Até pouco tempo atrás principal fonte de otimismo da maior parte do mercado, as perspectivas para o cenário externo e o crescimento econômico global parecem ficar a cada dia mais incertas.
Aos sinais de desaceleração na China e de redução dos estímulos nos Estados Unidos, se somaram preocupações com a escassez energética e uma inflação de oferta mais persistente do se previa.
Frente a tantas incertezas já contratadas para 2022, as maiores empresas globais de tecnologia que melhor atravessaram a pandemia voltam a se destacar entre as recomendações de especialistas para aqueles que buscam as melhores oportunidades no mercado internacional.
Big techs americanas como Amazon, Google e Nvidia são os nomes que mais aparecem nas carteiras de BDRs (Brazilian Depositary Receipts) recomendadas aos investidores, elaboradas mensalmente por analistas de bancos e corretoras.
Mudanças regulatórias promovidas no fim do ano passado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) permitiram a qualquer interessado negociar diretamente os mais de 800 BDRs disponíveis hoje na B3, a Bolsa brasileira, que podem ser comprados e vendidos assim como a ação de uma empresa local, mas com uma diferença importante; o BDR está sujeito à variação do dólar frente ao real.
Isso porque seu objetivo é replicar a performance de ações de empresas globais cotadas originalmente em outros mercados, sem que o investidor tenha de remeter o dinheiro para o exterior.
O apelo de investir em ações globais de setores com baixa representatividade no Brasil tem atraído interesse crescente nos últimos meses.
Dados da B3 mostram que, em 2019, eram menos de 3.000 CPFs com registro de BDRs sob custódia na Bolsa. Em dezembro do ano passado, o número havia saltado para 120 mil, chegando a 265 mil em agosto de 2021.
No radar desses investidores, as empresas de tecnologia têm lugar de destaque –dos dez BDRs mais negociados na B3 em agosto, oito deles eram de companhias do setor que costumam marcar presença nas carteiras recomendadas.
NOVOS PADRÕES DE CONSUMO
A ascensão do ecommerce e a disponibilização de diversos produtos em uma única plataforma, somadas à capilaridade e estrutura de entrega, fazem com que negócios como da Amazon se mantenham bem posicionados nos segmentos de varejo online e de digitalização de serviços, beneficiados pelos novos padrões de comportamento e consumo da sociedade, avaliam rem reltório os analistas do Banco Inter.
Já Luiz Gustavo Pereira, estrategista da Guide Investimentos, afirma que a visão e a cultura implementadas por Jeff Bezos na Amazon são uma importante alavanca de crescimento e diferencial competitivo da empresa dentro do setor.
“A Amazon segue como uma das mais diversificadas big techs americanas e com diversas vias de crescimento pela frente, principalmente nos segmentos AWS [Amazon Web Services] e de entretenimento”, diz.
Em relação ao buscador mais famoso da internet, o estrategista destaca o fato de o Google deter 86% de participação no mercado global de meios de pesquisa, além de ter forte influência no segmento de compartilhamento de vídeos, com o YouTube.
“Vemos o Google como uma ação atrativa também por conta de seu valuation razoável e de seus resultados surpreendentes”, dizem os analistas do Safra.
REABERTURA
Além das principais expoentes da tecnologia mundial, com a vacinação aumentando a confiança do mercado quanto à retomada das atividades, negócios com um grau maior de dependência do processo de reabertura aos poucos conquistam seu espaço nas carteiras dos analistas. É o caso dos BDRs de Booking.com e Disney.
Os analistas do BB Investimentos assinalam que o faturamento da empresa de viagens online cresceu mais de três vezes no segundo trimestre, na comparação com o mesmo período de 2020, ainda que o resultado tenha sido prejudicado pelo forte aumento na linha de despesas.
“Verificamos que o índice de ações ligada a ‘reabertura das economias’ do Goldman Sachs, superou maciçamente as ações do tipo ‘fique em casa/tecnologia’ nas últimas semanas”, diz Filipe Villegas, estrategista de ações da Genial Investimentos.
Já os analistas do BTG Pactual destacam declarações recentes do presidente da Disney, Bob Chapek, em que ele reconheceu que a produção de alguns títulos para a TV estava atrasada pelo avanço da variante Delta nos Estados Unidos.
No entanto, o executivo afirmou que a companhia produz simultaneamente centenas de títulos e que somente alguns deles foram impactados.
Os analistas do BTG Pactual fizeram duas trocas na carteira de BDRs para outubro, com a saída de Nike e Pfizer, para a entrada de Starbucks e Chevron.
Enquanto a Nike enfrenta problemas de curto prazo na cadeia de suprimentos global, no caso da Pfizer, a avaliação é que as ações já precificaram todos os possíveis ganhos advindos de doses de reforço da vacina contra a Covid-19.
“Assim, preferimos substituir as duas com investimentos na retomada da economia mundial, com a Starbucks, e em petróleo, no caso a companhia petrolífera Chevron”, dizem os especialistas do banco.
VELHA ECONOMIA
Em um ambiente de volta à normalidade pré-pandêmica ganhando força em diversas regiões, companhias da “velha economia”, como JP Morgan e ConocoPhillips, também têm sido lembradas com recorrência nas carteiras de BDRs.
Os analistas do Safra avaliam que o banco americano está bem posicionado para o aumento da atividade de crédito do consumidor e de pequenas e médias empresas nos Estados Unidos, mesmo em um cenário de juros ainda baixos na região.
“A força no mercado de capitais deve favorecer o banco, por ele ser um dos líderes em subscrição de dívidas e ações, serviços de consultoria e atividades de negociação”, aponta o Safra.
Em relação à ConocoPhillips, que atua no setor de óleo e gás, os analistas do Banco Inter preveem que, impulsionada pelo movimento de alta do petróleo e do gás natural, a companhia deve se recuperar das perdas do ano passado e dobrar o faturamento em 2021, com um avanço de aproximadamente 10% em comparação aos níveis pré-pandemia.
Os analistas do Safra dizem ter aproveitado a forte valorização nas últimas semanas para reduzir a participação da empresa na carteira recomendada, mas que enxergam o setor de petróleo em franca expansão por conta da retomada econômica global.
“As ações [da ConocoPhillips] estão descontadas e mostram boas perspectivas de valorização”, apontam os especialistas.