Alta de juros reduz expectativas do setor automotivo para 2022

A junção de falta de peças, aumento do preço dos carros, alta dos combustíveis e encarecimento do crédito prejudicam as vendas

 

Após um ano com crescimento de apenas 3% nas vendas de carros de passeio, comerciais leves, ônibus e caminhões, a Fenabrave projeta um 2022 igualmente morno.

A entidade, que representa os distribuidores de automóveis, motos e caminhões, divulgou suas previsões nesta quinta (6). A expectativa é de crescimento de 4,6% na comercialização de veículos leves e pesados.

O número se baseia na realidade do mercado e é bem diferente do previsto em janeiro de 2021, quando a Fenabrave projetou um crescimento de 16%. O setor passava por uma recuperação em V, que logo se mostrou inconsistente diante dos problemas que vieram na sequência.

A junção de falta de peças, aumento do preço dos carros, alta dos combustíveis e encarecimento do crédito continua a prejudicar as vendas -que também devem ser afetadas pelo período eleitoral, quando o consumidor evita fazer grandes dívidas.

“Ainda vivemos uma crise global de abastecimento de insumos e componentes, e novos desafios têm surgido para o setor, como os constantes aumentos das taxas de juros”, diz José Maurício Andreta Júnior, eleito presidente da Fenabrave para o triênio 2021-2024.

Para a economista Teresa Maria Fernandez, da MB Associados, o que ocorre é uma mudança de política monetária no mundo, com maior agressividade de elevação das taxas básicas.

Nesta quarta (5), o Fed (Banco Central americano) divulgou a ata de sua última reunião, que indica a necessidade de se aumentar os juros antes do esperado diante da pressão inflacionária, o que vai gerar a valorização do dólar diante do real. No Brasil, o movimento de alta tende a persistir.

“Acreditamos que o nosso Banco Central vai manter a política de aumento de juros, e a taxa Selic deve fechar o ano entre 11,5% e 12%”, afirma a economista.

A Fenabrave espera que 2,216 milhões de veículos leves e pesados sejam licenciados em 2022. No ano passado, foram vendidas 2,12 milhões de unidades.

Ao destrinchar os números, é possível confirmar a estratégia das montadoras em meio à escassez de componentes. As empresas direcionaram seus esforços para a produção de modelos com maior valor agregado. Portanto, mais rentáveis.

Enquanto o segmento de carros de passeio -que é o de maior volume e inclui os carros compactos- teve queda de 3,6% ao longo do ano passado em relação a 2020, os veículos comerciais leves, nicho em que estão os utilitários esportivos e as picapes, registrou alta de 24,2% no mesmo período.

O recorte do setor de caminhões mostra que foram vendidas 127,4 mil unidades em 2021, com alta de 42,8% em relação a 2020. A alta foi puxada principalmente pelo agronegócio. A Fenabrave espera que a expansão se mantenha em 2022 e projeta um crescimento de 7,3% ao longo do ano.

Ainda há filas de espera: alguns veículos pesados negociados no fim do último ano só devem ser entregues em junho. O mesmo problema afeta o setor de veículos leves, devido aos problemas de fornecimento. Os dados de produção serão divulgados nesta sexta (7) pela Anfavea (associação das montadoras).

Os resultados foram bons no segmento de motocicletas, que fechou 2021 com 1,16 milhão de unidades comercializadas. Houve alta de 26,4% sobre o ano anterior, e a associação dos revendedores espera que as vendas cresçam 6,2% em 2022.

Samir Dahas Bittar, vice-presidente da Fenabrave, destaca que a expansão do setor de motos se deve aos serviços de delivery de alimentos e de mercadorias. Essa tendência segue forte desde o início da pandemia de Covid-19, em março de 2020.

Mas há o problema do crédito neste segmento. Segundo a Fenabrave, apenas 35% das fichas de clientes apresentadas aos bancos têm sido aprovadas.