
O governo federal decidiu tributar as LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio) como parte de um pacote fiscal para reforçar a arrecadação.
A medida, anunciada no domingo pelo ministro da Fazenda, também inclui a taxação das apostas esportivas e o fim da isenção de outros títulos de renda fixa, como LCIs, CRIs e CRAs.
Embora a proposta busque aliviar a pressão fiscal, seus impactos vão muito além das contas públicas.
Segundo Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, o governo usa essa recalibragem como instrumento de compensação.
Ao aumentar a receita com a tributação das LCAs, tenta suavizar o recente aumento do IOF sobre o crédito.
Além disso, busca agradar setores políticos e preservar o arcabouço fiscal, mesmo diante da resistência no Congresso.
Por outro lado, a estratégia revela uma dependência excessiva de soluções temporárias.
Em vez de promover uma reforma tributária estrutural, o governo opta por mudanças pontuais.
Isso, portanto, gera insegurança entre investidores, empresas e instituições financeiras, que precisam de previsibilidade para tomar decisões de médio e longo prazo.
Investidor perde vantagem competitiva com tributação
Historicamente, investidores pessoa física priorizaram as LCAs por causa da isenção do Imposto de Renda.
Essa condição tornava o retorno líquido superior ao de outros produtos, como CDBs, fundos e até mesmo o Tesouro Direto.
Com a nova tributação, essa vantagem desaparece.
Consequentemente, muitos investidores precisarão reavaliar suas carteiras.
Além disso, como os bancos precisarão oferecer taxas maiores para atrair recursos, o custo do crédito tende a subir.
Esse efeito, inclusive, pode afetar diretamente o agronegócio, setor que já enfrenta desafios com clima e custos operacionais elevados.
Ainda que a medida prometa ganhos fiscais imediatos, ela também pode gerar insegurança.
Pequenos investidores, que geralmente acessam LCAs por meio de plataformas digitais e grandes bancos, podem não compreender completamente as novas regras.
Como resultado, a demanda por esses papéis pode cair, reduzindo a liquidez e a emissão.
Tributação das LCAs encarece crédito e afeta financiamento do agronegócio
A isenção anterior permitia que bancos captassem recursos com custos mais baixos.
Agora, com a tributação das LCAs, os emissores precisam elevar a rentabilidade dos papéis, o que inevitavelmente encarece o crédito.
Isso pressiona especialmente pequenos e médios produtores rurais, justamente em um momento delicado para o setor.
Embora o governo consiga arrecadar mais no curto prazo, ele pode comprometer uma importante fonte de financiamento privado.
A redução na atratividade das LCAs pode quebrar a atual dinâmica de oferta e demanda, prejudicando o fluxo de capital para setores estratégicos.
Ademais, a medida corre riscos políticos e jurídicos. Propostas como a tributação de CRIs e CRAs — títulos com natureza privada — podem enfrentar resistência no Congresso e eventuais contestações judiciais.
Apesar da reação inicial do mercado ser levemente positiva, o sentimento geral ainda é de cautela.
Jeff Patzlaff alerta que a proposta, para surtir efeitos positivos, exige clareza nas contrapartidas e diálogo transparente com o mercado.
Caso contrário, o ruído gerado será maior que os ganhos fiscais.
O investidor busca previsibilidade.
O mercado exige responsabilidade fiscal de longo prazo. Ajustes pontuais, embora necessários, não substituem uma reforma ampla e eficaz.