O aumento da incerteza fiscal e política no país tem levado economistas a revisarem as projeções para o crescimento da economia brasileira no próximo ano, com previsões que já apontam até para uma recessão em 2022 — no final de outubro. Em meio às discussões sobre o furo no teto de gastos, o Itaú revisou sua projeção para o PIB (Produto Interno Bruto) no próximo ano de expansão de 0,5% para queda de 0,5%.
Na avaliação do Bradesco, embora o cenário traga mesmo riscos importantes, como o político e o relativo ao de racionamento de energia, uma recessão econômica não deve ser esperada. A percepção dos economistas do banco, contudo, vem se deteriorando rapidamente nas últimas semanas.
Segundo Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco, a inflação deve perder força nos próximos meses, em um ambiente no qual ele prevê que as contas públicas seguirão sob controle, e com a reabertura plena permitida pelo avanço da vacinação impulsionando o consumo de maneira apenas moderada frente aos juros mais altos.
“Acho improvável que a inflação saia do controle”, afirmou Honorato, durante apresentação no evento Bradesco Day nesta quarta-feira (10).
Nesta quarta, o IBGE informou que o IPCA teve uma alta de 1,25% em outubro, a maior desde 2002. Com o resultado, a inflação oficial do país chegou a 10,67% em 12 meses.
Apesar dos desafios no horizonte, Honorato disse também que já tem muita coisa negativa nos preços e nas previsões de mercado.
“O endividamento das empresas [com ações listadas em Bolsa] no Brasil está no menor nível em pelo menos 20 anos, isso é um componente que dá conforto para a gente apostar que o país não terá recessão em 2022”, afirmou o economista-chefe do Bradesco.
O banco trabalha hoje com um crescimento ao redor de 0,75% da economia brasileira em 2022, projeção revista em 5 de novembro. Em outubro, o banco já havia revisado de 1,8% para 1,6% a estimativa para o PIB no próximo ano.
No relatório Focus, a mediana das estimativas dos economistas, em queda há cinco semanas, aponta para crescimento de 1% do PIB no ano que vem.
As revisões para o ritmo da atividade econômica à frente vêm na esteira de uma deterioração nas expectativas para a inflação e para os juros -o Bradesco estima agora uma taxa Selic de 10,25% no final de 2022, ante 8,5% no mês passado, com a projeção para a inflação passando no intervalo de 3,8% para 4,5%.
Ainda que as commodities no mercado internacional continuem dando algum suporte aos termos de troca brasileiros e mesmo diante da expectativa de maior aperto monetário por parte do Banco Central, o Bradesco prevê que a moeda brasileira deverá se manter depreciada neste ano e no próximo.
O banco projeta a cotação do dólar a R$ 5,50 no final de 2021, chegando a R$ 5,70 em dezembro de 2022. “O Brasil deve ter uma performance relativamente pobre em relação ao resto do mundo [em 2022]”, afirmou Honorato.