
A ata do Copom (Comitê de Política Monetária) divulgada nesta terça-feira (11) trouxe um tom mais confiante e ligeiramente dovish, segundo analistas, ao reconhecer a melhora nas expectativas de preços e sinais de moderação da atividade econômica.
“O Comitê mostra convicção crescente na moderação da atividade, interpretando-a como compatível com o efeito esperado da política monetária”, destacou o economista Leonardo Costa, da ASA.
Para o mercado, o documento reforça que o atual nível da taxa Selic é considerado suficiente para garantir a convergência da inflação à meta — e sinaliza uma postura ainda cautelosa, mas com viés menos restritivo do que o observado nas comunicações anteriores.
Segundo o texto, o cenário externo segue incerto, com menções específicas às tarifas comerciais dos EUA, ao risco de shutdown e à indefinição sobre o ciclo de cortes de juros do Fed (Federal Reserve), exigindo cautela na condução da política monetária. No ambiente doméstico, o BC aponta desaceleração da atividade e arrefecimento do crédito, ainda que com um mercado de trabalho resiliente.
A ata também reconhece uma queda mais disseminada nas expectativas de inflação, inclusive nos horizontes relevantes de política monetária, além de uma dinâmica de preços mais benigna do que a observada no início do ano.
O Copom projeta inflação de 4,6% em 2025, 3,6% em 2026 e 3,3% no horizonte relevante (segundo trimestre de 2027), já considerando o impacto da nova isenção do IR (Imposto de Renda) e a bandeira tarifária amarela nos próximos anos.
O texto, contudo, mantém o alerta em relação ao risco fiscal, afirmando que a falta de disciplina e previsibilidade das contas públicas “eleva a taxa neutra e reduz a potência da política monetária”.
Tom mais suave
A principal mudança de tom aparece na seção que trata da condução da política monetária. O BC retirou o antigo parágrafo que repetia alertas sobre expectativas desancoradas e inflação elevada, encerrando a ata com uma linguagem mais neutra e confiante.
Apesar de manter o trecho segundo o qual “não hesitará em retomar o ciclo de alta se julgar necessário”, o Copom reforçou que a manutenção da Selic em patamar elevado por tempo prolongado é a estratégia mais adequada no momento.
“Ao eliminar o reforço das preocupações e encerrar a ata com uma linguagem mais neutra, o BC reduz a retórica de alerta e consolida a mensagem de estabilidade”, avalia Costa.
“O Comitê sinaliza maior conforto com o nível atual da Selic e menor assimetria de riscos no balanço inflacionário.”
O documento consolida, assim, a percepção de que o BC está mais confiante na trajetória de desinflação, ainda que mantenha a vigilância diante de incertezas fiscais e externas.
Para Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, o documento traz “uma pitada muito sutil” de melhora nas perspectivas inflacionárias.
“Ainda é uma ata dura, mas há nuances importantes. A atividade doméstica, que antes era descrita como de ‘certa moderação’, agora é ‘trajetória de moderação’. As expectativas de inflação mostram queda mais nítida e as projeções do BC melhoraram, com o IPCA estimado em 4,5% para 2025 e 4,2% para 2026”, afirmou.
Gala também destacou que o BC incorporou o impacto preliminar da nova faixa de isenção do Imposto de Renda, o que pode gerar pressão adicional sobre a demanda.
“Estamos falando de uma injeção de renda relevante. As pessoas que deixarem de pagar IR tendem a gastar, o que significa estímulo de consumo”, disse.
Segundo o economista, a nova ata sacramenta a convicção do Copom de que a taxa atual de juros é suficiente para garantir a convergência da inflação à meta.
“Eles não estão mais tateando, como na ata anterior. Apesar de reconhecer melhora, o BC reforça que os juros seguirão num patamar contracionista por um período prolongado”, completou.
O documento consolida, assim, a percepção de que o Banco Central está mais confiante na trajetória de desinflação, ainda que mantenha a vigilância diante de incertezas fiscais e externas.