Desde que a Camex (Câmara de Comércio Exterior), ligada ao Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) aprovou, na terça-feira (23), a proposta do governo de criação de cotas de importação para alguns tipos de aço, as apostas em relação à taxação do excesso da commodity voltaram à tona.
O Governo Federal estuda sobretaxar em 25% as importações que, no ano passado, ultrapassaram em 30% a média das compras nos três anos anteriores. Neste caso, o Imposto de Importação maior vai incidir sobre produtos que entraram no país em 2023.
Com a aprovação, a Camex atende a uma demanda das siderúrgicas brasileiras, que temem o ritmo forte de exportação de aço da China e, consequentemente, a quebra das empresas.
A grande questão é que, o que deveria ser apenas uma medida de proteção da indústria nacional é, na verdade, um dilema, já que há temores em relação a retaliações comerciais e processo inflacionário.
Especialistas ouvidos pelo BP Money explicam o ritmo forte de exportação chinês e avaliam cenários possíveis para o setor siderúrgico brasileiro.
A concorrência desleal entre aço nacional e chinês
Em 2023, as importações do aço produzido na China cresceram 50% e a alta é justificada pelo preço, já que a commodity produzida no exterior tem chegado, em média, a um valor 10% inferior comparado ao mercado nacional, segundo a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção).
André Colares, sócio da Smart House Investments, explica que a vasta capacidade de produção e os avanços tecnológicos permitem à China produzir aço a custos relativamente baixos.
A produção é tamanha que a demanda interna não consegue absorvê-la por completo, especialmente em períodos de desaceleração econômica, como o atual, o que incentiva as exportações.
Além disso, Fabio Murad, sócio da Ipê Investimentos, chama atenção para o fato de que o aço chinês é subsidiado pelo governo local.
Portanto, a taxação em 25% sobre o excesso de aço importado da China poderia oferecer um alívio à indústria siderúrgica brasileira, destaca Murad. “Se for adiante, vai proteger o setor da concorrência estrangeira e ajudar a manter empregos”, destaca Murad.
Colares também pontua que a sobretaxação do aço ajudaria a reduzir o risco de dumping, “prática em que empresas exportam produtos a preços abaixo do mercado para ganhar quota de mercado”.
Os “contras” da decisão
O fogo cruzado, porém, diz respeito às relações comerciais brasileiras, bem como a inflação no país.
“A taxação pode levar a preços mais altos para os consumidores e para os setores que dependem do aço como matéria-prima, como a construção civil e a indústria automobilística”, pontua Fábio Murad.
Ademais, o Brasil pode vir a sofrer com retaliações comerciais – e não só da China – já que outros mercados globais, em que as importaçoes chinesas são significativas, podem ser impactados.
“Regiões como Estados Unidos, União Europeia e países emergentes na Ásia e América Latina podem experimentar aumentos de preços e alterações nas cadeias de suprimento, além de possíveis disputas comerciais em organismos internacionais”, explica André Colares.
Em meio ao dilema, Colares defende “abordagem cuidadosa” em relação ao tema, visto que as decisões terão implicações douradouras para a indústria siderúrgica e para a estrutura econômica do Brasil, no geral.
“É preciso equilibrio entre proteção industrial e necessidades de uma economia interconectada globalmente, promovendo inovação e competitividade sem recorrer excessivamente a barreiras protecionistas”, diz.