Durante participação na Brazil Conference, realizada em 12 de abril de 2025 em Harvard e no MIT, o economista Armínio Fraga defendeu uma medida polêmica: congelar o salário mínimo em termos reais por um período de seis anos.
O ex-presidente do Banco Central argumentou que essa ação seria essencial para reequilibrar as contas da Previdência Social, que, segundo ele, estão se deteriorando de forma “assustadora”.
Congelamento do salário mínimo e a crise da Previdência
Fraga afirmou que os gastos com aposentadorias e pensões estão fora de controle.
O envelhecimento da população e as regras atuais do sistema previdenciário agravam o cenário.
“Uma boa reforma já começaria com o congelamento do salário mínimo. Isso já ajudaria muito”, declarou.
Ele também apontou que os valores atrelados ao salário mínimo afetam diretamente outros benefícios sociais, como o Bolsa Família, o BPC e o abono salarial.
Além disso, segundo o economista, cerca de 80% dos gastos primários do governo se concentram na Previdência e na folha de pagamento dos servidores públicos.
Na visão dele, esse percentual deveria, idealmente, variar entre 60% e 80%, com mais eficiência no uso dos recursos.
Congelamento do salário mínimo como parte de um ajuste fiscal mais amplo
Além da Previdência, Fraga criticou o elevado custo dos subsídios fiscais, que hoje representam 7% do PIB. Para efeito de comparação, no fim do governo Fernando Henrique Cardoso, esse número girava entre 2% e 3%.
Diante desse cenário, ele defende a revisão dessas renúncias para liberar recursos que possibilitem investimentos públicos, os quais, atualmente, não chegam a 2% do PIB.
Por fim, o economista também chamou atenção para a necessidade de uma reforma administrativa.
Segundo ele, há excesso de cargos elevados e salários incompatíveis com a produtividade do serviço público.
“Há um espaço enorme para economizar e ainda melhorar a entrega do Estado”, ressaltou.
Juros da dívida e prioridades do gasto público
Fraga criticou o atual modelo fiscal e alertou para os riscos da dívida pública.
Em suas palavras, o país está “pegando dinheiro emprestado para pagar juros”, o que compromete o crescimento econômico.
O Brasil, segundo ele, deveria crescer ao menos dois pontos percentuais acima do PIB dos EUA. No entanto, cresce abaixo há 40 anos.
“A situação fiscal é apenas um sintoma. O problema maior é que o Brasil gasta muito e gasta mal”, afirmou.
Ele alertou ainda que as prioridades estão erradas, e a taxa de juros elevada — atualmente próxima de inflação mais 7,5% ao ano — impede o desenvolvimento sustentável.
Considerações geopolíticas e postura do Brasil
Em tom crítico, Arminio Fraga também comentou sobre o cenário internacional.
O especialista demonstrou preocupação com a condução das relações comerciais pelos Estados Unidos, especialmente sob a liderança de Donald Trump.
Sendo assim, defende que o Brasil deve manter uma postura independente, baseada em valores democráticos e solidários.
“Precisamos de um discurso liberal, democrático e com mais cuidado nas relações internacionais”, finalizou o ex-presidente do Banco Central.