Economia

Big Techs: nova estrutura e foco em IA devem manter atração ao setor

Meta, Alphabet, Amazon e Apple, consideradas big techs, superaram as estimativas do mercado com lucros bastante expressivos no 4TRI23

As mudanças estruturais e investimentos em Inteligência Artificial (IA) das big techs trouxeram lucros recordes em 2023 e devem seguir sendo foco do setor este ano, atraindo fortes investimentos, conforme apontaram especialistas ao BP Money. 

No início de fevereiro, diversas empresas iniciaram a divulgação dos resultados obtidos no quarto trimestre de 2023 (4T23), como as gigantes Meta (M1TA34), Alphabet (GOGL34), Amazon (AMZO34) e Apple (AAPL34). As big techs superaram as estimativas do mercado com lucros bastante expressivos.

Na lista de ações apontadas pelos especialistas como razões para esses resultados, estão: a diversificação de receitas, com a ampliação de produtos e serviços, a inovação contínua e investimento em marketing e publicidade. Além disso, uma estratégia utilizada foi a aquisição de empresas de tecnologia, como no caso da Apple, que tem feito compras de negócios e contrações às escondidas para focar no desenvolvimento de IA. 

Thiago Finch, especialista em negócios digitais e CEO da Ticto, diz que essas mudanças ajudam as big techs a manterem posição de liderança no mercado e impulsionar o crescimento. Dessa forma, essas empresas podem “enfrentar melhor os desafios do mercado e capitalizar as oportunidades de crescimento”, afirma.

Enquanto isso, Bruna Allemann, head de Investimentos Internacionais da Nomos, detalha que apesar de apresentarem resultados além do esperado, a Apple e a Alphabet, ao contrário da Meta e da Amazon, foram “um pouco penalizadas” em desempenho no mercado. “Apple pelo seu problema com o mercado chinês (em parte) e Google por não suprir as expectativas do mercado de ter um lucro grandioso em IA especificamente”, disse. 

Movimentos das Big Techs

Mesmo em convergência quanto às novas estruturas e investimentos, as iniciativas das big techs divergem em pontos específicos. Bruna explica que uma das atitudes que pôs a Meta em alta foi o anúncio de pagamento inédito de dividendos. “um movimento significativo que reflete uma nova abordagem na gestão de seus recursos financeiros1”, avalia.

Da mesma forma, a Amazon, realizou o lançamento de um novo assistente de compras baseado em IA, nomeado “Rufus”, uma demonstração dos novos rumos da companhia. “O sucesso financeiro da Amazon foi também atribuído a uma gestão de custos eficiente e a uma mudança estratégica no direcionamento de seus investimentos”, afirma Bruna.

Já a Apple “apesar de um desempenho financeiro robusto”, explica ela, “enfrentou desafios, especialmente no mercado chinês, onde as vendas de iPhone caíram significativamente”. 

Porém não foi apenas a venda do iPhone na China que sofreu queda, de acordo com a economista o mercado global de smartphones teve desaceleração. Ainda assim, a Apple superou as perspectivas de receita e lucro. “Isso sugere que a empresa teve um desempenho forte em outras áreas de seu portfólio de produtos, além dos iPhones”, ressalta. 

Em última análise, o grande destaque da Alphabet foram as redes de buscas, a exemplo do Youtube, cuja receita atingiu US$ 9,2 bilhões, e também o serviço de nuvem. Porém, Bruna diz que o desafio da empresa foi na publicidade, que teve queda de receita, contrariando a estimativa dos analistas. “Esse resultado foi atribuído à forte concorrência de outras plataformas como Facebook, Instagram, TikTok e Amazon”, disse.

“Enquanto a Alphabet apresentou um desempenho financeiro sólido no último trimestre de 2023, com crescimento notável em várias áreas, a receita de publicidade ficou um pouco aquém das expectativas, refletindo um ambiente competitivo e desafiador no setor de tecnologia”, conclui Bruna.

A vida útil dos servidores e a IA

Uma das iniciativas das big techs para o corte de despesas foi a extensão da vida útil estimada de seus servidores. Na prática, isso significa que essas empresas aprimoraram seus sistemas de processo para que os servidores operem por mais tempo. 

“Com isso, a redução dos custos operacionais e os impactos ambientais são enormes trazendo sustentabilidade e capacidade das empresas de adaptar-se a novas exigências e necessidades dos mercados”, diz Alessandro Quraitem, CEO da Digital Labz. 

