Em abril, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) apresentou uma variação de 0,38%, superando em 0,22 ponto percentual registrado em março, que foi de 0,16%. De acordo com especialistas ouvidos pelo BP Money o resultado ficou acima da mediana das projeções.
No acumulado do ano, a inflação alcançou 1,80%, enquanto nos últimos 12 meses o aumento foi de 3,69%, uma queda em relação aos 3,93% registrados nos 12 meses anteriores.
Maykon Douglas, economista da Highpar destacou que a inflação medida pelo IPCA superando as projeções de mercado, marcando um aumento em relação ao mês anterior.
“Foi um número um pouco acima das projeções de mercado (0,35%) e superior aos 0,16% registrados na leitura anterior. Em doze meses, o índice desacelerou de 3,93% para 3,69%”, afirmou.
O profissional ressalta o impacto positivo dos grupos de alimentos e saúde/cuidados pessoais no índice, ao passo que observa uma desaceleração nos núcleos de inflação e nos serviços subjacentes.
Por outro lado, André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, aponta para uma variação mensal em linha com o esperado, destacando a pressão negativa em itens de residência e a pressão positiva de produtos farmacêuticos e alimentos.
Fernandes enfatiza a preocupação com os serviços subjacentes, enquanto os juros futuros operam em queda.
“A dinâmica aconteceu com serviços subjacentes, o grupo apresentou alta de 0,32%, isso significa 4,80% dessazonalizado e anualizado. Este movimento está em linha com o esperado, conforme temos alertado que será uma janela de leituras de inflação qualitativa boa. Pelas nossas projeções, isso poderá permanecer por mais algumas leituras para depois reverter o movimento e iniciar a reaceleração”, availou
Já Andréa Angelo, da Warren Investimentos, analisa o IPCA de abril como próximo das projeções, com desaceleração em serviços intensivos em trabalho e serviços subjacentes. Ela também observa movimentos baixistas e altistas em diversos setores, prevendo uma volatilidade de curto prazo devido aos impactos das enchentes no RS.
Primeiro IPCA pós copom amplia atenção do mercado
Após a mudança de rumo do Banco Central, com a nova taxa de juros definida pelo Copom (Comitê de Política Monetária) o IPCA ganha ainda mais relevância.
A autoridade monetária vinha demonstrando preocupação com a robustez de certos indicadores econômicos no Brasil, especialmente do mercado de trabalho, que poderiam resultar em maior inflação. Isso levantou dúvidas sobre a continuidade do ritmo de redução da Selic.
Na última reunião do Copom, realizada na quarta-feira (8), o Banco Central reduziu a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual.
Essa decisão contrasta com os cortes de 0,5 ponto percentual que vinham sendo adotados desde agosto do ano anterior.
Agora, os investidores estão atentos não apenas aos dados de inflação, mas também aos indicadores da economia brasileira para tentar antecipar as próximas ações do Banco Central.
Impacto dos Grupos de Alimentos e Saúde/Cuidados Pessoais
Maykon Douglas destaca que os alimentos e a saúde/cuidados pessoais foram os principais responsáveis pela alta no IPCA de abril.
O especialista menciona que o aumento nos preços dos alimentos consumidos em domicílio impulsionou esse grupo, enquanto os produtos farmacêuticos tiveram reajustes significativos.
Andre Fernandes concorda com essa análise, ressaltando que o aumento nos preços do tomate, cebola e mamão contribuiu para a pressão altista nos alimentos. Ele também menciona o impacto dos produtos farmacêuticos, que registraram forte alta devido aos reajustes autorizados.
Desaceleração nos núcleos de inflação e serviços subjacentes
Maykon Douglas enfatiza a desaceleração nos núcleos de inflação e nos serviços subjacentes, o que inicialmente parece ser um aspecto positivo. No entanto, ele alerta que o quadro econômico robusto e o impacto das enchentes no RS sobre os alimentos podem gerar instabilidade.
Andréa Angelo também observa essa desaceleração, mencionando que os serviços intensivos em trabalho e os serviços subjacentes entraram em uma fase temporária de estabilidade. Ela projeta uma possível reversão desse movimento no futuro.
Perspectivas futuras e impactos das enchentes no RS
Os especialistas divergem em suas projeções para os próximos meses. Andre Fernandes sugere que se o IPCA seguir comportado e os serviços subjacentes continuarem desacelerando, poderemos ver cortes na SELIC. O economista vincula essa possibilidade ao cenário externo e à política monetária do FED.
“Acreditamos que o grupo de serviços subjacente poderá encerrar o ano próximo a 6% vindo de 4,8% no ano anterior”, disse.
Por outro lado, Andréa Angelo ressalta a volatilidade esperada devido às enchentes no RS, destacando que as projeções para o IPCA deste ano e do próximo podem ser influenciadas por esses eventos.
“Para frente, por ora, esperamos IPCA de maio em 0,32% e 0,16% em junho. Vamos fazer alguns ajustes pontuais, no entanto, vale lembrar que a inflação de curto prazo poderá se mostrar muito volátil tendo em vista a difícil mensuração dos efeitos das enchentes no RS. Esperamos que o IPCA deste ano e de 2025 encerre em 3,80%” avaliou.