Um levantamento do TradeMap apontou que a inflação acumulada nos EUA, medida pelo CPI-U, no final de 2022, foi de 6,45%, valor superior aos dois principais índices de inflação no Brasil: o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA), que foi de 5,78%, e o Índice Geral de Preços – Mercado (IGPM), de 5,45%. Para economistas consultados pelo BP Money, a combinação de fatores, externos e internos, irão ditar o caminho da economia brasileira em 2023, mas é possível que o Brasil ainda cresça mesmo com uma recessão lá fora.
Para Ahmed El Khatib, coordenador do Instituto de Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), a desaceleração externa deverá afetar negativamente o Brasil, mas a situação do país é diferente da observada na maioria dos países desenvolvidos e em muitos emergentes.
“O ciclo de aperto monetário, iniciado há um ano e meio pelo Banco Central, parece já ter chegado ao fim e a discussão passa a se concentrar em quando o BC poderá iniciar a redução da Selic. A inflação está em queda, bem como suas previsões; o nível de atividade vem surpreendendo positivamente e as projeções de crescimento para 2022 vêm sendo revistas para cima”, explicou o professor da FECAP.
Mauricio Nakahodo, economista sênior do banco MUFG Brasil, apontou que é possível que o Brasil cresça mesmo com uma recessão atingindo grandes economias, já que a economia brasileira ainda é muito fechada ao observar o peso das exportações e importações no Produto Interno Bruto (PIB).
“O consumo das famílias tem um peso de 63% no PIB, e por isso é possível crescer mesmo com outras economias ‘patinando’. Ocorre que as perspectivas para o consumo neste ano não são tão favoráveis diante do crédito apertado, endividamento elevado, inflação ainda elevada, e uma geração de empregos que não deve ser tão sólida em 2023”, explicou Nakahodo.
Mesmo assim, na visão do economista do MUFG, olhando para os próximos anos, se espera um crescimento econômico a taxas mais elevadas, acreditando que o governo irá promover medidas que coloquem as contas públicas em uma trajetória de maior equilíbrio, o que dará maior confiança ao investidor local e estrangeiro. “Além disso, há boa expectativa para aprovação de alguma versão da reforma tributária que pode unificar alguns impostos e tornar o sistema tributário um pouco menos complexo”, apontou.
A economia brasileira está à frente da norte-americana?
Mesmo com um ciclo de aperto monetário mais próximo ao fim no Brasil, para os economistas, não é possível dizer que o Brasil está à frente da vista nos EUA, já que tratam-se de economias em estágio de desenvolvimento muito diferentes.
Na visão do professor da FECAP, a principal delas é no mercado de trabalho: “Enquanto os americanos vivem um cenário de pleno emprego, o Brasil ainda tem mais de 13 milhões de desempregados. Não dá para falar, portanto, que estamos melhores do que os EUA, porque o desemprego aqui no Brasil ainda está muito alto”, disse El Khatib.
Já o economista do MUFG ressaltou que a inflação brasileira só ficou abaixo de 6% por conta do corte de impostos sobre combustíveis, energia e telecomunicações, anunciado em meados do ano passado, e que gerou alguns meses de deflação. Segundo ele, se não fossem medidas pontuais sobre poucos itens, o Brasil teria fechado o ano de 2022 com uma inflação muito mais elevada, em torno de 9%.
“Vale notar que os preços de combustíveis mostraram recuo de quase 24% no ano passado inteiro, aliás não só por conta do corte de tributos, mas também com o recuo dos preços de petróleo durante boa parte do ano passado. E os preços de energia elétrica recuaram 19%”, explicou Nakahodo.
Dessa forma, El Khatib afirmou que não é possível dizer que a economia no Brasil está melhor do que a americana. “Precisamos analisar outras características dos dois países, como moeda forte, grau de industrialização, balança comercial, dívida externa, entre outros. Em diversos itens, na maioria eu diria, levamos uma goleada dos americanos”, disse.