Zeina Tatif e Murillo Aragão (Foto: reprodução/ XP Investimentos/ MDA Advogados)
Zeina Tatif e Murillo Aragão (Foto: reprodução/ XP Investimentos/ MDA Advogados)

Tendo em vista as eleições de 2026, Zeina Latif, associada da Gibraltar Consulting, definiu o atual momento como “dominância fiscal”: em que as medidas apenas “empurram com a barriga” o problema fiscal do Brasil.

Economista participou da plenária “O que esperar de 2026? Impactos de decisões mundiais na economia nacional em ano de eleições” – que também contou com a presença de Murillo Aragão, CEO da Arko Advice, Sócio Fundador da MDA – durante o Congresso Planejar, realizado no Hotel Unique, em São Paulo (SP), nesta terça-feira (4).

Para Latif, a atual agenda fiscal está equivocada desde o diagnóstico e “é algo que estamos empurrando com a barriga.” Para ela, o Brasil precisa ter uma perspctiva de ajuste fiscal em que se tenha clareza do que está sendo operado. “Tudo está muito improvisado”, comentou.

Ela alertou para o risco da “dominância fiscal”, quando a política monetária perde eficácia diante do descontrole das despesas públicas. “Os momentos de pandemia mostraram a resistência da inflação […] O que mais preocupa é quando os agentes econômicos pedem um preço maior para o governo sustentar a dívida mais à frente”, avaliou. “Aumentar o juro apenas empurra o problema e não o resolve — é um quadro de dominância fiscal.”

 Latif avaliou que a eleição de 2026 ocorrerá em um ambiente de baixa confiança e presidencialismo enfraquecido. A capacidade de articulação política será o principal teste para o próximo presidente. Apesar das incertezas, ela ressaltou que o mercado brasileiro mantém certa resiliência e tende a responder mais a fundamentos do que a retórica eleitoral.

Além disso, a executiva disse que percebe espaço para que o Brasil se consolide como ator relevante e confiável nas relações comerciais globais, especialmente se conseguir transmitir estabilidade institucional e previsibilidade econômica.

País internacionalizado, mas não globalizado

Para Murillo Aragão, o Brasil participa das dinâmicas globais, mas ainda tem uma mentalidade econômica e política doméstica, pouco integrada ao fluxo decisório internacional.

Ele destacou também a importância de compreender a política como variável central para decisões de investimento. “Nós, como investidores e assessores, temos que interpretar o agente político.”

Aragão acredita que, em 2026, a pauta de segurança pública será decisiva para a sucessão do atual governo e que “O Sul do país é o triângulo das bermudas de Lula.”

Murillo Aragão destacou “a direita está engarrafada em Bolsonaro”, sufocando alternativas de centro e dificultando a reorganização da direita. Ao mesmo tempo, essa polarização acaba fortalecendo Lula, que, segundo ele, “antecipa” pautas políticas para consolidar sua base antes do próximo pleito. Nesse contexto, Aragão enxerga que Eduardo Bolsonaro e Donald Trump agem como cabos eleitorais do petista.

Durante o painel, ambos os participantes demonstraram preocupação com a erosão da governabilidade e da agenda política da atual gestão. Na visão de Murillo Aragão, o Executivo  perdeu capacidade de articulação, o Legislativo atua de forma fragmentada e o Judiciário preenche vácuos políticos. Nesse contexto, as emendas parlamentares surgem como o novo ponto de tensão no equilíbrio entre os poderes.