
O ano de 2025 entrou para a história como um dos melhores para a bolsa brasileira em tempos recentes. O Ibovespa acumulou alta de 33% em moeda local e 41% em dólares, colocando o mercado acionário brasileiro entre os de melhor desempenho do mundo.
Esse movimento, no entanto, não ocorreu por acaso, por trás da valorização, houve um processo claro de recuperação de preços após anos marcados por juros elevados e incerteza fiscal.
Segundo Hulisses Dias, mestre em Finanças pela Universidade de Sorbonne e especialista em investimentos, o desempenho reflete “um processo de reprecificação dos ativos brasileiros após um ciclo prolongado de juros altos, aversão ao risco e dúvidas fiscais”.
As maiores altas de 2025
Algumas empresas registraram valorizações expressivas, superiores a 190% no ano. Entre os destaques, aparecem:
- Cogna (COGN3): +259,9%
- Aura 360 (AURA33): +256,4%
- Recrusul (RCSL4): +218,9%
- Movida (MOVI3): +217,2%
- Pine (PINE4): +190,1%
Para Dias, não houve grandes surpresas nesses resultados. “O mercado promoveu, principalmente, uma normalização de valuations que estavam extremamente distorcidos no início do ano”, explica.
Além disso, o especialista destaca que muitas dessas companhias eram cíclicas e altamente sensíveis aos juros, o que ampliou o efeito da reprecificação.
Juros futuros impulsionaram os preços
Outro fator decisivo foi a trajetória dos juros ao longo de 2025. Com a queda das taxas futuras, o custo de capital diminuiu e os horizontes de valuation se alongaram.
“Esse movimento beneficiou empresas com modelos viáveis e alguma geração de caixa, mesmo aquelas pressionadas nos anos anteriores”, afirma Dias. Assim, o mercado passou a diferenciar melhor empresas recuperáveis de negócios estruturalmente problemáticos.
Setores que mais se beneficiaram
Nesse contexto, alguns setores se destacaram de forma consistente. Segundo o especialista, os maiores beneficiados foram:
- Imobiliário
- Consumo discricionário
- Educação
- Small caps
“Esses segmentos são mais sensíveis à taxa de juros e à economia doméstica”, explica. Além disso, haviam sido excessivamente penalizados nos ciclos de aperto monetário, sobretudo em 2024.
As maiores quedas do ano
Por outro lado, algumas empresas tiveram um desempenho extremamente negativo em 2025. Entre as maiores quedas, aparecem:
- PDG Realty (PDGR3): -99,4%
- Ambipar (AMBP3): -98,0%
- Infracommerce (IFCM3): -93,4%
- Sequoia Logística (SEQL3): -88,8%
- Oi (OIBR3): -85,8%
“As maiores quedas se concentraram em empresas com alavancagem elevada, governança frágil e histórico de destruição de valor”, afirma.
Segundo o especialista, o problema não foi setorial, mas estrutural. “Quando o dinheiro volta ao mercado, ele não vai para empresas quebradas. Ele vai para negócios que conseguem atravessar ciclos e gerar caixa”, diz.
Nesse sentido, juros mais baixos ajudam, mas não resolvem modelos ruins. Empresas como Oi e Ambipar ilustram bem esse ponto. Mesmo em um ano excepcional para a bolsa, esses papéis continuaram sob pressão, refletindo problemas de balanço, governança e previsibilidade.
O que esperar de 2026?
Apesar do forte desempenho em 2025, Dias faz um alerta importante. “Os múltiplos atuais já não são os mesmos do início do ano. Houve um processo relevante de reprecificação”, pondera.
Além disso, o calendário eleitoral adiciona risco. “Historicamente, anos eleitorais trazem maior volatilidade e retornos mais modestos, pois o risco político passa a ser mais precificado”, explica.
Por isso, o especialista alerta contra projeções lineares. “Extrapolar o desempenho recente costuma ser um erro, especialmente em ambientes políticos mais incertos.”
A principal lição para o investidor
Por fim, o especialista resume a principal lição deixada por 2025: gestão de risco. “O maior risco é o investidor assumir mais exposição do que pode carregar, confundindo um ano excepcional com uma tendência garantida”, afirma.
Nesse cenário, a recomendação é clara: diversificação entre classes de ativos segue sendo a melhor defesa contra choques inesperados.
O desempenho de 2025 mostrou que oportunidades surgem quando a economia se normaliza. Ao mesmo tempo, deixou claro que fundamentos fracos não se sustentam, mesmo em ciclos favoráveis.