Agenda ESG ganha reforço de entidades setoriais

Associações e confederações começam a se movimentar para ajudar o mercado nessa jornada

Empresas e investidores brasileiros têm ganhado novos aliados na agenda ESG (sigla em inglês para os princípios ambiental, social e de governança): as entidades setoriais. Do estímulo a boas práticas à criação de parâmetros, associações e confederações começam a se movimentar para ajudar o mercado nessa jornada.

Um dos exemplos mais recentes vem da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), que, no início de dezembro, definiu critérios de identificação para os investimentos sustentáveis.

A partir de janeiro de 2022, os fundos que têm a sustentabilidade como objetivo poderão solicitar o sufixo IS (investimento sustentável). Para isso, é preciso que a carteira esteja alinhada ao propósito estabelecido, sem que nenhum ativo o comprometa.

A autorregulação vai ao encontro de uma das principais reivindicações do mercado nessa agenda: a padronização. Definir parâmetros comuns é um desafio global quando se trata de ESG -o que afeta tanto os investidores como as empresas.

Ajudar na construção desses critérios também mobilizou a Abrasca (Associação Brasileira das Companhias Abertas) e a Amec (Associação de Investidores no Mercado de Capitais). Em novembro deste ano, as entidades deram início ao Fórum ESG, iniciativa que reúne empresas e investidores a fim de contribuir para a convergência de padrões.

Segundo Eduardo Lucano, presidente-executivo da Abrasca, há um excesso de indicadores disponíveis para as companhias divulgarem suas iniciativas sustentáveis.

É uma sopa de letrinhas. Existe o GRI (Global Reporting Initiative), o TCFD (Task Force on Climate-Related Financial Disclosures), o CFD (Carbon Disclosure Project), entre outros tantos “frameworks”, como são chamados.

“Tem companhia que produz 430 indicadores”, diz Lucano. “O que a gente espera com o fórum é, em primeiro lugar, contribuir para a convergência, porque um dos problemas do ESG é a polifonia de padrões”, acrescenta.

A Abrasca reúne companhias de todos os setores econômicos brasileiros, e suas associadas somam 85% do valor de mercado da Bolsa de Valores. De acordo com o presidente, algumas empresas já lidam com sustentabilidade há anos, enquanto outras estão apenas no início.

“Um papel das associações é transmitir essa experiência, todo esse know-how acumulado pelas grandes [empresas], para facilitar e baratear a jornada ESG das companhias que estão começando”, diz.

Juliana Ramalho, sócia de ESG do escritório Mattos Filho, diz que a agenda socioambiental chegou às entidades setoriais, mas algumas estão mais engajadas que outras.

“O ESG entrou para valer nas associações ligadas ao mercado financeiro, porque essa é uma pauta do investidor. Mas ainda não é tão evidente em todas. Assim como as empresas, as associações estão tentando entender qual é essa jornada”, afirma.

Na visão dela, as entidades podem trabalhar a agenda da sustentabilidade de maneira mais ampla, já que congregam diferentes companhias.

“A capilaridade que essas associações têm é um potencial para fazer mudanças mais rápidas e num espectro maior do que só cada empresa [agir]. Elas têm um grande papel no ESG”, diz.

Capilaridade também é a palavra usada por Davi Bomtempo, gerente-executivo de meio ambiente e sustentabilidade da CNI (Confederação Nacional da Indústria), ao descrever como a entidade pode impulsionar os princípios ambiental, social e de governança.

Segundo ele, a CNI tem atuado para mostrar a relevância do tema nos negócios, e o alcance da entidade no país é um facilitador.

“Um desafio que nós estamos vencendo é o de mostrar a importância do ESG em nível estratégico para as empresas. É o desafio de explicar que essa agenda vai ser exigida em termos de competitividade e inserção em cadeias globais.”

O papel de facilitador que a confederação desempenha é outro ponto destacado por Bomtempo.
O diretor cita dois guias lançados em 2020 para ajudar companhias na captação de recursos para projetos de baixo carbono e de adaptação às mudanças climáticas.

“Sabemos que existem recursos disponíveis internacionalmente e que podem ser usados em nível doméstico, mas grande parte dos empreendedores e industriais ainda não tem esse conhecimento”, diz.

ENTIDADES PODEM SER INDUTORAS DO ESG

Além de facilitar a jornada sustentável dos negócios e criar parâmetros para o mercado, as entidades de classe também podem impulsionar boas práticas internamente.

Juliana Ramalho, do escritório Mattos Filho, lembra que as companhias precisam cumprir com determinados requisitos para fazer parte de uma associação. “Eventualmente, a entidade pode definir que um dos critérios é adotar políticas ESG”, comenta.

É o que tem sido estudado pela Abralatas (Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio). De acordo com o presidente Cátilo Cândido, as associações estão se transformando, adotando um papel político maior, e é normal que elas sejam indutoras de boas práticas.

Ele cita os critérios de compliance exigidos pela Abralatas. Para se associar, uma companhia deve ter um código de conduta, entre outras políticas internas.

“Toda empresa passa por um crivo jurídico para ver se o compliance combina com o que foi aprovado pelo nosso conselho”, diz Cândido.

Segundo ele, isso também deve acontecer com os critérios ESG em breve. “Quer fazer parte da associação? Vai precisar ter pelo menos [a participação em] um índice de sustentabilidade.”

No momento, a entidade está compilando as iniciativas de cada empresa para entender qual seria o melhor desenho para uma nova política de entrada.

“Acho que as associações não precisam criar nada novo. Se nós estabelecermos metas e requisitos mínimos para pertencimento, já fizemos um papel”, afirma.

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