
A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de manter a Selic em 15% e evitar sinais de afrouxamento para a próxima reunião não elimina a possibilidade de cortes em janeiro. Segundo David Beker, chefe de economia para o Brasil e de estratégia para a América Latina no Bank of America (BofA), o Banco Central pode reduzir juros caso o cenário econômico avance na direção esperada.
No comunicado divulgado após a decisão desta quarta-feira (10), o Copom reforçou a necessidade de cautela diante de um cenário considerado de elevada incerteza.
Durante encontro com jornalistas nesta quinta-feira (11), David Beker comentou o cenário econômico e as projeções para a Selic em 2026. Ele afirmou que o BofA mantém a expectativa de corte em janeiro, mesmo após a incerteza adicionada pelo comunicado do Copom. “Estou com projeção de call para janeiro. Estou menos confortável? Sim, mas não mudei ainda”, disse.
Projeção do BofA
O BofA projeta que o Copom dê início aos cortes em janeiro, com redução de 0,50 ponto percentual. Para o banco, a Selic deve encerrar 2026 em 11,25%, abaixo da mediana do mercado, hoje em 12%. Apesar disso, o patamar previsto ainda supera a taxa considerada neutra.
O comunicado divulgado após a decisão do Copom foi visto por parte do mercado como um “banho de água fria”, já que muitos agentes esperavam um tom mais brando. Mesmo assim, o comitê manteve a estratégia de juros altos “por período bastante prolongado” para garantir a convergência da inflação à meta.
Segundo o Copom, permanecem riscos relevantes, como a desancoragem das expectativas, a resiliência da inflação de serviços e o impacto da combinação das políticas econômica interna e externa.
Comunicado mantém postura conservadora
Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital, afirma que a principal surpresa veio da comunicação. “A manutenção da Selic já era amplamente esperada. A dúvida estava no tom, e ele veio novamente duro”, diz.
Além disso, o especialista destaca que o mercado aguardava alguma sinalização de cortes. O BC, porém, optou por repetir a mensagem conservadora.
“Pelo contrário. O Copom reforçou que os juros precisam permanecer contracionistas por um período prolongado. Assim, na minha visão, a chance de um corte em janeiro praticamente desaparece”, afirma Bolzan.
Rodrigo Marques, sócio e economista-chefe da Nest Asset Management, também viu o comunicado como um freio nas apostas mais otimistas. “O texto reforçou tudo o que o mercado já esperava e, com as projeções do Focus mencionadas, o consenso deve caminhar para cortes apenas em março”, avalia.
Por outro lado, Marques fez uma analogia bem-humorada para resumir a situação:
“O BC acabou sendo o ‘Grinch’ do Natal para quem acreditava numa queda iminente da Selic. A mensagem serviu mais para conter o otimismo do mercado do que para sinalizar mudanças.”