Lula: arcabouço e agenda positiva marcaram 1º semestre do governo

O BP Money pediu uma análise da economia brasileira nos 6 primeiros meses do governo Lula para nomes conceituados do mercado financeiro

Nesta semana se encerram os seis primeiros meses do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Consagrado vitorioso da disputa eleitoral mais acirrada da história do Brasil, o petista tinha como um de seus principais desafios “fazer a roda gigante da economia girar”, como o mesmo definiu inúmeras vezes em seus discursos de campanha. 

No primeiro semestre de 2023, a economia tem apresentado números animadores sob diversas óticas. O PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 1,9%, acima da expectativa do mercado;  IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) desacelerando e dólar na casa dos R$ 4,70, tornam a expectativa alta. 

O BP Money pediu uma análise do atual quadro da economia brasileira para nomes conceituados do mercado financeiro. Embora não atribuam em sua totalidade o desempenho positivo às políticas do governo Lula, eles concordam que a equipe econômica do petista tem sua parcela de responsabilidade no resultado e no otimismo que contamina cada vez mais a bolsa de valores. 

Estabilidade política

Para o economista e CEO da Ativo Investimentos, Diego Hernandez, a estabilidade política que o novo governo trouxe deu mais segurança aos investidores. Hernandez avalia que existia de fato uma dúvida sobre os rumos da democracia no Brasil, o que afastou possíveis investimentos no país. 

Em sua análise, o economista ressalta que a garantia constitucional e as sinalizações de um plano fiscal sério foram os primeiros grandes feitos do atual governo. 

“Acredito que seja pouquíssimo tempo para mensurar algum reflexo sobre alguma tomada de decisão na economia, então o que eu acho que mais pesou e gerou impacto benéfico para foi a questão constitucional e jurídica. No primeiro momento você tinha uma preocupação enquanto as instituições democráticas para saber o que aconteceria, se haveria algum empecilho à democracia, por outro lado, uma preocupação enquanto ao governo mais de esquerda e ferir a responsabilidade fiscal. Nada disso aconteceu”, iniciou. 

“Na primeira semana de governo tivemos uma entrada maciça de dólares na economia brasileira, onde tivemos uma depreciação do dólar enquanto ao real, porque você tinha no governo passado uma série de fundos de investimentos travados para serem aplicados no país por conta da insegurança política”, exemplificou.  

Em relação ao PIB, Hernandez descarta qualquer influência do atual governo e coloca o resultado na conta do agronegócio. “Tivemos 1,9% de crescimento do PIB sendo que 1,4% foi do agro. Foi mais um crescimento respaldado por conta de um excesso de oferta, uma oferta muito boa, por causa do aumento da safra do que necessariamente alguma medida econômica que tenha sido benéfica neste período”, afirmou. 

Dólar e inflação

Para o CEO e sócio fundador da FIDD, Pedro Salmeron, não há dúvidas que o governo influenciou na baixa do dólar e na redução da inflação. “Temos uma questão de conjuntura positiva que o país está enfrentando e a queda do dólar é bastante significativa neste ponto, porque se o risco país começa a diminuir e a perspectiva fiscal está estável, a taxa de juros é um atrativo absurdo para o investidor estrangiero voltar a aportar recursos no país, voltar a fazer outros projetos aqui. Acho que essa agenda melhorou bastante”, justifica Salmeron.

O executivo acredita que a inflação tem mais a ver com a estabilização da economia no pós-pandemia, mas que ainda assim, o governo vem ajudando na redução do índice. “A economia volta a ficar mais racional e a inflação cai, e sim, o governo tem influência nisso principalmente na questão fiscal que pode não ser perfeita, mas é uma sinalização positiva”, argumenta. 

Já Diego Hernandez, reforça que o arcabouço fiscal foi um divisor de águas para a administração de Lula e que a recepção do mercado surpreendeu. “A apresentação do arcabouço fiscal foi algo muito bem recebido pelo mercado. Tinhamos os juros de longo prazos extremamente abertos com taxas estratosféricas e após a apresentação do arcabouço o mercado foi se acostumando e dando mais credibilidade para a economia brasileira de longo prazo. Acho que é um divisor de águas por mostrar que o governo de certa forma está comprometido em não ter um gasto desenfreado em benefício do lado real da economia, geração de emprego, populismo ou algo do tipo, que era um grande problema. O governo teve uma virada de chave. As variáveis macroeconômicas e o mercado como um todo mostraram uma sinalização bem positiva”, pontuou.

Projeções

O cenário para o próximo semestre se mostra também bastante positivo. “A agenda de investimento em geral será retomada com muita força. Estamos vendo muitos agentes se mexendo no país e acho que a gente vai ter um crescimento de mercado de capitais muito expressivo no segundo semestre”, avaliou Pedro Salmeron.

O CEO da FIDD, porém, alerta para percalços que algumas empresas ainda devem enfrentar nos próximos meses.”Temos muitas empresas que estão em vias de ou pedindo recuperação judicial, por exemplo. Temos muitos fundos de crédito no mercado que ainda estão sofrendo o impacto desses problemas, da alta da inadimplência, do problema de crédito, de solução financeira de algumas empresas. Muitos desses fundos ainda vão entregar resultados negativos e entregar em alguns casos problemas de perdas expressivas, mas isso é pontual. A economia de fato vai caminhar em 2024, quando veremos as taxas sendo baixadas, e veremos alguma aceleração de crédito no país”, disse. 

O CEO da Ativo Investimentos, Diego Hernandez, embora otimista, também usa da cautela para fazer sua análise em relação ao próximo semestre. O economista direciona especial atenção ao texto que será elaborado na reforma tributária.

“A reforma já foi amadurecida há anos, mas acho que é algo que tem que ser discutido com bastante critério, modelagem e não com politicagem. acho que a reforma pode favorecer sim a economia brasileira, mas muitas vezes temos que fazer um cálculo do impacto dos setores que serão beneficiados e dos que não serão beneficiados com isso. possa ser que alguns setores fiquem inviabilizados. a reforma tributária vem gerar um pouco de stress para ver quais frutos vamos ter com isso, benéficos ou não. isso gera um pouco de preocupação”, pontuou.