Economia

Argentina: economista sugere que país adote real ao invés de dólar

Robin Brooks chamou o palno de Milei de dolarizar economia da Argentina de "ideia terrível"

O economista alemão Robin Brooks sugeriu que atrelar o peso ao real pode ser uma melhor saída para a Argentina do que a dolarização. Economista-chefe do IIF, entidade global que representa os bancos, Brooks mantém uma visão positiva sobre o Brasil há anos.

Usuário frequente do Twitter, com 266 mil seguidores, o economista costuma publicar análises econômicas curtas, quase sempre ilustradas por gráficos e frases de efeito. As informações são do jornal “O Globo”.

Brooks sustenta que a cotação justa do dólar por aqui seria de R$ 4,50. Haveria motivos estruturais para a taxa de câmbio cair, como, principalmente, a consolidação do Brasil como grande exportador de soja, milho e petróleo. Isso impulsiona o crescimento econômico, fortalece o real perante o dólar e favorece a queda nos juros.

“A década perdida do Brasil acabou. O crescimento real do PIB voltou onde estava uma década atrás. Talvez nunca tenha havido nada realmente ‘errado’ com o Brasil. O Brasil é um exportador de commodities. Os preços globais de commodities colapsaram em 2014, atingindo o Brasil. Esse choque está acabando, e o Brasil está de volta”, postou Brooks, no último dia 3.

A Argentina ganhou espaço nas postagens do economista do IIF após o surpreendente sucesso do candidato de extrema direita Javier Milei nas eleições primárias do país vizinho, no último dia 13. Para enfrentar a inflação de 100% em 12 meses, uma das principais propostas de Milei é extinguir o peso e colocar o dólar no lugar, plano controverso, mas que parece combinar com o perfil antissistema do candidato.

Dias após o pleito, Brooks chamou o plano de “ideia terrível”. Segundo os comentários do economista, a saída para conter a inflação de 100% na Argentina seria um forte ajuste, equilibrando as contas do governo. Uma recessão poderia ser necessária, escreveu.

Emilio Ocampo, professor da Universidade do Centro de Estudos Macroeconômicos da Argentina (Ucema) integrado à equipe de assessores de Milei para capitanear a proposta de dolarização, disse ao Globo que a sugestão de Brooks é “uma péssima ideia”.

“Os argentinos já têm dólares e não pensam em trocá-los por reais. Ademais, o real está se apreciando. Como se fosse pouco, o Banco Central do Brasil, por razões óbvias, não vê com simpatia a proposta, por risco de contaminação potencial”, disse Ocampo, em mensagem por escrito.

IFF condena dolarização da economia

O Instituto Internacional de Finanças (IIF, na sigla em inglês), publicou um relatório no qual condenou a proposta de dolarização da economia da Argentina do candidato à presidência Javier Milei.

Na avaliação do IFF, uma possível dolarização completa da economia da Argentina poderia reduzir a flexibilidade cambial do país, provocar um atraso cambial e implicar em custo elevados de crescimento a longo prazo.

A entidade, uma associação global do setor financeiro com participantes de mais de 60 países, emitiu nesta sexta-feira (8) um relatório criticando duramente as propostas de Milei, ressaltando os impactos negativos ante os poucos benefícios que as mudanças iriam trazer para a economia argentina.

Segundo o documento, a dolarização de uma economia aumenta o custo da desvalorização da moeda dentro do país, mas acaba a opção de lidar com isso como política monetária, e relembrou que outros casos de dolarização resultaram em “profundas recessões”, segundo o IIF.

O instituto usou como exemplo o Equador, que após dolarizar sua economia em 2000, conseguiu controlar sua inflação, mas desde então vem crescendo abaixo da média da região.

Para o IIF, a dolarização é uma “camisa de força” que facilita uma rápida desinflação às custas de um crescimento estagnado no médio prazo. A instituição desaconselha a implementação na Argentina “dado que a desinflação pode ser alcançada tornando o banco central completamente independente, o caminho seguido por grande parte do resto da América Latina.

O instituto propõe que o problema da economia local é a ampla brecha cambial devido à fixação da taxa de câmbio oficial em um contexto de inflação alta que “trava” as eventuais melhorias de competitividade da desvalorização.

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