Os números recentes de crescimento do PIB do terceiro trimestre da China apresentando desaceleração e frustrando as expectativas do mercado, deixa cada vez mais evidente o “quebra-molas” que a economia global enfrentará no segundo semestre do ano.
Ao que parece estamos vivendo uma tempestade perfeita, com questões como crise energética global, problemas nas cadeias de suprimento, problemas de endividamento em setores específicos (como o imobiliário chinês), inflação elevada e queda da confiança do consumidor.
No momento todos os holofotes parecem estar direcionados para a economia chinesa.
Uma das principais forças motrizes das últimas décadas, as tão esperadas mudanças econômicas e ambientais do país parecem estar finalmente acontecendo, com o governo desejando uma economia menos dependente de exportações, mais estável e menos especulativa. Neste último, o governo tem avançado com planos para um imposto nas propriedades, enfraquecendo ainda mais o setor imobiliário e caracterizado por ser um setor bastante especulativo. Assim como implementando alvos de descarbonização e redução da poluição industrial em determinadas províncias.
O grande “porém” disso tudo é que tais mudanças deverão se fazer a um custo global, onde menores expectativas quanto a velocidade de crescimento da atividade econômica já se faz refletidas nos preços de algumas commodities e projeções de lucros de empresas.
Mais especificamente, se tratando do setor imobiliário chinês, todos os temores do desencadeamento de calotes e contaminação para outros setores econômicos do país, se não do sistema financeiro global, e as falas do governo de que está tudo sob controle, não tem sido o suficiente para aliviar a pressão negativa no preço das ações das empreiteiras e das commodities que possuem uma forte correlação com o setor – como é o caso do minério de ferro.
Além disso, todos os dados que corroboram o cenário de desaceleração não ajudam, e trazem um choque de realidade, um tanto que forte, eu diria, para os investidores que outrora precificavam um céu de brigadeiro até 2022.
Em suma, apesar de termos alguns setores que podem se beneficiar em parte dessa tempestade, como é o caso do setor de petróleo e uma alta dos preços que pode ser contrastada por uma redução no volume consumido (daí o “em parte”), o que temos na verdade é um segundo semestre bastante desafiador, do ponto de vista econômico, com reflexo acontecendo no preço dos ativos financeiros e que deverá perdurar por mais algum tempo.
Assim, com muitas das questões atuais levando tempo para serem resolvidas e outras chegando para ficar (mudanças na China sendo fruto de mudanças políticas definitivas), espere nada mais, nada menos que uma manutenção de volatilidade elevada e incertezas ao menos até o fim do ano para a economia global – no caso brasileiro as eleições do ano que vem alimentarão a volatilidade por mais tempo.
Em outras palavras, janelas de oportunidade deverão se manter abertas para aqueles que tem um horizonte de investimento de longo prazo, resta a saber por quanto tempo e em que amplitude…