
Após um 2024 marcado pelo estouro do teto da meta, o Brasil caminha para encerrar 2025 com inflação sob controle. A projeção atual aponta o IPCA em 4,4%, dentro do limite de 4,5% estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional e no menor patamar desde 2019.
Esse cenário contrasta fortemente com o início do ano. Naquela época, o mercado projetava inflação entre 5% e 6%. Agora, os dados indicam desaceleração consistente ao longo dos últimos meses.
Até novembro, o IPCA acumula alta de 3,92% no ano. No mês, o índice avançou apenas 0,18%, a menor variação para novembro em sete anos. Já no acumulado de 12 meses, a inflação está em 4,46%, segundo o IBGE.
Alimentos ajudam a segurar os preços
Um dos principais vetores da desaceleração foi o grupo de alimentação, que representa cerca de 20% do orçamento das famílias. Safras recordes, combinadas com clima favorável e chuvas regulares, impulsionaram o agronegócio e levaram à deflação dos alimentos.
Segundo André Braz, coordenador de índices de preços da FGV, esse cenário não estava no radar no início de 2025. Além disso, a combinação entre produção elevada e câmbio mais favorável surpreendeu positivamente as projeções.
Ao mesmo tempo, a postura firme do Banco Central teve papel central no processo. Com a Selic em 15% ao ano, maior nível em 19 anos, a autoridade monetária conseguiu ancorar expectativas e fortalecer o real frente ao dólar.
De acordo com Alexandre Maluf, economista da XP, o canal das expectativas é decisivo na formação de preços. Nesse sentido, o aperto monetário surtiu efeito. Além disso, a valorização cambial ajudou a conter preços de bens duráveis, como automóveis e eletrodomésticos, que acumulam inflação abaixo de 3% em 12 meses.
Energia elétrica deve aliviar o índice no fim do ano
Outro fator relevante aparece no fechamento de 2025. A Aneel alterou a bandeira tarifária de vermelha patamar 1 para amarela em dezembro, o que tende a aliviar o IPCA.
A energia elétrica, que responde por cerca de 4% do índice, pode registrar deflação de 2,6% em dezembro e 2,8% em janeiro. Com isso, o impacto sobre a inflação geral deve ser significativo.
Para que o IPCA feche exatamente no teto da meta, o índice de dezembro pode subir até 0,56%, segundo cálculos do IBGE. Ainda assim, alguns analistas já trabalham com a possibilidade de deflação de até 0,15%, algo incomum para o mês.
Olhar atento para 2026
Por fim, o mercado projeta continuidade desse cenário mais benigno no primeiro semestre de 2026. Algumas estimativas indicam que o IPCA pode se aproximar da meta central de 3% já em maio.
No entanto, especialistas alertam que riscos fiscais e o ano eleitoral podem reacender pressões inflacionárias na segunda metade do próximo ano. Assim, embora o quadro atual seja positivo, o horizonte segue exigindo cautela.