
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira (10) manter a taxa Selic em 15% ao ano. A decisão, tomada por unanimidade, já era amplamente esperada pelo mercado. Esta é a quarta reunião seguida em que o colegiado preserva os juros no maior nível desde 2006.
Além disso, a reunião ganhou destaque por ocorrer na “superquarta”, quando BC e Federal Reserve apresentam decisões simultâneas. O anúncio do Copom saiu após as 18h e reforçou a postura vigilante da autoridade monetária diante da combinação de inflação resistente e incerteza fiscal.
De acordo com o comunicado Copom, o ambiente externo ainda se mantém incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, com reflexos nas condições financeiras globais. Tal cenário exige cautela por parte de países emergentes em ambiente marcado por tensão geopolítica.
“Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores segue apresentando, conforme esperado, trajetória de moderação no crescimento da atividade econômica, como observado na última divulgação do PIB, enquanto o mercado de trabalho mostra resiliência. Nas divulgações mais recentes, a inflação cheia e as medidas subjacentes seguiram apresentando algum arrefecimento, mas mantiveram-se acima da meta para a inflação”, diz o comunicado.
Inflação segue pressionada e distante da meta
O principal desafio do Banco Central continua sendo a inflação, as projeções permanecem acima do centro da meta de 3% definida pelo Conselho Monetário Nacional. De acordo com o boletim Focus, o mercado espera IPCA de 4,40% em 2025 e 4,16% em 2026 ambos acima do objetivo oficial.
Desde junho, o IPCA roda há seis meses acima do teto de 4,5%. Por isso, o BC teve de publicar uma carta explicando o descumprimento. Com o novo regime de meta contínua, o objetivo é considerado cumprido se a inflação oscilar entre 1,5% e 4,5%.
As projeções seguintes também preocupam: 3,8% em 2027 e 3,5% em 2028. Esses números mostram que a convergência até o centro da meta continua difícil, mesmo com juros em patamar elevado.
Quando os cortes podem começar?
O mercado está dividido, algumas instituições projetam o início do ciclo de cortes em março de 2025. Outras acreditam que a redução só ocorrerá em janeiro de 2026.
O Itaú, por exemplo, prevê o primeiro corte em 2026, levando a Selic para 14,75%. Já o C6 Bank acredita em cortes a partir de março de 2025 e imagina a taxa encerrando 2026 em 13%.
A Blue3 avalia que, embora a inflação mostre certo alívio e a atividade econômica dê sinais de desaceleração, o risco fiscal impede o BC de agir mais cedo. Assim, a autoridade monetária segue “travada” e com pouca margem para reduzir juros.
Desaceleração da economia já é perceptível
Segundo o Banco Central, a atividade econômica mostra moderação. Esse movimento era esperado e aparece com mais clareza no setor de serviços, onde as pressões inflacionárias são tradicionalmente mais fortes.
O BC afirma que “a atividade econômica doméstica manteve trajetória de moderação”, destacando que ciclos de inflexão costumam trazer indicadores mistos. O objetivo é reduzir a demanda e aliviar a pressão sobre os preços — especialmente em serviços.
O desafio, porém, é calibrar essa desaceleração. O BC tenta esfriar a economia sem provocar uma recessão capaz de prejudicar emprego e renda.
Risco fiscal segue no radar e limita cortes
O componente fiscal continua sendo um dos principais entraves. A combinação de aumento de gastos e dúvidas sobre a trajetória da dívida pública eleva o prêmio de risco, pressionando expectativas de inflação.
José Aureo Viana, economista da Blue3, afirma que o BC reconhece melhorias recentes na inflação e na atividade. No entanto, permanece cauteloso justamente por causa das incertezas fiscais, que tornam o cenário de médio prazo mais volátil.
O C6 Bank também destaca que, embora os núcleos da inflação estejam caindo, o Copom deve manter um tom conservador. Para o Comitê, ainda faltam sinais consistentes de convergência da inflação antes de iniciar qualquer afrouxamento monetário.
Próximos passos dependem dos dados
O Copom deve reforçar que a Selic em 15% reflete uma estratégia de prudência. Os próximos movimentos dependerão dos indicadores de inflação, atividade e expectativas.
Além disso, o BC trabalha olhando para o futuro. As decisões consideram projeções que chegam ao segundo trimestre de 2027, já que os efeitos da Selic demoram de seis a 18 meses para atingir totalmente a economia.
Por isso, com inflação ainda resistente e ambiente fiscal incerto, o mercado segue à espera de sinais mais claros do BC sobre quando será seguro iniciar a redução dos juros.