Bruna Allemann acrescenta também que essa ação pode ser vista tanto como estratégia de curto/médio prazo, para lidar com condições econômicas específicas, quanto um movimento visando o longo prazo, com práticas mais sustentáveis. 

A inovação em IA é uma das razões pelas quais as big techs precisam cortar o máximo de gastos possível. Quraitem cita que os focos variam entre a interação de IA com produtos existentes, a criação de novos produtos baseados em IA, bem como a expansão para áreas como saúde e transporte

“Os riscos desses investimentos incluem a rápida obsolescência tecnológica, desafios regulatórios, questões éticas em torno do uso de IA, e a possibilidade de não alcançar o retorno esperado sobre o investimento devido à intensa concorrência e à complexidade dos avanços tecnológicos”, afirma.

Em concordância com esse cenário, Milton Tergilene, Especialista em Telecomunicações, Inteligência Artificial, menciona outros riscos que cercam o investimento das big techs em IA. Entre eles estão as regulamentações mais rígidas, que podem impor restrições e requisitos adicionais. “As big techs precisam atrair e reter especialistas em IA, o que pode envolver altos salários e benefícios, aumentando os custos de mão de obra”, disse.

Na onda de redução de custos, outro movimento das big techs foram as demissões. O setor de tecnologia chegou a demitir cerca de 206 mil trabalhadores até junho do ano passado. Quraitem acredita que esse quesito seja variável.

“Enquanto algumas empresas podem reduzir postos de trabalho para cortar custos ou ajustar suas estratégias, outras podem criar novas oportunidades de emprego focadas em IA. A tendência de longo prazo poderá depender da capacidade das empresas e dos trabalhadores de se adaptarem às novas tecnologias”, esclarece. 

Tergilene, pontua que a inteligência Artificial não deve ser tomada como uma razão para as demissões, visto que há uma “mudança de paradigma”. “As empresas estão cada vez mais adotando uma abordagem de colaboração entre humanos e IA, em vez de substituição completa. Portanto, embora a mudança e o foco em IA possam ter impactos no mercado de trabalho, a tendência atual é de uma abordagem mais equilibrada”, avalia.

Previsões para o setor 

Considerando o cenário atual, os especialistas ainda não citam estimativas com números específicos para o resultado nas big techs no primeiro trimestre deste ano. No entanto, todos concordam que o patamar seguirá positivo. Tergilene confia que a qualidade de vida dos colaboradores estará no radar das empresas. 

“É possível que as big techs invistam em melhorias na qualidade de vida de seus funcionários como parte de suas estratégias para impulsionar a inovação e aumentar a receita. A qualidade de vida dos funcionários é um aspecto importante para atrair e reter talentos qualificados, além de promover um ambiente de trabalho saudável e produtivo.”

Bruna Allemann vê que a disposição do mercado financeiro pode ditar o ritmo das big techs, porém a inovação com IA segue no centro de tudo. “O desempenho pode variar de acordo com condições de mercado, desenvolvimentos regulatórios e avanços tecnológicos. Mas acho que o maior desafio é a economia americana em si, visto que o ciclo de juros pode atrapalhar este crescimento.”

Além disso, a economista aconselha que os investidores fiquem atentos a outras áreas do setor que, segundo ela, são promissoras. “Incluindo software como serviço (SaaS), cibersegurança, tecnologia de nuvem e startups focadas em tecnologia emergentes”, disse. As empresas que suprem as demandas de matéria-prima para as big techs também são indicações, tendo a Reits de Data Center, do mercado de semicondutores, como uma oportunidade. 

Enquanto isso, no Brasil, Thiago Finch afirma que a tecnologia tem mostrado crescimento significativo, com aumento de investimentos em startups e empresas de tecnologia em áreas como findtechs, edtechs, healthtechs, agritechs e outras. 

“Em termos de perspectivas de inovação, o Brasil tem um grande potencial devido à sua base de talentos em tecnologia, vasta base de usuários de internet e mercado consumidor em crescimento. Além disso, o governo e entidades privadas têm apoiado iniciativas de inovação e empreendedorismo, o que pode impulsionar ainda mais o desenvolvimento de novas tecnologias e soluções no país”, afirma. 

Dentre os desafios para o desenvolvimento do setor no País, Finch cita a infraestrutura limitada e a carga tributária elevada, junto à instabilidade política, como obstáculos que podem atrasar o crescimento.

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