SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Sacar dinheiro em um banco está cada vez mais difícil para os moradores do Bom Retiro (região central de SP) e para quem visita o bairro aos finais de semana. A reportagem percorreu a região durante o domingo (19) e pôde constatar diversas agências, das mais diversas instituições financeiras, fechadas, algumas, inclusive, com portas de ferro em vez das fachadas de vidro.
Um dos locais fechados era o Bradesco da rua Anhaia. Três amigos chegaram ao local por volta das 13h para sacar dinheiro, mas se depararam com o local fechado por portas de aço. “Eu vim aqui para sacar, porque o lugar que vou comprar não aceita cartão, só dinheiro”, disse para a reportagem o economista Jonathan Matheus, 26 anos.
Quem também estava na esperança de sacar alguma quantia era o vendedor William Durans, 38, que estava junto de Matheus. Para ele, por qual seja o motivo, o local deveria permanecer aberto até um determinado horário. “Eles poderiam fechar, mas depois das 16h”.
Moradores em frente ao banco afirmaram que o fechamento do local com portas de aço e, aos finais de semana, é algo recente, que ocorreu após insistentes depredações e furtos de equipamentos. “Funcionava 24 horas, mas [agora] os caixas eletrônicos só funcionam até sexta-feira. É ruim, mas infelizmente estamos passando por isso. Quebravam e roubavam as coisas”, relatou o autônomo Dario Dominguez, 37.
O Bradesco confirmou que possui diversas agências “próximas ao local conhecido como cracolândia” e que os locais sofrem com ataques. “As agências nessa região constantemente são alvos de vandalismos e furtos, entre outras ocorrências dessa natureza, e, para evitá-las, foram instaladas portas de aço para fechamento de algumas dessas unidades, o que ocorre após o expediente bancário.”
Além do Bradesco da rua Anhaia, a reportagem também encontrou com as portas fechadas o Itaú, na rua Barra do Tibagi, que usa portão com grades para limitar o acesso.
Na rua dos Italianos, nas proximidades do 2° DP (Bom Retiro), um grupo de moradores apontou uma agência da Caixa Econômica perto dali que, segundo eles, havia sido depredada nos últimos dias. No local, em vez de portas de vidro, a entrada estava fechada com dois tapumes de madeira.
“Para você sacar dinheiro de final de semana, tem que se deslocar até um banco 24 horas”, disse a colorista automotiva Juniane dos Santos, 33, uma das pessoas do grupo.
Alguns bancos da região estavam abertos, como o Banco do Brasil da rua Júlio Conceição. Na mesma via, um Santander também tinha o acesso livre aos caixas eletrônicos, que estavam inoperantes.
No entanto, outros bancos no sentido Luz também estavam com as portas fechadas, como a Caixa, na Rua da Graça, e o Santander, localizado na rua Lubavitch, que também utiliza portas de aço como forma de prevenção às depredações.
No meio do caminho até Santa Cecília, a reportagem ainda passou por outros dois Bradesco. Enquanto o localizado na rua da Graça funcionava normalmente, a unidade na avenida Duque de Caxias, a poucos metros da cracolândia, também tinha as portas de aço cobrindo toda a fachada. Outra instituição perto do ponto de concentração de usuários de drogas que estava fechada era o Itaú, na avenida Duque de Caxias.
A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) detalhou que “a decisão fechar um posto de atendimento é tomada pelos bancos individualmente e cada um adota a medida que entende ser a melhor para preservar o seu patrimônio”. Segundo a entidade, “recente levantamento feito com 15 instituições bancárias que, juntas, respondem por mais de 90% do setor, o total de ataques a caixas eletrônicos caiu de 255 (2020) para 150 (2021), o que representa um recuo de 58%”.
O Banco do Brasil afirmou “lamentar os transtornos causados aos clientes da região central de São Paulo em razão do fechamento de algumas agências nos finais de semana, que objetiva preservar segurança daqueles que utilizam as salas de autoatendimento”.
Em nota, a Polícia Militar informou que a região é patrulhada pela 1ª Companhia do 13° Batalhão. “Com relação aos dias e horários de funcionamento das agências, não recebeu qualquer tipo de informação ou orientação, ficando a cargo dos responsáveis pelas agências bancárias tais decisões.”
Já a Secretaria de Segurança Pública, gestão João Doria (PSDB), afirmou que “desconhece e não comenta estratégias comerciais ou logísticas de entidades privadas”. A nota encaminhada ainda pontua que “os casos de roubos e furtos em geral seguem em queda na cidade de São Paulo desde o início do ano. Especificamente na região citada pela reportagem – área do 2º DP (Bom Retiro) – a redução dos furtos é ainda maior 42,72% no mês julho ante o mesmo período de 2020”.