'Todo mundo em pânico'

Bolsas dos EUA caem e influencia mercados; fim do pouso suave?

Os receios sobre a recessão ocorrem em paralelo com o aumento da taxa de juros do Japão, reduzindo “a compra de títulos”, disse analista

Bolsa de Valores/ Foto: Pexels
Bolsa de Valores/ Foto: Pexels

O início da semana foi marcado por uma queda acentuada nas bolsas globais. O movimento foi consequência dos receios sobre uma possível recessão nos EUA, após o país divulgar dados econômicos mais fracos do que o esperado.

Desde meados de 2023, os EUA estavam em busca do “soft landing” (pouso suave), a fim de realmente evitar essa piora na atividade econômica. Mas esse otimismo ficou abalado entre investidores após o país divulgar seus últimos dados do Payroll.

O relatório, divulgado na última sexta-feira (2), apontou para a criação de 114 mil vagas de emprego. O número ficou muito abaixo do esperado pelo mercado. Além disso, o desemprego também piorou, com um avanço de 4,3% ante o crescimento de 4,1% do mês anterior.

A informação agitou os mercados da pior maneira possível. Segundo o chefe-estrategista do grupo Laatus, Jefferson Laatus, os receios sobre a recessão ocorrem em paralelo com o aumento da taxa de juros do Japão, reduzindo “a compra de títulos”.

“Mas vale lembrar que no Japão, o setor que mais caiu foi o setor de tecnologia, que está puxando as quedas mais amplamente mundo afora, principalmente nos Estados Unidos”, disse o especialista ao BP Money.

Em complemento, Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos, disse que, neste cenário, com a perspectiva de juros “muito menor nos EUA e maior no Japão”, o movimento deve ser de saída de capital do resto do mundo em direção ao Japão.

“O iene [moeda japonesa] valorizou mais de 10% em 10 dias. Isso é muito relevante, causando um fluxo migratório de dinheiro para o Japão. Isso gera uma venda global nos EUA e nos países emergentes”, declarou Saadia.

Bolsas dos EUA cresceram sistematicamente, apontou analista

“Se pensarmos só nos EUA, as bolsas norte-americanas subiam há um bom tempo, especialmente a Nasdaq, com as empresas de tecnologia e IA. Havia uma alta sistemática há bastante tempo”, disse ao BP Money o sócio da Matriz Capital Asset, Luiz Rogé.

O especialista acrescentou que o mercado “se perguntava até que ponto essa alta iria”.

“O crescimento abaixo do esperado no nível de emprego nos dados referentes a julho nos EUA acendeu as luzes e detonou esse processo”, disse Rogé.

Rogé, que também é economista e gestor de investimentos, acrescentou que o mercado reagiu muito “rapidamente”. Mas isso não quer dizer que de fato haverá uma recessão nos EUA, até porque o Fed (Federal Reserve), Banco Central dos EUA, está “de olho e vai arbitrar a taxa de Fed Funds” e vai reduzi-la quando achar necessário.

“Ele pode reduzi-la ao patamar que achar razoável para tentar combater a possibilidade de recessão. Não podemos esquecer que o Fed olha a inflação e também o relatório de emprego, que mostrou risco de desaquecimento maior da economia norte-americana”, apontou.

Mercado com aversão ao risco prejudica países emergentes

É de conhecimento geral que um mercado com aversão ao risco é totalmente prejudicial para a economia e as bolsas de países emergentes.

No Brasil, a maior pressão é sobre o setor de commodities, com uma possível redução da demanda. O movimento pode afetar diretamente ações de empresas como a Vale (VALE3) e a Petrobras (PETR4), como explicou Jefferson Laatus, chefe-estrategista do grupo Laatus.

Além disso, com essa aversão ao risco e a forte probabilidade de ações de empresas sofrerem, o sentimento dos investidores fica abalado.

Neste cenário, com a aversão ao risco aumentada, há uma maior probabilidade de venda generalizada de ativos, além da retirada de capital estrangeiro. “Isso pode resultar em quedas nos principais índices brasileiros, como o próprio Ibovespa”, explicou Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos.