Muito fogo. Esse é o cenário observado em boa parte do Brasil desde agosto, quando as queimadas se tornaram mais preocupantes, atingindo 5,65 milhões de hectares. Os impactos ao agronegócio tão logo foram sinalizados, mas os prejuízos estão longe de parar por aí: chamas invadem outros setores, pressionam a inflação e podem afugentar investidores.
Especialistas consultados pelo BP Money elencaram outros seis setores da economia que sofrem impactos relevantes decorrentes das queimadas. O de energia é um deles, explicou Washington Mendes, gestor financeiro e CEO da WMO Digital.
“Em países que dependem de energia hidrelétrica, como o Brasil, queimadas podem agravar a seca e reduzir a capacidade de geração de energia. Isso pode aumentar a dependência de fontes mais caras, como termoelétricas, elevando os custos”, disse Mendes.
A indústria também não deve sair ilesa. Isso porque a poluição gerada pelas queimadas pode impactar diretamente as operações industriais, especialmente aquelas em regiões próximas aos focos. “Isso pode forçar reduções na produção ou aumentar os custos operacionais, devido às medidas para mitigar os efeitos da poluição”, pontuou o gestor.
Na mesma linha, a poluição gerada pelo fogo intenso deve gerar sobrecarga para o setor de saúde público, visto que há aumento na demanda por serviços médicos, especialmente relacionados a doenças respiratórias.
Setores de seguros, por sua vez, podem ter os custos de operação elevados, uma vez que deve haver um aumento nos pedidos de indenização, tanto de propriedades agrícolas destruídas quanto de áreas afetadas por danos ambientais.
“Isso gera maior custo de operação e pode elevar os preços de seguros, afetando diversos setores econômicos”, disse Washington Mendes.
Jenni Almeida, especialista em finanças e CEO da Invest4U, chamou atenção ainda para o turismo e transportes, que devem ser diretamente impactados com as queimadas.
“Cidades que dependem do turismo podem ver suas receitas reduzidas, impactando a economia local. O setor de transporte também sofre com a visibilidade reduzida causada pela fumaça das queimadas, aumentando os riscos de acidentes e os custos logísticos”, afirmou Almeida.
Inflação pressionada
Os prejuízos aos setores econômicos citados, somados aos impactos à produção agrícola, podem ser repassados para o consumidor final, sejam nos alimentos, contas de luz ou custo logístico. Isso, segundo Jenni, pode gerar um “ciclo inflacionário que se espalha por diferentes áreas da economia, criando um efeito cascata”.
“Em momentos de crise ambiental, a instabilidade nos preços se acentua, e setores que dependem fortemente de insumos ou transporte tendem a repassar esses aumentos aos consumidores. O resultado é uma inflação mais alta, não apenas nos alimentos, mas em uma gama de produtos essenciais”, explicou a especialista.
Investidores estrangeiros x crise ambiental
Ainda de acordo com os especialistas, as queimadas e a crise ambiental associada podem afugentar investidores estrangeiros, em especial aqueles ligados à pauta ESG (ambiental, social e governança).
“Nos últimos anos, a pressão para que grandes empresas e investidores sigam práticas sustentáveis aumentou exponencialmente. Queimadas e desmatamentos são vistos como indicadores de gestão ambiental inadequada, o que pode gerar desinteresse por parte de investidores preocupados com sua imagem e com a sustentabilidade de suas operações a longo prazo”, destacou Almeida.
Além disso, Washington Mendes enfatizou as incertezas fiscais geradas devido à degradação ambiental, que comprometem a atratividade de certos setores econômicos para investimentos.
“Investidores podem ver países com crises ambientais como locais de maior risco econômico, não apenas pela instabilidade gerada pela degradação ambiental, mas também pelos potenciais efeitos negativos de longo prazo sobre a produtividade agrícola, energética e a saúde pública, o que pode prejudicar o crescimento econômico sustentável”, disse Mendes.