Milagre econômico?

Argentina: inflação cai em maio, mas taxa anual ainda é a maior do mundo

Inflação anual próxima aos 300% "aperta" argentinos, que não sentem os efeitos visto que os preços de alimentos superam os salários

Argentina
Foto: Unsplash

Dados referentes ao mês de maio mostram um recuo da inflação na Argentina – provavelmente o nível mais baixo desde 2022.

Porém, com a inflação anual ainda próxima aos 300%, a maior do mundo, argentinos ainda não conseguem sentir os benefícios, visto que os preços de alimentos superam os salários.

A taxa de inflação mensal deve ter caído pelo quinto mês consecutivo em maio, provavelmente para menos de 5%, abaixo do pico de mais de 25% em dezembro, quando Milei assumiu o cargo e desvalorizou drasticamente o peso.

Mas Laura Basualdo, uma comerciante de 53 anos, disse ao InfoMoney que muitas pessoas estão tendo dificuldades para comprar produtos, pois o poder aquisitivo foi corroído pela inflação constantemente alta.

“Sou comerciante e muitas vezes vejo o cliente do outro lado que, claramente, se meus preços não forem bons para ele, ele sai para procurar outras ofertas”, disse Basualdo.

Milei celebra ‘milagre econômico’ na Argentina, mas a que custo?

Economista e professora de MBAs da FGV, Carla Beni explicou ao BP Money a estratégia utilizada pelo Governo Milei para atingir o chamado “milagre econômico”. A especialista pondera que o presidente vem cumprindo sua promessa de produzir o superávit, mas com alguns custos.

De acordo com Beni, o governo realizou cortes, congelando as despesas e deixando que a inflação de mais de 200% as corroessem, aumentando, assim, a receita via imposto inflacionário.

“Quando se tem um processo inflacionário muito elevado, os impostos sobem sozinhos porque a inflação sobe 250% em um ano. Então se não fizer absolutamente nada, a arrecadação sobe fortemente. Nesse cenário, ele não precisou aumentar o imposto, pois a inflação fez esse serviço para ele sobre a receita. Ele impediu que a inflação corrigisse as despesas”, explicou Beni.

Dentre os cortes realizados pelo presidente argentino está o repasse do percentual de impostos para as províncias, especíe de estados aqui no Brasil. Segundo Beni, a medida utilizada pelo governo federal foi crucial para atingir o superávit.

“Existe um fundo de repasse igual ao Brasil, no qual a União repassa um percentual dos impostos para as províncias. Ele deixou de fazer esse repasse e passou a não corrigir as despesas. Com isso, o superávit acontece naturalmente quando se infla a receita e não corrige as despesas, pois passa a produzir um superávit primário que, por conseguinte, produziu o pagamento dos juros que ele tinha que pagar, tendo um resultado fiscal na última linha”, ponderou a especialista.

Já para o economista e professor da Facha, Ricardo Macedo, o superávit ocorreu mais pela corrosão da despesa do que pelo aumento da arrecadação de imposto inflacionário.

“O Milei está tendo resultados em termos de queda de inflação, mas muito em função de cortes drásticos nas despesas. Ele busca o ‘plano motosserra’ de cortar subsídios, realizar privatizações, congelar despesas, entre outros aspectos, fazendo até com que haja uma recessão, pois demite funcionários públicos, corta programas sociais a fim de reduzir a participação do estado para reduzir a demanda”, pontuou Macedo.

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