituirá impostos sobre o consumo, como PIS/Cofins, e o IBS (Imposto sobre Bens e Serviços).
O Carro Sustentável divide posições no setor. Naturalmente, os fabricantes dos veículos beneficiados no programa tendem a apoiá-lo enquanto os que produzem linhas mais sofisticadas e importadores são contrários, pois seus veículos terão que pagar pelo desconto nos demais. Servirão, assim, de fonte de compensação dessa próxima renúncia fiscal.