Depois que o presidente dos EUA, Donald Trump, intensificou ainda mais sua política tarifária na última semana, as retaliações da China levaram ao início de uma guerra comercial. Nesse ambiente, Roberto Campos Neto, ex-presidente do BC (Banco Central), afirmou que o Brasil não é um “grande problema nesse mundo da guerra comercial”.
“O Brasil tem adotado uma postura em relação a isso bastante neutra e tentado conversar. A relação entre o Brasil e os EUA não tem nenhuma grande assimetria, que chama atenção nos EUA”, disse Campos Neto, durante seu discurso no Advance: Investindo para o Amanhã, nesta sexta-feira (11).
“O Brasil tem feito um bom trabalho, e eu acho que o Brasil não é foco, vamos dizer assim, do problema que os EUA enxergam, onde ele tem um tratamento assimétrico”, acrescentou.
O economista prosseguiu sua análise falando sobre a ideia de reciprocidade defendida por Trump, que divulgou uma tabela indicando o quanto de tarifas os outros países cobram dos EUA.
“Olhando a tabela e você falaria ‘não, isso aqui não tem nada a ver com reciprocidade’. O peso da tarifa foi dado pela relação da balança comercial de um país com o outro. Isso não tem nada a ver com nada que já tenha sido falado no passado, gerou muita confusão, inclusive em mim”, afirmou Campos Neto.
Em sua visão, a comunicação do plano está “muito ruim”, gerando confusão e afetando a credibilidade da economia norte-americana.
“No caso do Brasil, estamos com uma postura construtiva, positiva. Precisa entender o que vai ser o objetivo final, existe uma confusão em relação ao objetivo final. Acredito que é mais específico dos EUA para a China”, completou.
‘Temos uma nova ordem global’, diz Campos Neto
Em um momento tomado por preocupações e incertezas quanto ao andamento da economia mundial, enquanto os EUA e a China se enfrentam em uma guerra comercial, o ex-presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, afirmou que “depois de Trump, temos uma nova ordem global”.
O economista tentou, durante seu discurso no Advance 2025: investindo para o amanhã, que ocorreu nesta sexta-feira (11), “encontrar uma lógica” para a política tarifária do presidente dos EUA, mas teve dificuldades.
“O que significa isso, essa guerra tarifária? Vou fazer um esforço muito grande para tentar achar alguma lógica no que está acontecendo. Não sei se vou conseguir. Tentei olhar todos os tratados comerciais do passado e se alguma coisa conseguia identificar como se fosse lógico. E algo aparece em vários tratados, desde a Segunda Guerra Mundial, o Plano Marshall”, disse Campos Neto.
Em sua explicação, o executivo detalhou o que foi o plano de reconstrução após a Segunda Guerra Mundial, onde os EUA aceitaram acordos com condições de tarifas não recíprocas, com o objetivo de tornar o dólar a moeda mais circulada, visto que ela seria usada no comércio.
Além disso, o ex-presidente do BC também comentou sobre a extensão do tarifaço de Trump para uma guerra comercial entre os EUA e a China, o que, no seu entendimento, se trata de uma tentativa dos norte-americanos de isolarem o país asiático.
“Vemos que está acontecendo nos últimos tempos. Se isso vai funcionar ou não, acho que ainda temos cenas do próximo capítulo”, acrescentou.