Ata da Copom: sinalização dos próximos passos do BC gera divergência

Um grupo majoritário de diretores defendeu emitir sinais mais claros de inflexão nos juros, mas outro grupos pediu um pouco de cautela

A última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) revelou uma divergência entre os membros em relação à sinalização sobre os próximos passos da política monetária. Enquanto a maioria defendeu a possibilidade de um processo gradual de redução na próxima reunião, um grupo mais cauteloso ressaltou que a desaceleração da inflação ainda está relacionada a fatores voláteis e que a incerteza sobre a capacidade ociosa da economia gera dúvidas sobre o impacto das medidas já adotadas para conter a inflação.

A descrição desse debate está na Ata da último reunião do Copom, realizada entre os dias 21 e 22 de junho e que decidiu pela manutenção da taxa de juros básica (Selic) em 13,75%. As informações são do Info Money.

“Entretanto, os membros do Comitê foram unânimes em concordar que os passos futuros da política monetária dependerão da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.”, consta na ata da reunião.

O BC afirmou que, embora alguns fatores favoráveis tenham contribuído para a atual dinâmica da inflação no Brasil, o processo de desinflação ainda se encontra em um estágio que requer serenidade e paciência na condução da política monetária. “As expectativas de inflação seguem desancoradas das metas definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), embora tenha ocorrido uma pequena diminuição da desancoragem na margem”, afirmou o documento.

O Comitê ressaltou em sua análise que a elevação das expectativas de inflação tem gerado pressão adicional sobre os preços no período atual, e que esse processo inflacionário é alimentado justamente por essas expectativas. Além disso, destacou a importância da ancoragem das expectativas como um elemento essencial para a manutenção da estabilidade de preços.

“Nesse contexto, o Comitê reforça que decisões que induzam à reancoragem das expectativas e que elevem a confiança nas metas de inflação contribuiriam para um processo desinflacionário mais célere e menos custoso, permitindo flexibilização monetária”, diz a Ata.

“O Copom conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas e avalia que a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação”, afirmou a estatal na ata.

Balanço de riscos

Na avaliação do balanço de riscos, o Copom afirmou que não houve grandes mudanças no cenário prospectivo do hiato do produto desde a última reunião, mantendo a projeção de uma abertura lenta desse hiato.

“Com relação à inflação de serviços e aos núcleos de inflação, nota-se movimento lento de desaceleração em linha com o processo não linear projetado pelo Comitê. Além disso, as expectativas de inflação apresentaram algum recuo, mas seguem desancoradas, em parte em função do questionamento sobre uma possível alteração das metas de inflação futuras”, disse a Ata.

Cenário fiscal

O Comitê discutiu também os impactos do cenário fiscal sobre a inflação e avaliou que a apresentação e a tramitação do arcabouço fiscal no Congresso Nacional reduziram substancialmente a incerteza em torno do risco fiscal.

“Permanecem desafios para o cumprimento das metas estipuladas para o resultado primário, ainda que, na discussão do Comitê, tenha se enfatizado o comprometimento e a apresentação de medidas para a consecução de tais resultados”, diz a Ata.