Argentina: populista de extrema-direita cresce em meio a crise no país

Com discursos provocadores, Javier Milei desponta em meio ao eleitorado cansado da classe política

Javier Milei saiu como o grande vencedor das eleições primárias da Argentina. Deputado em primeiro mandato, o populista de extrema-direita lidera a corrida presidencial do país com um discurso “contra o sistema”.

Ele acredita que o Banco Central deve ser destruido, é a favor da legalização da venda de órgãos, prega que mudanças climáticas são “mentiras socialistas” e que a educação sexual é uma manobra para destruir as famílias. Ele ainda expressou a intenção de eliminar o recém-estabelecido Ministério da Mulher e uma instituição governamental que aborda questões relacionadas ao racismo, restringiria o acesso ao aborto e simplificaria a aquisição de armas em um país onde armas de fogo de origem doméstica são escassas.

Comparado com figuras como Jair Bolsonaro e Donald Trump, o argentino faz parte da “onda” de extrema-direita que avança sobre a America Latina. Com discursos contra a corrupção, Milei surge em meio a uma Argentina devastada pela crise econômica e desponta em meio ao eleitorado cansado da classe política que não consegue resolver o problema. A centro-direita e a esquerda alternaram no poder nos últimos anos, mas nenhuma conseguiu conter a inflação, que atingiu 118% ao ano, ou a disparada do dólar.

Milei sustenta que pode controlar o aumento dos preços ao abandonar a moeda local e adotar o dólar americano como substituto – uma medida que muitos economistas alertam que poderia provocar perturbações financeiras.

Embora os poucos detalhes revelados por Milei sobre sua agenda causem confusão entre os principais economistas, os cidadãos argentinos ansiosos por encontrar uma nova direção parecem não demonstrar grande preocupação diante de suas declarações sobre “queimar” o banco central. Multidões celebram quando ele descreve os políticos como infratores, saqueadores e criminosos responsáveis por prejudicar a economia.

A coalizão de oposição de centro-direita da Argentina chegou no segundo domingo à noite com cerca de 28% dos votos, enquanto o partido atual de esquerda seguiu com cerca de 27% com quase 90% dos votos apurados.

Argentina: mercados e peso são pressionados após vitória da ultradireita

A pressão sobre a moeda e o mercado da Argentina aumentou nas primeiras horas desta segunda-feira (14), após a vitória do candidato libertário de extrema-direita Javier Milei nas eleições primárias.

Durante a campanha, Milei enfatizou que, se eleito, falou em dolarização e dissolução do Banco Central. O resultado de Milei nas primárias surpreendeu ao superar em muito as previsões obtendo cerca de 30% dos votos, com 90% das urnas apuradas.

Em resposta ao resultado preliminar, o BC da Argentina decidiu desvalorizar o peso em 22% e, para compensar essa queda, elevou a taxa básica de juros em 21 p.p., para 118%. 

Com isso, um dólar passa a valer 350 pesos. No mercado paralelo, o “blue” está cotado acima de 600 pesos.

Na abertura do mercado, o principal índice de ações S&P Merval perdia 3,5%, para 463.471 pontos, ante aos 480.914,59 pontos do fechamento da sexta-feira (11).

Para vencer as eleições do dia 22 de outubro, um candidato precisa atingir 45% dos votos ou 40% e uma vantagem de 10 pontos sobre o segundo colocado. Caso não haja um vencedor no primeiro turno, uma votação entre os dois principais candidatos ocorrerá em novembro.

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