Ata do Copom: novo arcabouço pode diminuir inflação indiretamente

Comitê de Política Monetária enfatizou que fiscal pode reduzir as expectativas do IPCA, mas que a queda da inflação está relacionada às projeções da dívida pública

O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) divulgou nesta terça-feira (28), a ata da sua última reunião – encerrada em 22 de março e que decidiu pela manutenção da taxa Selic (taxa básica de juros) em 13,75%. No documento, o Comitê diz que a apresentação do novo arcabouço pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode auxiliar a diminuir a inflação de forma indireta.

“O Copom enfatizou que não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a apresentação do arcabouço fiscal, uma vez que a primeira segue condicional à reação das expectativas de inflação, às projeções da dívida pública e aos preços de ativos. No entanto, o Comitê destaca que a materialização de um cenário com um arcabouço fiscal sólido e crível pode levar a um processo desinflacionário mais benigno através de seu efeito no canal de expectativas, ao reduzir as expectativas de inflação, a incerteza na economia e o prêmio de risco associado aos ativos domésticos”, disse.

Apesar de reconhecer os esforços do governo em divulgar a nova regra, o Comitê enfatiza que as projeções de inflação encontram-se ainda elevadas, sendo 5,8% para 2023 e 3,6% para 2024. “O Comitê julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual”, afirmou o Banco Central no documento.

Entenda os principais pontos da ata do Copom

Cenário externo

A ata do Copom comenta ainda que a piora do cenário externo, com a crise bancária que afeta os EUA e a Europa, e a consequente instabilidade nos mercado financeiros, tem levado a uma sinalização majoritária entre as autoridades monetárias de que ainda será necessário um período prolongado de juros elevados para combater as pressões inflacionárias.

“O impacto sobre as condições financeiras e, consequentemente, sobre o crescimento global dos recentes episódios envolvendo o sistema bancário em economias centrais ainda é incerto, porém tem viés negativo”, disse.

Somado a isso, o Comitê afirma que “leituras de inflação recentes apontam para alguma estabilização dos núcleos de inflação em diversos países em patamares superiores a suas metas e reforçam o caráter inercial do atual processo inflacionário”. Com isso, a inflação segue desafiadora, aliada a um baixo grau de ociosidade do mercado de trabalho em algumas economias, sugere que pressões inflacionárias, particularmente no setor de serviços, devem demorar a se dissipar.

O documento também reitera que é necessário maior cautela na condução das políticas econômicas por parte de países emergentes. Isso porque em diversas economias emergentes a sinalização majoritária entre as autoridades é de um período prolongado de juros elevados para combater as pressões inflacionárias.

Inflação

A avaliação do diretores do BC é que “o processo de desinflação global, especialmente no que se refere aos indicadores de inflação subjacente, é desafiador e possivelmente ocorrerá de forma mais lenta do que usualmente observado, na medida em que a inflação está disseminada no segmento de serviços. Nesse contexto, a redução das pressões inflacionárias continua a requerer o compromisso e a determinação dos bancos centrais com o controle da inflação, através de um aperto de condições financeiras mais prolongado.”

Com isso, o Comitê reitera sobre o momento desafiador para a condução da política monetária, “com aumento dos riscos tanto em torno do cenário inflacionário quanto em relação à estabilidade financeira”, complementando que os dados de crescimento e inflação globais se mantêm resilientes, exigindo empenho e determinação das autoridades monetárias.

Situação do crédito

Sobre a mudança de cenário no Brasil desde a última reunião, o Copom comentou que observou-se aperto adicional nas condições para concessão de crédito em algumas modalidades.

“Alguns membros avaliam que tal movimento está em linha com o esperado, considerando a elevação de juros empreendida até meados do segundo semestre de 2022. Para tais membros, deve-se esperar ainda um aumento da inadimplência e uma desaceleração na concessão do crédito, mas em linha com o que se observou em ciclos anteriores de aperto de política monetária”, enfatizou.

Em contraste, outros membros pontuaram que, no período mais recente, o aperto nas concessões de crédito foi mais intenso do que o esperado, mas focalizado em alguns mercados específicos.

“O Comitê avalia que o Banco Central possui os instrumentos de liquidez apropriados e necessários, ligados à política macroprudencial, para endereçar fricções relevantes localizadas no sistema, caso ocorram. Ademais, reforçou que a política monetária é mais apropriada para atuar de forma contracíclica sobre a demanda agregada.”