BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Houve tantos congelamentos de preços nos últimos anos na Argentina, que agora os nomes desses programas se sobrepõem. Anunciada nesta semana, uma nova política de “preços máximos” incluirá um pacote de produtos que, por sua vez, já estavam controlados no programa anterior, o dos “preços cuidados”.
O acordo anunciado na quarta-feira (13) pelo secretário de Comércio Interior, Roberto Feletti, abarcará 1.247 produtos, cujos preços não poderão aumentar até 7 de janeiro de 2022. Não se trata de uma norma escrita, não sairá publicada no Diário Oficial, mas sim está sendo tratada como um pacto, com o compromisso dos empresários do setor de colaborar com o esforço do governo de tentar controlar a inflação.
A Argentina tem hoje a segunda maior inflação da região (48,4%), perdendo apenas para a Venezuela (2.700%). Os preços dos alimentos têm sido uma das principais causas dos protestos de organizações sociais e de trabalhadores que vêm ocorrendo todas as semanas em Buenos Aires.
Nesta quinta-feira (14), o centro da cidade ficou trancado durante toda a manhã e até as 15h, por um encontro de marchas de 30 grupos que pediam mais ajudas sociais, cestas básicas e produtos para as “panelas populares”, que servem os bairros mais pobres e são organizadas pelos próprios vizinhos.
O governo tem a preocupação urgente de conter essa tensão social, uma vez que deseja reverter o mau resultado que obteve nas primárias das eleições legislativas. A oposição é a favorita para vencer o pleito de 14 de novembro, que renovará metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado. Se esse resultado se confirmar, a segunda metade do governo peronista de Alberto Fernández será mais pedregosa para o presidente, que já vem com a imagem desgastada (24,3% de aprovação, segundo a pesquisa Synopsis).
O aumento dos preços ocorre também num cenário em que o país convive com um aumento da circulação monetária de 66% no último ano. Para atender as emergências da pandemia do coronavírus, o governo colocou em circulação 750 bilhões de pesos argentinos.
Estavam presentes na reunião com Feletti os principais empresários das redes de supermercados, como Coto, Dia, Carrefour e outros, além das Câmaras que reúnem supermercados, distribuidoras e atacadistas.
A lista inclui alimentos frescos, congelados, azeite, açúcar, produtos de limpeza, mas também produtos que contêm álcool, como fernet, conhaque, vodka, uísque e uma seleção de 29 marcas de vinhos tintos. Também estarão congeladas algumas marcas de comidas para pets e fraldas.
Sobre o nome do programa, Feletti disse que ainda não se chegou a um consenso, mas que prefere que, desta vez, sejam chamados de “preços estabilizados”. A recomendação é que sua localização esteja sinalizada de modo claro nas prateleiras tanto dos supermercados como nos comércios de bairros.
Alguns empresários se mostraram surpresos com o pedido, mas preferiram não comentar. Nas semanas anteriores, vinha-se discutindo um possível aumento de 5% nos produtos incluídos na lista de “preços cuidados”, que acabou frustrado.
“Nos pediram que os preços fiquem como estão por 90 dias e nós dissemos que vamos colaborar. É preciso dar um alívio ao bolso dos consumidores. Depois da pandemia, o país ficou numa situação muito grave”, afirmou Victor Fera, da rede Maxiconsumo.
O congelamento também ocorre na semana em que a Argentina conseguiu adiar para o ano que vem as novas conversas com o Fundo Monetário Internacional sobre como reestruturar a dívida de US$ 44 bilhões pedida pelo governo anterior, de Mauricio Macri, em 2018. A nova previsão do governo para chegar a um acordo com o Fundo é o primeiro trimestre de 2022.