RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Antigos hotéis começam a mudar de cara -e função- no Rio de Janeiro. Com a demanda por hospedagens fragilizada nos últimos anos, estabelecimentos tradicionais da capital fluminense tornaram-se alvos do mercado imobiliário.
Na prática, construtoras e investidores buscam transformar os espaços em prédios residenciais ou de escritórios. A mudança é chamada de reconversão ou retrofit.
Com isso, quem antes queria ser hóspede pode virar dono de um imóvel nos edifícios.
Até julho, três projetos que visam a transformação de antigos hotéis em prédios residenciais foram licenciados junto à prefeitura carioca. A informação foi confirmada pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação.
Nos próximos meses, o número tende a aumentar, diz Alfredo Lopes, presidente do HotéisRIO (Sindicato dos Meios de Hospedagem do Município do Rio de Janeiro). Ele prevê que o número de estabelecimentos nesse processo pode chegar a 20.
A estimativa está baseada no interesse relatado por empresários, diz Lopes. O HotéisRIO representa cerca de 380 empresas do setor, incluindo pousadas e albergues.
Segundo Lopes, a expansão da rede hoteleira, seguida pela queda na demanda por hospedagens, ajuda a explicar a procura por esse negócio.
Em 2009, o Rio tinha cerca de 32 mil quartos de hotéis. Com eventos como a Copa do Mundo, em 2014, e Jogos Olímpicos, em 2016, o número quase dobrou na última década, chegando a encostar nos 62 mil, estima o dirigente.
O problema é que, entre 2014 e 2016, o Brasil embarcou em uma severa crise econômica. A retomada pós-recessão não aconteceu, e a chegada da pandemia, em 2020, prejudicou ainda mais o setor.
Hoje, o número de quartos de hotéis na cidade está em torno de 48 mil, aponta Lopes. Segundo ele, 80 estabelecimentos suspenderam as operações em abril do ano passado, e 12 fecharam de vez.
“Houve falta de investimento em turismo após as Olimpíadas. Veio a crise econômica, depois a pandemia. O setor foi brutalmente abalado”, diz. “É natural que, agora, o mercado tente se equilibrar”, completa.
Um dos hotéis já em fase de reconversão é o Glória, primeiro cinco estrelas do país. O Opportunity Fundo de Investimento Imobiliário quer transformar o prédio em residencial com 256 unidades.
O número inclui up gardens (jardins privativos) de um a dois quartos, com 138 a 314 metros quadrados, além de apartamentos de dois a quatro quartos, com 70 a 229 metros quadrados.
“A ideia é atender quem busca espaços mais compactos e pessoas que desejam plantas mais generosas. O contemporâneo estará presente sem deixar de lado as características icônicas do hotel”, comenta Jomar Monnerat, gestor do Opportunity, em nota.
Inaugurado em 1922, o Glória está fechado há anos por um impasse. Em 2020, o Opportunity adquiriu o edifício do Mubadala, fundo de Abu Dhabi, que o havia recebido como acerto de dívidas do grupo EBX, de Eike Batista.
Eike havia comprado o hotel em 2008 para oferecer hospedagem de luxo para a Copa. As obras pararam em 2013.
Para analistas, a localização dos estabelecimentos serve de estímulo para investidores.
“Hotéis costumam ser construídos em bons lugares, onde terrenos são escassos. Ao comprar um prédio assim, o investidor foge do risco da construção. Só entra com o retrofit. A obra é feita em tempo reduzido e com custo menor”, diz Sylvio Pinheiro, da G+P Soluções, que atua na gestão de projetos e construções.
Outro projeto de reconversão é o do Hotel Flamengo Palace, fundado nos anos 1970. Daniel Afonso, diretor da D2J Construtora, responsável pela obra, confirma que a localização pesou na escolha do prédio, próximo à Praia do Flamengo, zona sul do Rio.
A empresa quer transformá-lo em um residencial com 42 unidades de 36 ou 56 metros quadrados, que devem ficar prontas até abril de 2022.
Afonso prevê investir R$ 25 milhões. O rooftop e parte das unidades têm vista para o Pão de Açúcar, um dos cartões-postais cariocas.
O Hotel Paysandu, também no Flamengo, é outro na lista. A construtora Piimo o comprou em 2020. O projeto terá 48 unidades com 28 a 80 metros quadrados. A entrega está prevista para o primeiro trimestre de 2023.
“O hotel estava fechado havia quatro anos, em estágio avançado de deterioração. É muito bem localizado”, diz Marcos Saceanu, da Piimo.
“Estamos devolvendo o prédio à sociedade, um projeto de apartamentos pequenos, tendência difundida em São Paulo e que começa a tomar corpo no Rio”, diz o empresário.