Investidores estrangeiros retiraram R$ 6,3 bilhões da B3 em julho, segundo o Valor Data. Esse foi o maior volume mensal desde abril de 2024, quando a saída somou R$ 11,4 bilhões. O tarifaço imposto pelos Estados Unidos no início do mês contribuiu diretamente para esse movimento, ao aumentar o risco percebido sobre o Brasil e gerar instabilidade nos ativos locais.
Tarifaço intensifica aversão ao risco e reduz atratividade
A decisão dos EUA de aplicar novas tarifas sobre produtos brasileiros afetou a confiança de investidores estrangeiros. Como resultado, aumentaram os prêmios de risco e diminuiu o interesse por ações brasileiras.
Ao mesmo tempo, as bolsas americanas bateram recordes, enquanto o dólar se fortaleceu frente a outras moedas globais — fatores que redirecionaram o capital para mercados considerados mais seguros.
Além disso, o sentimento positivo com o mercado doméstico sofreu um baque. Embora o Brasil mantenha fundamentos relevantes, o cenário internacional pesou mais nas decisões dos gestores.
Apesar da fuga em julho, saldo do investidor estrangeiro no ano ainda é positivo
Mesmo com a forte saída registrada no mês passado, o fluxo estrangeiro acumulado em 2025 segue positivo em R$ 20 bilhões. Ainda assim, especialistas destacam que o ambiente político e a dinâmica dos juros serão determinantes para manter essa tendência.
Welliam Wang, gestor da AZ Quest, vê a força das empresas americanas como um obstáculo à volta do capital estrangeiro ao Brasil. “O excepcionalismo americano não morreu. Pelo contrário, voltou com força”, disse. Segundo ele, o retorno significativo de investidores externos só ocorrerá com maior visibilidade no cenário eleitoral.
Eleições de 2026 já influenciam as decisões dos investidores
Filipe Villegas, estrategista da Genial Investimentos, acredita que muitos investidores seguem apostando na alternância de poder em 2026. No entanto, a melhora na aprovação do governo atual reduz a urgência de antecipar esse cenário. “Com o avanço da popularidade, o investidor prefere aguardar”, explicou.
Em relatório, o J.P. Morgan destacou que a postura firme de Lula após o tarifaço deu novo gás nas pesquisas. No entanto, os analistas alertaram para a possível perda de fôlego dessa estratégia. “Por quanto tempo essa temática tarifária durará?”, questionaram.
Juros e cenário global influenciam o rumo da B3 nos próximos meses
Além do ambiente político, o comportamento da política monetária internacional também afeta o mercado brasileiro. Nos EUA, dados mais fracos do mercado de trabalho aumentaram a expectativa de cortes nos juros. Conforme o CME Group, a probabilidade de redução pelo Fed em setembro chegou a 94%.
Ao mesmo tempo, a queda da Selic no Brasil também estimula a atratividade da bolsa. A XP Investimentos lembra que, desde o início do ciclo de cortes, o mercado à vista da B3 registrou entrada líquida de R$ 8,4 bilhões — bem acima da média histórica de R$ 2,3 bilhões para ciclos semelhantes.
Fernando Ferreira, estrategista da XP, afirma que a combinação entre a rotação de capital global e a queda dos juros internos impulsionou o fluxo estrangeiro. “A Selic menor aumenta o apetite por ações brasileiras”, resumiu.