Atos pró-Bolsonaro não impactam mercado, que volta a falar em terceira via

O aumento das tensões tende a piorar a percepção de risco dos investidores.

As manifestações de raiz golpista neste 7 de Setembro em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o risco de aumento da radicalização política no Brasil fizeram a possibilidade de uma terceira via para as eleições de 2022 voltar às conversas de gestores do mercado financeiro.

Agentes do mercado avaliam que uma alternativa pode dar um novo ânimo para os preços dos ativos financeiros.

“Qual a relevância dessas manifestações? Elas vão mudar o posicionamento da Câmara de maneira super positiva para Bolsonaro? Tenho um pouco de dúvida”, afirma Guilherme Motta, gestor de ações da Gap Asset.

Francisco Levy, diretor de investimentos da gestora de patrimônio Allea Wealth Management, diz que o radicalismo abre espaço para uma nova alternativa política. “A população quer trabalhar, ganhar dinheiro, em um ambiente institucional que funcione, e nem o PT e nem Bolsonaro parecem ser capazes de dar essa resposta”, diz.

Para ele, o aumento das tensões tende a piorar a percepção de risco dos investidores. “A falta de avanço em debates que possam fazer o país crescer mostra um problema institucional que tem deixado os investidores mais desconfiados. E à medida que se aproxima o processo eleitoral no ano que vem, esse sentimento deve se intensificar”.

Para Motta, da Gap, a estratégia de Bolsonaro de acirramento político não parece estar sendo muito bem sucedida. Ele também vê a possibilidade de uma terceira via mais competitiva contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em aberto- especialmente se Bolsonaro seguir perdendo popularidade e partir para uma radicalização ainda maior.

“Ainda não cravaria que o cenário de polarização é o definitivo. É muito cedo para descartar que uma terceira via possa surgir”, endossa Rogério Braga, sócio diretor da gestora Quantitas.

A gestora Vista Capital aponta que, aos erros de política econômica que têm provocado pressão inflacionária cada vez maior, somam-se a máquina de gerar ruídos de Brasília, o emaranhado de novas regras fiscais que minam a solidez do arcabouço implementado em 2016 e as incertezas em relação ao quadro eleitoral.

Os gestores dizem que têm se posicionado de forma mais defensiva nos ativos de Brasil e, apesar da piora recente dos prêmios de risco, veem com ceticismo uma forte melhora dos mercados sem uma terceira via competitiva.

“Uma piora adicional do cenário pode levar a um enfraquecimento mais intenso do incumbente e viabilizar uma candidatura de centro, o que teria impactos muito positivos sobre os mercados”, diz a Vista, em carta aos investidores.

André Perfeito, da Necton, é mais reticente. “Não tem quem queira assumir o discurso de corte de gastos no campo da centro-direita, que é o que o mercado busca”.

Os protestos não trouxeram impacto relevante para preços dos ativos locais negociados no exterior nesta terça-feira (7). Dois dos principais índices de ações no exterior que acompanham a performance de ativos brasileiros, o iShares MSCI Brazil ETF e o Dow Jones Brazil Titans 20 ADR fecharam a sessão com ganhos apenas moderados, com variação positiva de 0,6% e 0,5%, respectivamente. Já o CDS, que mede o risco Brasil, avançou 0,3%.

Em Nova York, a Nasdaq subiu 0,07% e atingiu novo recorde, a 15,374,33 pontos. O Dow Jones caiu 0,76%, e o S&P 500 recuou 0,34%.

Para Braga, da Quantitas, o desempenho dos ativos brasileiros reflete um dia de manifestações dentro das expectativas, com discurso que busca o conflito, mas sem a incitação a ações mais práticas.

O gestor diz ainda que, embora não veja grande espaço para uma melhora robusta nos preços dos ativos domésticos, também não espera por uma queda adicional. Ele entende que o ambiente internacional possivelmente será o maior gatilho para os próximos movimentos dos mercados.

“As manifestações não mudam o jogo, a crise institucional não está resolvida. O estrutural é o mesmo e permanece ruidoso, e o mercado tende a permanecer com algum prêmio de risco por conta disso”, diz Braga, acrescentando que as atenções se voltam agora para saber como será a postura de Bolsonaro no pós-7 de setembro.

“O presidente está cada vez mais indo para uma situação de enfrentamento que não vai ter volta”, diz Perfeito, que também prevê que a tensão seguirá elevada, com juros futuros pressionados e um sentimento de maior aversão ao risco entre investidores.

Com interlocução com grandes investidores estrangeiros, Bernardo Parnes, sócio fundador da empresa de assessoria financeira Investment One Partners, defende que o que mais interessa ao mercado é a redução dos ruídos entre os Poderes, de modo a avançar com uma agenda que permita ao país ter um crescimento robusto.

“Se pudesse dar uma recomendação, diria para ter menos conversa e mais execução. O Brasil não está aproveitando as oportunidades por excesso de ruído”, diz Parnes, que foi presidente para a América Latina do Deutsche Bank e do Merrill Lynch no Brasil.

 

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