Brasil lidera mercado global de carros blindados

O Brasil conquistou uma liderança inusitada no mercado global: tornou-se o maior produtor mundial de carros blindados. O país fabrica quatro vezes mais unidades que o México, segundo colocado no ranking. Atualmente, o setor movimenta R$ 3,5 bilhões por ano e projeta crescimento de 33% nos próximos dois anos.

Esse avanço chama atenção não apenas pelo volume, mas também pela velocidade da expansão. O crescimento do mercado está diretamente ligado ao aumento da sensação de insegurança nas grandes cidades brasileiras. Vídeos de assaltos em semáforos e congestionamentos circulam com frequência em redes sociais e grupos de WhatsApp.

Como consequência, o medo se transforma em demanda por proteção balística, acelerando a procura por veículos blindados.

Atualmente, cerca de 400 mil carros blindados circulam pelas ruas do país. São veículos comuns como Toyota, BMW, Jeep e Volkswagen adaptados com vidros e revestimentos à prova de balas.

Além disso, a produção segue em ritmo acelerado. Em 2024, o volume cresceu 17%, alcançando 34.402 unidades. Para este ano, a expectativa do setor é chegar a 40 mil veículos blindados.

Queda de preços amplia o acesso

Outro fator decisivo para a expansão foi a redução dos custos. Na última década, o preço dos sistemas de blindagem mais populares classificados como nível III-A pelo Exército caiu cerca de 25%.

Hoje, é possível blindar um veículo por valores entre R$ 80 mil e R$ 100 mil, o que tornou a proteção viável para uma parcela maior da classe média.

O processo de blindagem evoluiu significativamente desde os anos 1990, quando a indústria começou a se desenvolver em resposta à onda de sequestros. Naquela época, os materiais de aço eram pesados e comprometiam a dirigibilidade.

Atualmente, porém, empresas nacionais produzem vidros balísticos e painéis poliméricos, que preservam o design e o desempenho original dos veículos. Dessa forma, a tecnologia brasileira ganhou competitividade internacional.

Brasil vira fornecedor global

Essa expertise transformou o país em fornecedor global. A Carbon, maior fabricante nacional, blinda até 700 carros por mês. Além disso, mantém parceria com a Volvo para fornecer veículos blindados à Europa, ao Oriente Médio e à América Latina.

Assim, o setor passou a exportar tecnologia e produtos de alto valor agregado.

O boom da blindagem também abriu espaço para novos serviços. Em São Paulo, por exemplo, a startup Rhino criou um aplicativo de transporte que utiliza exclusivamente veículos blindados.

Fundada em 2024, a empresa já soma 300 mil usuários cadastrados e opera com frota própria e motoristas treinados em segurança.

Setor se organiza e atrai investidores

Segundo a Abrablin, mais de 200 empresas no Brasil são certificadas para realizar o serviço de blindagem. Além disso, o país sediou neste ano a primeira feira do setor, em São Paulo.

O evento atraiu interesse de empresas da Europa, dos Estados Unidos e de outros países da América Latina, reforçando o apetite internacional pelo mercado brasileiro.

Para brasileiros que passam quase duas horas por dia no trânsito, a blindagem deixou de ser luxo. Com 80% dos moradores urbanos afirmando ter medo de circular pela própria cidade, o carro blindado virou mais uma camada de proteção.

Assim como muros, cercas elétricas e câmeras nas residências, a blindagem automotiva passou a integrar a rotina de segurança nas grandes cidades.