O banco francês BNP Paribas diz que a inflação no Brasil pode voltar a rodar na casa de 4,5%, anulando os ganhos dos últimos anos, e projeta que o BC (Banco Central) deve elevar a taxa básica de juros para 10% ao ano até o final de 2021
As novas projeções divulgadas nesta quinta-feira (16) mostram uma inflação recuando de 9% em 2021 para 4,5% no próximo ano, valor próximo do limite definido pelo governo de 5% para 2022 e acima da expectativa do Boletim Focus de 4%.
A inflação ainda vai rodar na casa de 8% até abril do ano que vem no acumulado em 12 meses, segundo Gustavo Arruda, economista-chefe e responsável pela área de pesquisa e estratégia para América Latina do BNP Paribas.
O crescimento da economia deve recuar de 5% neste ano para 1,5% em 2022 –a projeção anterior do banco para o próximo ano era de 3%.
O economista afirma que o BC já deveria acelerar o ritmo de alta de juros na reunião da próxima semana do Copom (Comitê de Política Monetária) de 1 para 1,5 ponto percentual, mas destaca que a instituição sinalizou nesta semana que não deve alterar o passo. No ritmo atual, a taxa básica não conseguiria chegar o nível contracionista até o final do ano.
“Se já se concluiu que a política monetária tem de ir para o campo restritivo, e ela ainda está no campo expansionista, porque não fazer mais rápido. Não tem muito motivo para esperar. Se a gente não fizer logo, aumenta o risco de ter de fazer mais”, afirma Arruda.
Ele diz que, se o Copom tiver de subir juros não só para ajustar inflação para baixo, mas também ajustas as expetativas de inflação para a meta, a ação necessária pode até levar o país a uma recessão, como já ocorreu em outros momentos.
O banco avalia que o cenário internacional ainda é de forte crescimento global, impulsionado por estímulos em países desenvolvidos, e também de mais inflação, principalmente em economias emergentes, que já estão ajustando suas políticas monetárias.
Arruda afirmou ainda que as projeções consideram que a crise hídrica terá impacto inflacionário relevante, mas não deverá afetar o crescimento em 2022. Um cenário de racionamento, no entanto, poderia deixar o crescimento da economia próximo de zero.
Sobre a questão fiscal, disse que o banco trabalha com uma solução que é a retirada da despesa com precatórios do teto de gastos.
“Parece a [solução] mais transparente, e acho que faz até mais sentido quando a gente pensa nos fundamentos do teto”, afirma. “Precatório é decisão judicial. Faz sentido ele estar fora do teto.”
Como mostrou o jornal Folha de S.Paulo, enquanto a equipe econômica trabalha para limitar o pagamento de precatórios em 2022, ganhou força no governo um plano para quitar os débitos integralmente e retirar essa despesa da contabilização da regra do teto. A ideia é apoiar uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) elaborada pelo vice-presidente da Câmara, deputado Marcelo Ramos (PL-AM).