As perspectivas de uma elevação na Selic (taxa básica de juros) estão tomando conta do mercado com ainda mais força, ao passo que a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) se aproxima. Especialistas afirmam que os novos rumos podem, na verdade, fortalecer o trabalho do BC (Banco Central) em firmar confiança perante o mercado financeiro, mas o alerta segue ligado.
O último Relatório Focus, publicado na segunda-feira (9), indicou que o consenso de economistas do BC espera uma alta na taxa de juros brasileira este ano, finalizando a 11,25% ao ano, ante os 10,50% anteriores.
A sinalização de que o momento da economia e do fiscal brasileiro demandam uma elevação da Selic foi dada já na decisão da última reunião do Copom, que ocorreu em 31 de julho. Essa indicação prévia, segundo Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, mostrou que o BC tem construído bem sua confiança junto ao mercado.
“No entanto, devido à situação fiscal e ao cenário de inflação, houve uma mudança na curva de juros, exigindo um aumento. Nesse contexto, o futuro presidente do Banco Central sinalizou a alta da Selic, o que considero muito importante, pois reforçou a confiança nas medidas e evitou surpresas, dando ao mercado a previsibilidade que ele demanda”, disse.
Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, reiterou, no entanto, que mesmo com as novas estratégias do BC para mostrar seu comprometimento com a estabilidade monetária e fiscal, a confiança ainda está sujeita a flutuações “dependendo das futuras ações e da eficácia percebida das políticas implementadas, principalmente ao monitorar o posicionamento de Galípolo”.
A grande meta do BC atualmente é convergir o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que mede a inflação oficial do Brasil, aos 3%. No entanto, as expectativas para o indicador também têm aumentado.
O Boletim Focus estima que o IPCA finalize este ano em 4,30%, chegando a 3,92% somente em 2025.
Diante desse quadro, Lima afirma que a sinalização do BC sobre os novos rumos da Selic gerou um “sentimento positivo”, no primeiro momento.
“Por mais que uma alta de juros seja algo teoricamente ruim para a economia e os negócios, o mercado tem se apegado muito mais à percepção de responsabilidade quanto à condução da política monetária”, comentou.
O fato responsabilidade, segundo ele, ainda preocupa parcela dos investidores quando se trata do governo federal, por conta dos gastos públicos desproporcionais à sua meta orçamentária de déficit zero ao final deste ano.
O CEO Multiplike avaliou ainda que, apesar do discurso antecipado do BC fortalecer a confiança do mercado, ele não significa, necessariamente, que a Bolsa no Brasil se valorizará.
Como fica a Bolsa com as perspectivas de confiança no BC?
O efeito imediato que se imagina diante de uma alta na taxa de juros é uma reação negativa sobre o Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, mas os especialistas dizem não esperar um reflexo tão pessimista e danoso.
Isto porque, segundo Volnei Eyng, mesmo que os juros mais altos signifique menos ganhos para as empresas, no Brasil, há um “efeito de cauda”.
“Com o aumento dos juros, especialmente em combinação com uma eventual decisão do Fed [Federal Reserve] de reduzir a taxa em 0,25%, há uma entrada significativa de dólares, o que pode elevar a Bolsa, mesmo que as empresas se tornem menos rentáveis”, afirmou.
O Ibovespa ostentou o título de pior índice acionário mundial no fechamento do primeiro trimestre de 2024 e o 3º pior no segundo trimestre, no entanto, o mercado brasileiro viu uma melhora nas últimas semanas. O índice engatou recordes consecutivos de ganhos, operando atualmente no patamar de 134 mil pontos e zerando as perdas que vinha acumulando durante o ano.
Segundo o CEO da gestora Multiplike, a expectativa de alta na Bolsa está mais atrelada à entrada de capital estrangeiro, que hoje compõem cerca de 50% da precificação.
“Se esse fluxo aumentar [com os movimentos do BC], a valorização ocorrerá, e o público interno, que compõe os outros 50%, também pode seguir essa tendência e aumentar a capitalização na Bolsa”, finalizou.
Lima reforçou a atração que uma condução responsável da política monetária tende a causar, beneficiando a Bolsa no longo prazo, mas deu destaque ao fato de que um aumento da Selic eleva, consequentemente, os custos de financiamento aos consumidores e empresas.
“Isso pode gerar um impacto negativo nas ações de empresas mais sensíveis a taxas de juros mais altas, como aquelas do setor de consumo e imobiliário”, comentou o analista da Ouro Preto Investimentos.
Porém, na outra linha, há empresas cujas ações são favorecidas pelo ambiente de inflação controlada e estabilidade financeira, como o setor financeiro e algumas empresas exportadoras, que podem performar melhor.