De cabeça para baixo

Tributação das LCAs: especialista analisa impactos no crédito e investidores

Jeff Patzlaff, planejador financeiro, analisa como a tributação das LCAs impacta investidores, crédito rural e arrecadação.

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Tributação de rendimentos no exterior pode impactar seu bolso/Foto: Canva Pro

O governo federal decidiu tributar as LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio) como parte de um pacote fiscal para reforçar a arrecadação. 

A medida, anunciada no domingo pelo ministro da Fazenda, também inclui a taxação das apostas esportivas e o fim da isenção de outros títulos de renda fixa, como LCIs, CRIs e CRAs. 

Embora a proposta busque aliviar a pressão fiscal, seus impactos vão muito além das contas públicas.

Segundo Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, o governo usa essa recalibragem como instrumento de compensação. 

Ao aumentar a receita com a tributação das LCAs, tenta suavizar o recente aumento do IOF sobre o crédito. 

Além disso, busca agradar setores políticos e preservar o arcabouço fiscal, mesmo diante da resistência no Congresso.

Por outro lado, a estratégia revela uma dependência excessiva de soluções temporárias. 

Em vez de promover uma reforma tributária estrutural, o governo opta por mudanças pontuais. 

Isso, portanto, gera insegurança entre investidores, empresas e instituições financeiras, que precisam de previsibilidade para tomar decisões de médio e longo prazo.

Investidor perde vantagem competitiva com tributação

Historicamente, investidores pessoa física priorizaram as LCAs por causa da isenção do Imposto de Renda. 

Essa condição tornava o retorno líquido superior ao de outros produtos, como CDBs, fundos e até mesmo o Tesouro Direto. 

Com a nova tributação, essa vantagem desaparece. 

Consequentemente, muitos investidores precisarão reavaliar suas carteiras.

Além disso, como os bancos precisarão oferecer taxas maiores para atrair recursos, o custo do crédito tende a subir. 

Esse efeito, inclusive, pode afetar diretamente o agronegócio, setor que já enfrenta desafios com clima e custos operacionais elevados.

Ainda que a medida prometa ganhos fiscais imediatos, ela também pode gerar insegurança. 

Pequenos investidores, que geralmente acessam LCAs por meio de plataformas digitais e grandes bancos, podem não compreender completamente as novas regras. 

Como resultado, a demanda por esses papéis pode cair, reduzindo a liquidez e a emissão.

Tributação das LCAs encarece crédito e afeta financiamento do agronegócio

A isenção anterior permitia que bancos captassem recursos com custos mais baixos. 

Agora, com a tributação das LCAs, os emissores precisam elevar a rentabilidade dos papéis, o que inevitavelmente encarece o crédito. 

Isso pressiona especialmente pequenos e médios produtores rurais, justamente em um momento delicado para o setor.

Embora o governo consiga arrecadar mais no curto prazo, ele pode comprometer uma importante fonte de financiamento privado. 

A redução na atratividade das LCAs pode quebrar a atual dinâmica de oferta e demanda, prejudicando o fluxo de capital para setores estratégicos.

Ademais, a medida corre riscos políticos e jurídicos. Propostas como a tributação de CRIs e CRAs — títulos com natureza privada — podem enfrentar resistência no Congresso e eventuais contestações judiciais. 

Apesar da reação inicial do mercado ser levemente positiva, o sentimento geral ainda é de cautela.

Jeff Patzlaff alerta que a proposta, para surtir efeitos positivos, exige clareza nas contrapartidas e diálogo transparente com o mercado. 

Caso contrário, o ruído gerado será maior que os ganhos fiscais. 

O investidor busca previsibilidade. 

O mercado exige responsabilidade fiscal de longo prazo. Ajustes pontuais, embora necessários, não substituem uma reforma ampla e eficaz.